PS, PCP e BE com a ajuda preciosa das selfies do Presidente da República querem resolver os problemas da floresta portuguesa com uma campanha contra os eucaliptos. A única fonte de rendimento dos proprietários e a matéria prima de uma importante indústria exportadora.
Nessa profissão de fé entram, como é óbvio, muitas intuições e pouca razão, alguma emoção e nenhuma ciência. O Bloco, o PCP e o PS querem que os produtores arranquem as únicas árvores que lhes dão algum dinheiro porque acreditam na vitória do ecologismo radical nascido da necessidade de os portugueses explicarem a devastação dos fogos do ano passado. Com os silvicultores, os académicos e a indústria cobardemente calados perante a gritaria condenatória, a nova religião alastrou, contagiou o Presidente e chega agora ao Parlamento.
Nos anos 70 trabalhei numa empresa que era a central de compras de material lenhoso para as celuloses e de que estas eram as únicas accionistas. Já ardiam florestas e tal como agora as florestas das celuloses não ardiam. A grande discussão nessa altura é que era o eucalipto quem bebia a água toda existente na terra e arrasava com o resto das espécimes locais.
Estiveram cá uns técnicos suecos a ensinar-nos como se explorava o eucalipto. Plantar, limpar, cortar, rechegar, descascar e transportar.
E olhavam para a nossa floresta e diziam. Meus caros sem uma conta de exploração positiva isto mais tarde ou mais cedo é abandonado. Isto era, evidentemente, a floresta não tratada, embora melhor tratada nessa altura do que nos dias de hoje. A desertificação do interior não tinha a dimensão de hoje .
De vez vem quando vou a Castelo Branco e não é preciso muito para ver ao longo da autoestrada as florestas das celuloses, alinhadas, limpas e viçosas a constratarem com o negro da floresta ardida vizinha. Vê-se bem que a floresta bem tratada serviu de "stop" ao incêndio que lavrou por ali.
Um eucalipto (" eucaliptus globulus") cá na nossa terra cresce em 8/10 anos lá em cima no norte da europa de onde emigraram para Portugal - acompanhando a deslocação das fábricas de celuloses- precisam de 12/14 anos. O problema é que as boas práticas florestais não acompanharam o eucalipto. Originalmente o eucalipto foi importado da Austrália.
Não vale a pena seguir pelo caminho mais curto e mais fácil atribuindo ao eucalipto a raiz de todos os males. Se o Estado juntamente com o poder local não conseguirem ordenar a floresta, juntá-la, limpá-la e transformá-la numa conta de exploração positiva a floresta vai continuar a arder.
O resto é ideologia e rancor às empresas de celulose que ganham dinheiro e criam emprego. Não se esqueçam de afastar da equação o factor mais importante nessa conta de exploração que tem que ser positiva.
Ardeu 1% da área total da floresta propriedade das fábricas de celulose numa década e a razão é simples. Porque a floresta é limpa, tratada e vigiada.
Em 2015, último ano em que existem dados definitivos, dos mais de 200 mil hectares geridos, apenas 0,4% ou cerca de 750 hectares, arderam, o que, referiu à agência Lusa, "reforça a evidência de que uma floresta bem gerida é menos vulnerável ao risco de incêndios".
A força de prevenção e combate a incêndios Afocelca ( empresa de combate aos incêndios constituída pelas celuloses) é constituída por três helicópteros ligeiros - cada um com uma equipa de combate helitransportada de cinco sapadores florestais -, 38 unidades de prevenção e vigilância, compostas por três sapadores, com equipamento de primeira intervenção, e 18 equipas de combate terrestre com seis elementos operacionais num veículo semipesado.
Entre os trabalhos de prevenção de incêndios realizados ao longo de todo o ano, estão desmatamento, controlo de vegetação, limpeza de caminhos e aceiros ou manutenção e construção de rede viária e divisional das propriedades.
Enfim, faz tudo o que é necessário para que não hajam ignições ao contrário do Estado que deita dinheiro para cima do fogo. E pasme-se, com somente 400 técnicos. Só em Pedrógão Grande havia 2 000 bombeiros. Isto mostra à evidência que as políticas públicas seguidas são uma aberração.
Porque fazem parte de uma conta de exploração positiva. De um cluster que vai desde a plantação à produção de papel. Pelo meio temos técnicas de plantação, prevenção de incêndios, meios próprios de ataque, vigilância permanente. Limpeza de matas. Acessos fáceis. Água suficiente e à mão.
O contrário das matas que ardem a maioria das quais não conhecem dono. Um dia li que todo um eucaliptal tinha sido roubado. Para cortar, rechegar, descascar e transportar são necessárias máquinas pesadas e mesmo assim ninguém viu nem ouviu. Quer dizer a mata estava ao abandono podia arder à vontade que só se dava conta quando fosse tarde demais. Porque um incêndio atacado no seu inicio tem largas hipóteses de ser apagado depois é deixar arder controlando os prejuízos.
É o que vemos nas televisões. Incêndios em pleno desenvolvimento a lavrar há horas. Pode-se ter inúmeros meios terrenos e aéreos que nunca serão suficientes para travar um incêndio que avança a 100 kms/hora. No inicio avança a 20 kms/hora. Quando são atacados no início não aparecem nas televisões.
Haverá sempre uma certa porção de arvoredo que arderá todos os anos, mas a média e grande floresta arde por razões que são mais que conhecidas. A primeira é não fazerem parte de um negócio onde haja partes interessadas. As coisas são como são.