O artigo de hoje: Mal chegou ao poder, António Costa anunciou que ia reverter a privatização da TAP. E assim foi: o Estado passou a deter 50% do capital e a nomeação do “chairman”. Quem se deu ao trabalho de analisar o negócio percebeu logo que era “show-off” para calar Bloco de Esquerda e PCP. O país viveu na mentira durante quatro anos. Até maio de 2019, quando a imprensa noticiou que a TAP distribuiria bónus de 1,17 milhões pelos quadros, depois de prejuízos de 118 milhões. Pedro Nuno Santos, o líder da ala esquerda do PS, foi apanhado em contrapé: como deixou passar aquela enormidade? Seguiu-se o habitual: muitas pancadas no peito, com gritos de “Mas quem é que manda aqui?” e garantias de que o ministro não soubera de nada. Como é óbvio os bónus não foram devolvidos, apesar das ameaças de mudança das regras. O assunto parecia resolvido até à semana passada quando o CEO da TAP disse que os bónus se vão repetir este ano. Humilhação para o Governo. Pedro Nuno Santos garantiu que não iria autorizar para, no Parlamento, reconhecer que os 50% do Estado apenas permitem intervir na estratégia, não na gestão corrente. Ou seja, aquilo que já sabíamos desde 2016, mas o “spin” do Governo manipulou. Conclusão: você foi enganado
“Já reparou na mudança de discurso do governo nas últimas semanas? Acabaram-se as promessas de facilidades, a bazófia generalizada e até o excesso de confiança. O discurso agora é mais cauteloso, mais contido, mais realista. E onde havia margem para tudo e mais alguma coisa passou a haver contenção. Ainda ontem se viu isso com a nega que o Ministério da Educação deu à FENPROF no caso da contagem do tempo para efeito da carreira: ou os sindicatos aceitam o que o governo tem para oferecer, ou o acordo cai por terra. Tudo isto ganha um significado especial porque o ultimatum foi feito por um dos ministros mais à esquerda deste governo (a propósito, a austeridade não tinha acabado?). O que mudou? O crescimento económico desacelerou, o ambiente externo está a mudar (petróleo em alta, juros a subir, perspetiva de crise em Espanha e Itália) e com isso receios de que o contágio à economia portuguesa seja rápido. Nada está perdido? Não. A economia pode recuperar. Mas as coisas também podem dar para o torto. É este receio que começa a tomar conta do governo. Com razão, porque a economia está muito dependente do que se passa nos principais mercados para onde vendemos bens e serviços. Só foi pena que nos últimos dois anos e meio nos tenham andado a vender amanhãs que cantam em vez de terem feito as reformas de que o país precisava para crescer de forma saudável” Camilo Lourenço in Jornal de negócios
O artigo de hoje: Há seis meses Pierre Moscovici era todo elogios para Portugal, particularmente na frente orçamental. Ontem mudou o discurso: alerta para risco significativo de desvio da meta orçamental de 2018 e 2019, recomendação para manter a despesa primária (sem juros) a crescer no máximo 0,7% e sugestão de novos cortes na despesa. Onde? na Saúde, por exemplo. É uma alteração importante na forma como o Comissário Moscovici olha para Portugal. Porquê? Porque os serviços técnicos da Comissão devem estar a pressioná-lo, alertando-o para os riscos da economia portuguesa: uma desaceleração da economia europeia terá um impacte significativo no crescimento do PIB em Portugal e, com ele, um deslize orçamental grave. Cá no burgo, António Costa e Mário Centeno ainda não se pronunciaram sobre o assunto. Já o Presidente, instado a pronunciar-se, disse não ter lido o documento. Mas sempre foi avançando que está de acordo com o governo. Costa e Centeno vão começar a engolir, se a economia desacelerar, a teoria de que vivemos no melhor dos mundos. Moscovici já percebeu isso (coisa que se sauda). Já Marcelo parece continuar a domir
O artigo de hoje: A Comissão Europeia disse ontem que não acredita que o défice orçamental português baixe para 1% do PIB em 2018. Fala em 1,4%. Mais: a Comissão avança que Portugal está a criar despesa rígida, estrutural, que é coberta com receita conjuntural. Quando se analisa ao detalhe o documento de ontem percebe-se que a Comissão está ainda mais pessimista do que no documento divulgado há uma semana... onde já chamava a atenção do governo para os problemas do OE 2018. Bruxelas diz que o saldo estrutural não se vai alterar em 2018, violando a regra que obriga a uma redução de 0,5 pontos do PIB. Quanto é que isto vale em valores absolutos? Mil milhões de euros. Mil milhões de divergência entre as contas de Lisboa e de Bruxelas... As dúvidas sobre a execução orçamental não são exclusivas da Comissão Europeia. A UTAO já se pronunciou no mesmo sentido e o Conselho de Finanças Públicas também. Ontem, no Parlamento, Teodora Cardoso lembrou a fragilidade da consolidação orçamental e os riscos da dívida muito elevada. A seu lado, o outro membro do board do CFP, Paul De Grawe (que foi sempre um crítico do programa da troika), foi no mesmo sentido: "Como instituição (CFP) não podemos deixar de lembrar que há um problema de sustentabilidade da dívida a que se tem de prestar atenção". Só o governo e os seus apoiantes é que não vêem...
