Onde o mais indigente vive com mais conforto do que alguma vez na história da Humanidade
Se assim não for, hordas de radicais das ideologias – das colectivistas às nacionalistas, da esquerda à direita –, que começam já a mostrar as garras, declararão os óbitos e escreverão apressados epitáfios ao capitalismo, ao globalismo e à democracia liberal. Os mesmos capitalismo, globalismo e democracia liberal, que nos permitem enfrentar, com um conforto sem par na história da humanidade, esta ameaça. Os mesmos que nos permitem ter uma fé inabalável na ciência para a descoberta de uma vacina e de medicamentos que mitiguem os sintomas desta doença e das próximas. Os mesmos que nos permitem esperar uma mobilização da indústria para fabricar ventiladores e equipamentos de protecção individual. Os mesmos que nos garantem uma cadeia de distribuição para que não nos faltem alimentos e papel higiénico (!) em casa. Os mesmos que nos permitem exigir verdade na apresentação de factos. Os mesmos que nos asseguram escrutínio público das medidas tomadas e das consequências das mesmas. Os mesmos que nos forneceram a tecnologia que nos permite estar em contacto permanente com os que amamos e agora se encontram à distância. Os mesmos que nos libertaram para rir no meio do medo. Os mesmos que nos forjaram na convicção moral de que todos, independentemente da sua condição, merecem protecção; e que quando assim não é justamente nos permitem a indignação.
Não foram os países autoritários ou autocráticos, nem colectivistas ou socialistas, nem nacionalistas e fechados ao outro, que nos entregaram este mundo livre, próspero e confortável em que vivemos. Com falhas seguramente. Com margens de indignidade ultrapassadas seguramente. Com desequilíbrios no uso dos recursos naturais seguramente. Mas onde nunca tantos viveram tão bem e tantos aspiraram legitimamente viver melhor. Onde, para recuperar uma formulação antiga, o mais indigente vive com mais conforto que em qualquer outro período da História.
Foi com muita pena que fiquei a saber hoje que o jornal Defesa de Espinho irá suspender actividade durante as próximas semnas. Mais uma vítimia colateral do virus. Na sua penúltima edição, de 13 de Março, ainda a pandemia estava no seu início em Portugal, escrevi este artigo:
Corona e a globalização
Ainda não sabemos como evoluirá o COVID-19. É uma situação nova, o sistema de saúde do país já sofria com falta de capacidade antes, faltando-lhe capacidade em excesso para absorver situações excepcionais e esta pode vir a ser uma situação excepcional de grande magnitude. Por outro lado, escaldados por histerias passadas, muitas pessoas estão, compreensivelmente, a desvalorizar os riscos o que pode vir a agravar a situação. A quantidade de falsas informações que vão passando nas redes sociais também não ajuda. Eu sou crítico do atual modelo de gestão de saúde do país, mas esta é a pior altura para o discutir. Mal ou bem, serão os atuais governantes a gerir esta situação e apenas teremos que torcer para que o façam da melhor forma possível. No final cá estaremos todos (espero eu) para avaliar. Mas só no final.
É, no entanto, uma boa altura para fazer uma reflexão sobre a globalização. Este vírus teve origem na China e espalhou-se pelo resto do Mundo em parte graças à globalização e à circulação livre de pessoas. Apesar dos cuidados, chegou rapidamente a outras partes do Mundo. Será muito fácil por isso culpar a globalização e assumir o discurso nacionalista da necessidade de fechar o país ao estrangeiro. Não faltarão oportunistas a aproveitar esta situação para discursarem contra o capitalismo e a globalização. Nada mais errado.
Em primeiro lugar, a existência de pandemias é algo muito antigo. Embora a transmissão pudesse ser mais lenta sem a atual liberdade de circulação de pessoas, as epidemias no passado raramente conheceram fronteiras. Há 100 anos, sem aviação comercial, sem livre circulação e com fronteiras ainda fechadas devido à primeira guerra mundial, a “gripe espanhola” espalhou-se por todo o Mundo e matou entre 50 e 100 milhões de pessoas. Bem antes disso, a Preste Antonina atingiu todo o Império Romano tendo contribuído para o início do seu descalabro. Quando uma epidemia deste tipo aparece, com ou sem globalização, será sempre muito difícil de travar.
