O Estado não se cansa de se meter na vida dos cidadãos. Agora quer ocupar as casas dos privados que estão desabitadas. Como se o Estado não tivesse, ele mesmo, milhares de casas desabitadas, bem como as câmaras, Misericórdias, bancos e companhias de seguros.
Há quarteirões inteiros desabitados na baixa de Lisboa há espera de negócios, mas nesses ninguém mexe nem são razão para afastar a população do centro da cidade.
Numa rua estreita ali para o Príncipe Real estavam ao abandono várias velhas casas. Com o alojamento local, todas (todas!) foram compradas aos proprietários que não tinham condições financeiras para as reabilitar . Gente humilde e idosa que viviam de pequenas pensões. Bem vi as lágrimas da idosa a quem comprei a casa, há muito que tinha perdido a esperança de fazer algum dinheiro com a velha casa herdada dos país e assim, ter um melhor fim de vida.
Mas o que nós ouvimos e lemos são os mesmos de sempre que têm sempre soluções prontas usando o dinheiro e a propriedade dos outros.
Já agora, não é altura da arquitecta Roseta ir para casa ? É que há 40 anos que anda a viver à custa dos nossos impostos e agora quer tirar-nos as casas.
E aquela ideia do leilão de rendas que chegou a atingir 700 euros por um T1 ? Ninguém lhe diz que faltando casas sobem os preços ? Aumenta a procura a oferta não chega vamos ao bolso dos cidadãos.
Há, de certeza casos de "sem abrigo" que ocupariam casas devolutas e fariam delas o seu abrigo. Mas não me parece que seja essa a solução para a maioria. Sem acompanhamento técnico e social a maioria dos sem abrigo não é capaz de fazer de uma casa vazia um lar. É tudo bem mais difícil do que o título do Público dá a entender " Um milhão de casas vazias e há cada vez mais sem abrigo". Seria bom que uma pequena parte dessas casas ( sim, porque bastaria uma pequena parte) resolvesse essa chaga social.
Parece inaceitável que o Estado, as câmaras e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não tenham uma bolsa de habitação social para, de imediato, acolher quem fica sem tecto.
De acordo com a Estratégia Nacional, ninguém deve ser obrigado a ficar na rua mais de 24 horas. Vigora alguma resistência ao acompanhamento social, sobretudo, entre pessoas com problemas de saúde mental, de consumo excessivo de álcool ou outras drogas, indica Vanda Coelho, assistente social da Associação para o Planeamento da Família. Há quem já esteja há anos de rua. Um homem a quem foi atribuído um quarto de pensão dormia no chão nos primeiros tempos. É bem mais complexo do que encontrar casas devolutas e meter lá dentro pessoas pessoas que desistiram da vida.
Atribuídas a políticos e a funcionários e a gente que anda sempre a gritar contra as injustiças e a redução do estado social. Vivem muito melhor que a maioria mas habitam residências com rendas simbólicas. É por isso que já há por aí uma onda de indignação contra a lei que estabelece a publicação dos beneficiários.
A estes casos 'normais' juntaram-se esta semana notícias de vários funcionários, jornalistas e autarcas que receberam - sem explicação - casas camarárias. O 'Lisboagate' está a ser investigado por suspeita de favorecimentos ilícitos e chegou mesmo à actual vereadora da Habitação, Ana Sara Brito, que apesar de ser enfermeira de profissão, viveu 20 anos numa casa da CML, no centro de Lisboa, com uma renda de menos de 150 euros.