Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BandaLarga

as autoestradas da informação

BandaLarga

as autoestradas da informação

Há dez anos o BPN era nacionalizado

Paulo Franzini
 
Há dez anos o BPN era nacionalizado. Há dez anos Portugal entrava numa espiral descendente da qual não sairá tão cedo.

O banco de Cavaco Silva e dos amigos representava menos de 2% do mercado. Mas tal não impediu que Sócrates e Teixeira dos Santos decidissem sozinhos sobre a nacionalização.
Nesse dia, o ministro das Finanças garantia-nos que menos de 700 milhões de euros chegavam e que seriam pagos de volta. O contribuinte não perderia um euro.

Uma década e 4000 milhões de euros depois, Teixeira dos Santos continua a defender a decisão que tomou. Em liberdade e com os dentes direitos.

Há dez anos a vida dos portugueses era atingida por um tsunami que ceifou grande parte da riqueza de três gerações e irá afectar pelo menos mais umas duas.

Desculpem lá interromper-vos com efemérides chatas. Podem prosseguir com o debate sobre "Como é que aparecem Bolsonaros?".

Desapareceram vinte mil milhões de Euros

Desapareceram mas estão aí algures a recato em contas de certas famílias. Um assalto organizado ao Estado por políticos, gestores privados e públicos, com a complacência das instituições controladoras que não viram ou não quiseram ver.

Desde a Caixa Geral de Depósitos ao BPN, passando por grandes empresas, Convém ainda não esquecer que as actuações de políticos, banqueiros, bancários, gestores e empresários relativamente às PPP, aos swaps e aos golpes em quase todos os bancos portugueses estão fora da alçada deste processo Sócrates barra Salgado barra Espírito Santo barra PT.

Mas ficaremos a saber que duas ou três (ou mais...) operações políticas e financeiras de assalto ao Estado, a algumas das melhores empresas portuguesas, aos recursos de milhões de depositantes, credores, accionistas e investidores se desenvolveram durante anos. O que aconteceu com a cumplicidade de um ou dois partidos políticos, com a participação activa de alguns dos "melhores" banqueiros portugueses, com a intervenção maliciosa de um governo, com a colaboração dolosa de vários gestores privados e públicos.

Ficaremos todos a perder .

 

 

Nacionalizar para branquear

O Camilo Lourenço põe o dedo na ferida . Há que nacionalizar o Novo Banco para esconder os negócios ruinosos de gente da política, da finança e dos negócios. Gente poderosa e com muito dinheiro.

Tal como foi feito no BPN e está a ser feito na Caixa Geral de Depósitos .

No BPN andaram por lá uns gestores mandatados pelo governo de então e que nunca disseram água vai. Entraram com 400 milhões de prejuízo e saíram com sete mil milhões. Na Caixa é o que se sabe, já vai em cinco mil milhões se não mais. Fogem de lá como o diabo da cruz . E no Novo Banco à medida que destapam as fraudes a barafunda é maior. O estado já tem que pagar para que alguém se chegue à frente para ficar com o banco.

Está montada uma gigantesca lavandaria à sombra de muita conversa patriótica . Quem é que vai controlar a informação ? É que as propostas apresentadas por abutres ( não apareceu nenhum banco a querer comprar ) mostram bem que o negócio é tudo menos recuperar o que resta.

No BPN veio a saber-se, embora tenuemente, que houve muita limpeza de última hora ( negócios ruinosos apressadamente transferidos da CAIXA para o BPN já ferido de morte e nacionalizado.) Na Caixa há um ano que nos embalam com "planos de negócio" enquanto a factura vai crescendo .

PS, PCP e BE e, mesmo, uma parte do PSD junta-se para nacionalizar o Banco Novo que nenhum privado quer. Há aqui muita coisa que não bate certo.

Quem é que beneficiou com os créditos concedidos e quem é que os autorizou ? Quem quer nacionalizar o banco sabe quem está envolvido. Os privados já vieram dizer que conhecendo as fraudes exigem uma garantia do governo.

Há dúvidas que exigem uma garantia para cobrir as fraudes que, de outra forma, vão cair no esquecimento e no bolso dos contribuintes ?

A nacionalização do BPN é uma lição desastrosa

Os mesmos de sempre que vêem na nacionalização a solução para todas as coisas, deviam reflectir sobre a nacionalização do BPN e a factura que ainda estamos a pagar. Era sistémico, diziam os colectivistas para forçar a nacionalização ( representava cerca de 2% do mercado mas o argumento era esse) e custaria no máximo 400 milhões. Na última vez que ouvimos falar do BPN a factura já ia nos 7 mil milhões. Calcule-se, então, a nacionalização de um Banco que representa 18% do mercado . E, pior, tem tudo para dar errado.

 

  • Porque há o risco sério de um novo BPN. Há 9 anos quase toda a gente achou bem nacionalizar o BPN. E quase toda a gente achava que não tinha prejuízo para os contribuintes. Nove anos depois, a factura é pesadíssima e ainda não chegou ao fim. Nacionalização tem sido sinonimo de desperdício. 
  • Segundo – Nacionalizar é, financeiramente falando, igual a dar uma garantia do Estado a um comprador. Obriga o Estado a meter mais dinheiro para capitalizar o Banco, o que agrava o défice e a dívida. Sabe-se como começa, não se sabe em quanto acaba.
  • Liquidem-no !