O artigo de hoje: As más notícias para a economia não ficam apenas pelas contas externas. Ontem o Banco de Portugal veio dizer que a dívida pública continua a subir. Depois dos 130,3% do final de 2016, e 130,5% do final do primeiro trimestre, subiu para 132,4% no final de junho. Lembra-se do que o governo prometeu no Programa de Estabilidade, apresentado em abril na Assembleia da República? Sim, um valor de 127,9% no final de 2017. A subida da dívida é preocupante. Portugal está a desperdiçar uma conjuntura externa brutalmente favorável e, em vez de reduzir a dívida, continua a aumentá-la. O governo, que diz frequentemente que o interessa não é o corte de despesa mas o aumento do PIB para baixar o rácio da dívida, está a laborar num erro. Se a economia sofrer um soluço, motivado por uma abrandamento do Turismo ou uma quebra nas exportações (ou outra coisa qualquer), o PIB vai "gripar". E o governo não poderá contar com novos estímulos ao consumo porque o aumento de rendimento vai direitinho para as importações... Em dois dias este é o segundo sinal amarelo à política económica seguida pelo governo. Situação que confirma que o cenário começa gradualmente a passar de cor-de-rosa a amarelo alaranjado. Wake up, guys!!!
Camilo Lourenço : O artigo de hoje: A crescente, e notória, tensão que o primeiro-ministro exibe tem uma explicação: o governo apanhou um susto monumental com o disparo dos juros nas últimas semanas. E já percebeu que os investidores, que desconfiam de tudo (do milagroso valor do défice, do aumento da dívida e da solidez da "geringonça"), não estão para brincadeiras: os juros já ultrapassaram a barreira dos 4% três vezes em 2017 e é provável que isso se repita e até se agrave. Foi por tudo isto que António Costa anunciou ontem que Portugal vai fazer novos pagamentos antecipados ao FMI: o primeiro-ministro sabia que o Banco de Portugal ia anunciar ontem uma subida da dívida pública e quis contrariar o efeito negativo da notícia (já tinha feito o mesmo em dezembro). Suspeito que nada disto vai fazer grande diferença. Enquanto os mercados não perceberem que o governo está mesmo empenhado em controlar a despesa pública, a desconfiança vai continuar
Eleições antecipadas agora seriam um desastre diz Catarina Martins mostrando bem a sua ansiedade perante um cenário que tanto teme. Mas são cada vez mais as vozes que se erguem dizendo que o que o governo consegue é poucochinho, a economia não cresce o suficiente para pagar a dívida que continua a crescer, conter as taxas de juro demasiado altas, conseguir investimento. Em 2017 tem que ser o ano do investimento como se a doce Catarina tivesse alguma influência em tal área. E a ter é negativa .
Camilo Lourenço : O artigo de hoje: A "geringonça" corre perigo de vida devido aos arrufos provocados pela baixa da TSU? Não. O assunto fez aumentar a tensão entre os dois partidos mas nem PCP nem Bloco de Esquerda morrem de amores por eleições agora (o PSD também não, mas por motivos diferentes). E a razão é simples: PCP e Bloco perderiam parte do apoio que receberam nas últimas eleições. O PCP vai disfarçando esse receio, mas o Bloco mostra um claro receio em relação a esse cenário. Isso mesmo ficou evidente na entrevista de Catarina Martins ao "Público", onde diz que convocar eleições agora "seria um tremendo erro". O erro foi Catarina ter dito isso. Pôs a nu a fragilidade do seu partido perante o parceiro maior da coligação: o PS. E António Costa, que inventou a questão da TSU para testar as águas, deve ter ficado a rir-se da entrevista
O artigo de hoje ( Camilo Lourenço): o relatório da Comissão Europeia sobre a 8ª e 9ª avaliações ao nosso programa de ajustamento detectou problemas no controlo da forma como o orçamento está a ser executado. São falhas do lado da despesa que, a não serem corrigidas, podem provocar uma derrapagem orçamental. Quantas vezes já ouvimos isto? Com este governo, com o anterior, com o que antecedeu o anterior... Este é o principal problema do Estado português: parece um "polvo", com várias ramificações. O Estado tem vários "Estados" dentro de si. Zonas obscuras onde os ministros não conseguem mandar. E o resultado é sempre o mesmo: derrapagens orçamentais. Enquanto isto continuar a acontecer podemos dizer adeus à credibilidade. Como é que os investidores vão acreditar em nós com exemplos como os que deu a ministra das Finanças há um mês?: a derrapagem de 135 milhões de euros na despesa, ocorrida até Setembro, ficou a dever-se a um único organismo do Estado. Assim não vamos lá
Só há uma solução. Implodi-lo! "O ano lectivo começou com problemas: professores não colocados, escolas por abrir, escolas sem pessoal auxiliar suficiente… Qual é a surpresa? Nenhuma. Há trinta e tal anos que a cena se repete. Desta vez a cena passa-se com Nuno Crato no Ministério, mas já sucedeu com os seus antecessores. À Esquerda e à Direita. E as críticas, à semelhança de anos anteriores, vêm dos mesmos sectores: pais, analistas, políticos e, naturalmente, sindicalistas (com o inefável Mário Nogueira à cabeça do grupo).
Dar autonomia às escolas, descentralizar. Acabar com a sindicalização do ensino. Devolver a dignidade aos professores.