Em segundo lugar, porque foram a globalização e o capitalismo que permitiram que hoje tenhamos o desenvolvimento económico para enfrentar a situação com outras armas. Mesmo nos piores cenários ninguém espera que morram mais de 50 a 100 mil pessoas em todo o Mundo com o COVID-19. Há 100 anos morreram 1000 vezes mais pessoas com a gripe espanhola. O progresso proporcionado pelo capitalismo permitiu-nos garantir acesso a bons cuidados de saúde a uma parte maior da população e acabar com uma boa parte da pobreza extrema onde as epidemias têm efeitos mais perversos. A globalização do acesso a informação permite que hoje mais pessoas saibam o que devem e não devem fazer. Mesmo que muitas optem por ignorar essas informações, pelo menos têm acesso à informação. Também os estados, sabendo o que aconteceu noutros países sabem melhor o que devem fazer. Em Portugal, por exemplo, decidiu-se fechar um conjunto de instituições quando ainda só havia algumas dezenas de casos confirmados e nenhuma morte. Sem saber o que se tinha passado noutros países, e a importância de agir cedo, nunca tais medidas seriam tomadas e hoje as consequências seriam ainda mais graves.
Finalmente, outro fator muito importante: a diversificação do risco em resultado do comércio internacional. Numa sociedade fechada um vírus deste tipo causaria mortes diretas, mas também muitas mortes indiretas. Morreriam pessoas produtivas, campos agrícolas ficariam sem mão de obra, ao abandono, o que faria com que muitas mais morressem de fome e subnutrição. Uma epidemia numa região fechada ao comércio internacional ditaria muito rapidamente uma fome generalizada que poderia causar tantas ou mais fatalidades do que a epidemia em si. Nós hoje podemo-nos dar ao luxo de parar regiões inteiras, fechar todas as unidades produtivas e ainda assim não faltarem produtos essenciais nos supermercados. Hoje podemos ter epidemias sem fome e, tirando casos pontuais, praticamente sem escassez de produtos essenciais. Isto só é possível por termos uma economia globalizada em que o bem-estar de uma região não é sensível a perturbações temporárias na sua capacidade de produção.
Não faltará quem tente culpar a globalização e o capitalismo por mais esta crise. Normalmente, serão as mesmas pessoas que acusam a globalização e o capitalismo de todos os males do Mundo, dando já por adquirido tudo aquilo que beneficiaram destes dois movimentos, e ignorando que esses benefícios estão longe de ser dados adquiridos e podem ser destruídos rapidamente. Esta pandemia já é, e pode ser ainda mais, trágica, mas temos a sorte de enfrentá-la com uma capacidade que nunca tivemos antes. Será certamente muito menos trágica do que seria se não beneficiássemos dos proveitos da globalização e do capitalismo.
Os CEO andam preocupados. A violência que atinge neste tempo certos sectores da sociedade pode vir atingir com igual violência os milionários. Nos USA começa-se a redefinir o papel da empresa na sociedade. Esta deixaria de ter por fim apenas ou principalmente a maximização do lucro acionista, para passar a atender em primeira linha aos interesses de clientes, empregados, fornecedores e comunidades. Só depois viria o lucro acionista e, aliás, "de longo prazo". É o "stakeholder capitalism", o capitalismo de todas as partes interessadas.
Já em 2014, a insuspeita Lady Lynn Rotschild tinha convencido Christine Lagarde e o príncipe de Gales, entre outros, a constituírem o que veio a designar-se por "The Coalition for Inclusive Capitalism". "Se não adotarmos esta solução (capitalismo inclusivo), bem podemos contar com a substituição do capitalismo por algo muito pior", escreveu então Lady Rotschild.
O que os CEO da Business Roundtable detetaram foi uma ameaça sistémica que pode vir a atingi-los com a mesma violência que assume hoje a raiva contra os imigrantes ou a globalização. Não parece muito provável que estes beneficiários primeiros da ordem neoliberal se tenham convertido subitamente em apóstolos desta espécie de capitalismo de rosto humano defendido pela sua associação. Mas os tempos não estão para hesitações. Eles melhor do que nós entendem a crise de legitimidade ética e social que as políticas e as práticas do capitalismo contemporâneo engendraram. Se os CEO deste mundo, em vez de alinharem a sua missão exclusivamente pelo interesse dos acionistas, passarem a ter em conta também os interesses dos restantes cidadãos e das comunidades, isso será uma enorme derrota para a semicentenária cartilha neoliberal.
