Miguel Sousa Tavares : ...e porque quando as coisas começaram a fiar fino e sentiu o cheiro a pólvora, soube respaldar-se em jornalistas influentes, a quem passava informações a troco da construção do perfil de guardião impoluto do sistema bancário.
Isto durou até agora, até se saber que também ele tinha estado do outro lado da barricada, do lado indesmentívelmente feio da história.
Carlos Costa como ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos está a ser investigado no âmbito do processo a correr na Assembleia da República. Há só que esperar pelos resultados.
Mas o BE tem pressa em considerar Carlos Costa culpado uma forma eficaz de retirar credibilidade a um dos principais intervenientes do processo em que está envolvido Ricardo Salgado. Se os outros partidos forem na conversa será um Carlos Costa completamente descredibilizado que se apresentará perante a Justiça.
O BE há muito que nos habituou a um oportunismo folclórico, populista, na ânsia de mostrar trabalho . Infelizmente na maioria dos casos o que apresenta é uma falta de trabalho de casa perigoso. Nalguns casos roça o rídiculo .
O BE foi o primeiro a exigir a cabeça de Carlos Costa a pretexto das novas revelações sobre a Caixa. Muitas vozes se lhe juntaram num aparente desejo de justiça. Mas não é nada disso. Por mais voltas que se queira dar ao que Carlos Costa fez ou deixou de fazer, um facto é inegável: foi ele o agente direto da queda de Ricardo Salgado que era há muito o verdadeiro dono de Portugal aquém e além da banca. Ao fazê-lo revelou uma coragem que poucos teriam nas mesmas circunstâncias. E, claro, gerou uma animosidade que só tem crescido com os desenvolvimentos conhecidos das investigações criminais em curso. É neste contexto que devemos inserir a ação do BE. Para a estratégia de defesa de Salgado é fundamental que Carlos Costa esteja desacreditado e vencido quando chegar a hora do julgamento. Assim, o principal beneficiário deste esforço de imolação precoce do Governador do BdP são Ricardo Salgado e os seus cúmplices. Dolosamente ou não, o BE está-lhes a fazer um tremendo favor. Mas a infelicidade do BE não se fica por aqui. Está a iniciar-se uma nova Comissão de Inquérito à Caixa. Pelos vistos, o BE quer antecipar as suas conclusões e condenar responsáveis antes de estes serem ouvidos. O costume, portanto, é o BE a ser BE. Mas os partidos responsáveis têm de ser firmes e não ceder a este populismo manipulado nas sombras. Nomeadamente o PSD. O meu partido tem de se afirmar orgulhoso da sua história recente, saber estar à altura da atitude de Passos Coelho neste caso de regime, desmascarar os conluios escondidos que continuam a subsistir em todo o mundo da política e de que quase ninguém suspeita. E aproveitar bem a CPI para isso.
Chega a ser desesperante a facilidade com que no nosso excelente país à beira-mar plantado se acusa a polícia esquecendo os ladrões. Foi assim com Constâncio e o BPN; volta a ser com Carlos Costa e o BES. Pode dizer-se que nenhum dos governadores cometeu erros? Claro que ambos os cometeram, mas a questão aqui é outra: quem não os cometeria? Conhecem alguém? Acham que o Dr. Carlos Carvalhas, o Professor Louçã, o Dr. Eugénio Rosa ou a Drª Mariana Mortágua estariam bem no lugar?
Quem enganou os clientes do BES foi Ricardo Salgado. Quem enganou os clientes do BPN foi Oliveira e Costa. Não se pode acusar nem os governantes da altura nem o Banco de Portugal. Foram incompetentes ? Foram. Mas não são os culpados. É por isso muito grave que o Primeiro Ministro acuse o governador Carlos Costa. Quere-o fora do banco central ? Não pode fazer nada a não ser exercer pressão.
Talvez António Costa perceba agora a posição de Cavaco Silva que contra vontade teve que lhe dar posse como primeiro ministro . Há que cumprir a lei . Toca a todos.
Quando o primeiro-ministro, António Costa, vem acusar o governador do BdP, Carlos Costa (que não conheço de nenhum lado) de “não ter um comportamento responsável”, é grave. É algo que nunca se viu. E não vejo outra razão para ter acontecido salvo o desejo de agradar ao grupo dos lesados, nem que para isso seja necessário lesar os contribuintes.
António Costa não olha a meios para beneficiar clientelas no sentido de lhes sacar os votos. Há quem o ache um estadista por ter talento para a golpada.