Por cá, no mundo ocidental e particularmente em Portugal, há sempre uns bem pensantes que estão sempre, mas sempre, contra o modo de viver e a cultura da sua própria terra. Mas quem vive junto dos problemas e conhece o essencial, mesmo sendo politicamente independente - ou por isso mesmo- não engole patranhas ideológicas carregadas de ódio.
" O salafismo não é uma prática religiosa, mas a construção de uma identidade político-religiosa totalitária que se reflecte na sua pretensão de representar os muçulmanos do mundo, a denominada Umma.
Quando menciono o papel do comunitarismo, falo na estratégia de guetização que pretende impor através do tecido muçulmano francês um alinhamento que se expressa através de clivagens e reivindicações. Especificamente, a exigência de determinados alimentos, roupas — no caso mencionado, o burkini –, comportamentos, escolas. Rejeitando todas as outras práticas do Islão por um direito de excomunhão, a exclusão acaba por ser o único destino dos takfir.
As próprias crianças recusam o Islão dos pais, nesta lógica de doutrinamento, levando por vezes à ruptura"
Como se vestir um fato que cobre todo o corpo da mulher deixando apenas à mostra as mãos fosse um direito das mulheres e não uma imposição religiosa.
As bens pensantes dão piruetas no sentido de desviar o foco da discussão. Trata-se de um direito. Não trata. Trata-se de impor a uma sociedade laica e democrática a humilhação das mulheres.
O primeiro-ministro, Manuel Valls, saiu a apoiar as decisões dos municípios – “o uso do burkini não é compatível com os valores da França e da República”, disse o chefe do Governo. “As praias, tal como todos os espaços públicos, devem ser preservadas de reivindicações religiosas”, acrescentou Manuel Valls.
Mas laicidade significa respeitar a liberdade de ter ou não ter religião, e ser feminista não pode significar que se recuse a mulheres adultas, numa parte do mundo que lhes garante os mesmíssimos direitos que aos homens, a capacidade de tomar decisões sobre si.
Esta última forma de colocar o problema tem na sua raiz a mesma perversão que leva ao essencial da questão. Do que se trata é que o uso do fato de banho islâmico não é mais do que uma manifestação religiosa pública numa sociedade livre, democrática e laica.
A mesma ideia que subjaz aos vários tipos de "traje islâmico" - do hijab, lenço que cobre o cabelo, aos radicais burqa (espécie de tenda em que até olhos são tapados com rede) e niqab (apenas com os olhos à vista) -, e que nas praias e piscinas implica às mulheres que a acatam veranearem "vestidas" ou com aquilo a que se deu o nome de burkini.
Não nos iludamos. Estamos perante uma guerra em que uma sociedade livre está a ser invadida por radicalismos que atentam contra a liberdade individual e colectiva.
Parece que agora estão na moda os Burkini . As muçulmanas vão para a praia com o corpo coberto de roupa. Medo de apanhar cancro da pele ? É uma boa razão mas, então, se o problema é esse o melhor é ficar em casa à sombra.
Tem havido rixas entre muçulmanos e não muçulmanos mas a verdade é que o BURKINI é uma peça de roupa desenhada pelas grandes empresas de moda europeias. Se as deixam vender como proibir de as usar ?
A questão é mais vasta e tem que ver com o modelo de vida religioso que está em oposição à laicidade do estado. Na praia tudo começou porque os não muçulmanos fotografaram as mulheres cobertas pelos Burkini. Ora, cada um de nós tem o direito de não se deixar fotografar . E, em cadeia lá vamos nós proibindo, negando direitos, quando andamos os últimos 50 anos a lutar por eles.
Até há quem ache que se devem tirar os crucifixos das salas de aulas por atentado à liberdade religiosa e, ao mesmo tempo, defender o véu islâmico.
Temos mesmo que escolher entre o "fio dental" e o burkini ?