Pela sua natureza o homem pensa primeiro no seu benefício mas como todos os homens pensam da mesma forma isso formata o interesse de todos. É o capitalismo
O principal objectivo de uma pessoa, numa ordem capitalista, é preocupar-se com o seu próprio bem? É. Mas isso é algo que a pessoa só consegue porque todas as outras pensam da mesma forma, competindo com desígnios contraditórios ou confluentes, e assim ajudando-se ou moderando-se mutuamente. Com todos os seus problemas, as sociedades liberais capitalistas foram sempre aquelas em que o progresso da qualidade de vida foi maior. A Humanidade descobriu uma forma de ir domando a sua natureza - imperfeita, falível e conflituosa - e de a ir determinando em boa direcção.
Entre o negacionismo reacionário e o anticapitalismo primário, há-de haver um meio-termo civilizado na protecção do planeta. E esse meio-termo não há-de estar dependente do fim do crescimento económico, mas da reorientação do crescimento, nas políticas públicas e nas opções privadas, segundo pressupostos de sustentabilidade.
A solução para a emergência ambiental não está em refrear a criatividade natural do ser humano, nem numa demanda impossível contra o nosso egoísmo intrínseco. Está na nossa liberdade e na nossa infinita capacidade de inovação tecnológica. Determinada, é claro, pelo desejo permanente de melhorarmos a nossa condição. O que salvará o planeta é o capitalismo.
Todas as grandes fraudes envolvem o Estado e grandes empresas.É compreensível que assim seja. É o Estado que decide e adjudica os grandes negócios em praticamente todos os sectores económicos.Como se pode ver em Portugal : PT, BES, CGD, BCP...
O Estado decide sobre a aplicação de 50% do PIB ( 100 mil milhões)da dívida pública ( 120% do PIB =240 mil milhões) e sobre os subsídios europeus ( 9 milhões de euros por dia nos últimos 20 anos = 60 mil milhões). Quando se junta tanto dinheiro e tanto poder é fácil concluir que a atração é fatal.
As grandes empresas estão a destruir o capitalismo e os reguladores pouco ou nada fazem.O Estado tem por obrigação de facilitar a vida às pequenas e médias empresas, essas sim que representam 80% do emprego e 60% das exportações. As grandes empresas vivem à sombra do estado, à custa de rendas negociadas com o Estado.
Como é que o estado pode controlar o poder das grandes empresas se é o maior delas todas e não se cansa de crescer, aumentando impostos, nacionalizando sectores económicos e tudo fazendo para se constituir em monopólio em tantos sectores?
As grandes fraudes são todas feitas à sombra dos grandes negócios do Estado
O capitalismo tem sobrevivido em todo o tipo de sistemas políticos, por isso deve ser salvo. Falta saber para quê.
Robert Reich defende a necessidade, antes de tudo, de políticas distributivas, como o salário mínimo, a negociação e a contratação coletiva e políticas fiscais fortemente progressivas. Defende-o muitas vezes de modo bem mais radical do que os sociais-democratas europeus. Mas é bastante distante da esquerda anticapitalista, porque defende a economia de mercado como essencial à democracia. De facto, se o capitalismo tem sobrevivido em todo o tipo de regimes políticos, a democracia tem florescido sobretudo em economias de mercado. Por isso o capitalismo deve ser salvo, mas, simultaneamente, profundamente reformado para que o seu desenvolvimento beneficie a maioria e não apenas uns poucos mais poderosos.
É verdade que li algures, com espanto, que historiadores portugueses tinham chegado à conclusão que as famílias dos marinheiros que navegaram nas caravelas ainda hoje vivem nas mesmas casas. Na Mouraria, no Bairro Alto, 600 anos depois.
Agora historiadores italianos chegaram à conclusão que as famílias mais ricas na Idade Média são as mesmas de hoje. Basta, pois, ter um sobrenome familiar apropriado para não passar a "barreira de vidro" que separa os ricos da pobreza. E já era assim antes do capitalismo. As revoluções francesa, industrial ou o advento do estado social democrata não mudaram esse padrão.
