Tudo o que mexe em Portugal é, de imediato, engolido pelo estado.
Com o nosso voto autorizamos que o governo decida por nós mas também exigimos que instituições independentes façam o controlo da actividade política. Que fazem os governos? Colocam nas instituições "independentes" pessoas da sua cor ou pessoas que vão para a rua na primeira tentativa de independência.
Votamos em deputados que, segundo a constituição, são independentes e só respondem perante o povo que o elegeu. Que fazm os governos? Convertem a Assembleia da República numa carneirada que se levanta e se senta à voz de quem devia controlar. O partido que suporta o governo.
E todas as formas de partipação da sociedade civil previstas na Constituição, ao nível, local, regional e nacional estão há muito dependentes da vontade partidária, desde logo porque para se porem em prática têm que pedir licença ao Estado ( seja ao Presidente, à AR, ao Governador civil da área...)
Isto é, os governos através dos partidos reservaram para si o poder decisório e amordaçaram o poder de controlo.Os governos passaram a confundir-se com o estado!
Como é que se esbate o poder representativo e se aumenta o poder participativo?
Para além das organizações patronais, profissionais, sindicais há que avançar com as organizações "espontâneas" dos cidadãos como se viu na recente "geração à rasca" cuja manifestação centralizou a discussão num grupo cada vez mais alargado de cidadãos de que ninguém falava e, que ,pura e simplesmente, não tinha direito nenhum. A partir de agora nenhum partido se atreve a esquecer-se de um milhão de cidadãos que não têm emprego.
Veja-se que esta manifestação foi mais do que uma vez acusada como "partidarizada" numa tentativa, de a liquidar no ninho. O mesmo se passou com a revolta da sociedade civil nos países árabes, aproveitadas de imediato para serem carimbadas de "cowboiadas", sujas do petróleo,ou de ungidas pelos radicais religiosos.
Melhorar a participação dos cidadãos através das petições e referendos tornando-os mais simples e mais frequentes ( a tecnologia que permite a gestão da conta bancária à distância, levantar e depositar dinheiro, a Internet...) já põe esta possibilidade de forma segura ao alcance da democracia.
A questão é que a sociedade civil pensa que só tem motivos para "participar" quando há muito está a ser esbulhada e só se manifesta em casos extremos de privação. Veja-se o que se passa nos debates políticos para as legislativas a decorrer em Portugal. Discute-se a Troika, a perda de independência, a vergonha perante os outros países que nos gozam, a humilhação de andarmos a pedir, mas ninguém mete a mão na consciência e pergunta a si próprio: mas como é que eu deixei que a situação chegasse a este estado miserável e vergonhoso e não me indignei a tempo?
E se quisermos ser honestos aí temos bastas razões para nos envergonharmos: porque colocamos o interesse partidário acima do interesse nacional, porque gostamos de um governante que nos conta histórias que gostamos de ouvir, porque nada de muito importante e grave ainda nos bateu à porta.( mas já bateu à porta de 600 mil pessoas que estão desempregadas e vai bater à porta de mais 300 mil e os 2 milhões de pobres que vêm do fascismo continuam pobres).E, nós, vamos empobrecer nos próximos 10 anos. Todos sabíamos isto mas foram raros os que apontaram que o rei ia nu...
E, assim,com esta falta de solidariedade para com os mais fracos não chegaremos nunca a uma democracia participativa!