O que realmente mudou é que o capitalismo conseguiu criar riqueza como nenhum outro sistema e, com isso, criar a classe média retirando da miséria milhões de seres humanos . Pela primeira vez a miséria no mundo atinge menos de 10% da população mundial.
E o mais curioso é que concluem que a mobilidade social na China comunista, incluindo nos anos de Mao Tse Tung, é muito similar à da Inglaterra e dos restantes países. Ou seja, a culpa da manutenção das mesmas elites no topo de cadeia social não é do capitalismo.
É a natureza humana. Na Venezuela a filha de Chavez é a mulher mais rica do país o mesmo se passando com a filha de José Eduardo dos Santos em Angola . O filho de Lula está bem muito obrigado. E depois há todos os outros, ditadores, comunistas, capitalistas, fascistas...
Dizer que o que se passa no Brasil é do imperialismo é ridículo. Quando a ex-URSS desabou logo apareceram os milionários a refugiarem-se na Europa. E todos os dias nos esquecemos disto.
Se há ( e há) alguma decência é na Europa, onde as desigualdades são menores, com uma qualidade de vida nunca vista e sustentável e milhões de pessoas gozam a vida em paz e progresso. Onde a Democracia exercita o estado de direito ( atenção BE e PCP há presos políticos em grande parte dos países vossos irmãos ) as liberdades fundamentais e os direitos humanos.
Não há nenhuma superioridade moral da extrema esquerda bem pelo contrário
Os sistemas caiem porque não respondem aos anseios da população. Mesmo contra tanques e armas haverá um dia que a população exige ter uma voz. É por isso que a Democracia e a economia de mercado sobrevivem. Nunca tantos viveram com esta qualidade de vida durante tanto tempo. Pela primeira vez só 10% da população mundial vive abaixo do limiar da pobreza.
Não se espere que se deite borda fora o menino com a água do banho.
Como as várias experiências socialistas têm mostrado o sistema é incapaz de produzir o suficiente para alimentar as populações. A Venezuela é um bom exemplo. A apodrecer de petróleo e com a população sem acesso aos produtos mais elementares. À volta da UE os países saídos da órbita da ex-URSS, os mais pobres dos pobres, tentam entrar no paraíso capitalista da UE.
Há desigualdade ? Claro, mas a capacidade do sistema crescer faz com que todos cresçam, uns mais outros menos, mas crescem todos. Serem todos igualmente pobres não é solução. O que a Democracia tem de inigualável é juntar o crescimento com a liberdade individual, a solidariedade social a caminho de uma sociedade cada vez mais justa, onde a maioria vive bem.
O capitalismo, com as desvantagens inerentes, é um sistema que cria oportunidades e que consegue reinventar-se e fortalecer-se. Que o socialismo contribua para uma sociedade mais igual mas sem comprometer a iniciativa e o génio individual.
Em recente e muito interessante entrevista ao Expresso, Francis Fukuyama, está convicto que a combinação do capitalismo e a democracia funciona. O capitalismo sozinho produz enorme desigualdade, poluição, formas variadas de injustiça e a parte democrática vem quando as pessoas que são prejudicadas por isso usam o seu poder politico para regularizar o sistema. O capitalismo também produz muita riqueza e dá às pessoas empregos, oportunidades e crescimento económico mas precisa de ser regulado e isso é um acto politico.
Agora que passaram 30 anos sobre o período de desregulação Reagan/Thatcher sabemos que fomos demasiado longe, deixamos os mercados à solta e a comunidade politica democrática precisa de exercer o seu poder politico para promover mais redistribuição e controlo dos excessos do capitalismo não para o destruir mas para o preservar.
Na China de certo modo acontece a mesma coisa . Está a ficar uma das sociedades mais desiguais do mundo porque o Partido Comunista autorizou a emergência desta forma de capitalismo sem freio e aí não é o povo que se levanta e tenta controlar o capitalismo através de um processo democrático e sim o próprio Partido Comunista que tenta representar o povo.
Há 300 anos a Europa era muito desigual e a democracia emergiu dolorosamente e ao cabo de muita luta politica . Não aconteceu tudo de uma vez. É preciso tempo.