 

Para não termos outro BPN deixou-se cair o BES

A lição a retirar do caso BPN não é que o estado se meteu numa grande embrulhada que anda pelos 7 mil milhões de euros e que todos nós estamos a pagar ? Então o estado devia fazer o mesmo com o BES ?

Esta é uma das perguntas que o PS quer fazer ao primeiro-ministro - ou seja, por que razão recusou os pedidos do banqueiro para que a CGD ajudasse a parte não financeira do Grupo Espírito Santo, de forma a que os seus problemas não atingissem letalmente o banco, levando-o à falência. Preso por ter cão e preso por não ter cão.

No domingo o primeiro-ministro disse que não vê "nenhuma necessidade particular de acrescentar àquilo que já é público" sobre os seus encontros com Salgado: recebeu-o, "avaliou" uma proposta que o banqueiro fez, relativa, "não ao BES, mas ao GES" mas essa proposta "não teve sequência porque governo entendeu que não a podia apoiar".

O PS tenta agora passar por cima da escandalosa decisão de nacionalisar o BPN. Fez-nos crer que o que estava em jogo eram 400 milhões, meteu lá a administração da CGD e o resultado é um enorme buraco que todos estamos a pagar. Não seria mais curial explicar este desastre?

Diferenças entre o BPN e o BES

No BPN os bons activos seguiram para a SNL ( um good bank), no BES são os maus activos que se mantêm no BES ( bad bank). No BPN foi o "bad bank " que foi nacionalizado e depois pago pelos contribuintes ( sei mil milhões). No BES o "bad bank" é da família e dos accionistas e não há nacionalização. O "Banco Novo" ( good bank) tem muitos interessados em comprá-lo, e não há nacionalização .

No caso BES o Banco de Portugal  no imediato salva os depositantes e no médio prazo tenta evitar que o déficite das contas públicas seja prejudicado. Para já o caso BES é o contrário do caso BPN. Neste a precipitada nacionalização transformou-se num rombo monumental para os contribuintes. No caso BES funcionaram os novos regulamentos europeus. O rombo é para os accionistas. Sempre aprendemos alguma coisa.

O que se passou no BCP é tão mau como o que se passou no BPN

O voto de vencida de uma juíza no acórdão do tribunal que julga os administradores do BCP devia levar todo um país a erguer-se. Basicamente, o que foi dito e aceite por aquele tribunal é que as operações em off shores no montante de 600 milhões de euros para comprar acções do próprio banco não eram do conhecimento dos administradores. Todos eles tinham absoluta confiança nos seus subordinados que, por sua vez, dizem que receberam  e executaram ordens superiores. Entre os subordinados estava o actual governador do Banco de Portugal Carlos Costa que se defende dizendo que nada sabia sobre o assunto. A sua responsabilidade era controlar "o volume total de crédito" e não as contas individuais. Ninguém sabe de nada, ninguém viu nada, ninguém é responsável de nada. E o silêncio que caiu sobre o que foi afirmado em tribunal é extraordinário. E que Carlos Costa não seja chamado a esclarecer, sendo o presente governador do Banco de Portugal e o responsável máximo pela supervisão comportamental e prudencial das instituições de crédito, é a machadada final na credibilidade do estado. Julgam eles que os cidadãos são um grupelho de atrasados mentais?

Não me pergunta nada sobre o BPN ?

É que Durão Barroso ao contrário de José Sócrates estava preparado . E, claro, as respostas estavam na ponta da língua. Falou três vezes com Vitor Constâncio sobre o desastre e este, então governador do BdP, nada fez. E , ele, Barroso, Primeiro Ministro, fez o quê ? Nada. Há quem diga que o Banco de Portugal não teve culpa nenhuma estava tudo feito ao nível da regulação para os especuladores fazerem o que bem lhes apetecia. Fica por saber qual foi o papel do estado. Não é o estado que legisla?

Com este empurra de culpas percebe-se bem como os estados se foram colocando a jeito para o assalto global dos últimos anos. E percebe-se também que num mercado global os estados têm, também eles, que trabalhar em conjunto. Sem que esse objectivo seja alcançado vamos voltar a ver tudo o que vimos e que temos que pagar. A União Bancária na União Europeia é um passo muito importante mas não suficiente.

O BPN é uma vergonha para muitos

A ideia é transformar o que se passou no BPN numa peixeirada pública em que mais uma vez a culpa morre solteira. Politizar o crime BPN como se Oliveira e Costa e amigos fossem o PSD e Vitor Constâncio fosse o PS. Todos os ex primeiros ministros e ministros das finanças, desde Durão Barroso a Teixeira dos Santos deviam calar-se. Deviam ter vergonha e assumir a sua parte de responsabilidade. Porque não deram por nada e deixaram andar, quando a imprensa já publicara diversos trabalhos sobre o assunto (incluindo a Exame e o Expresso, pioneiros nesta matéria) e a consultora Delloite já arrasara as contas do banco, e foi uma vergonha para Constâncio que era o todo-poderoso regulador e o supervisor da banca.Sem serenidade nunca se vai saber o que verdadeiramente se passou naquele banco. Para já só Oliveira e Costa se passeia com uma pulseira electrónica.

O que se pretende com um texto destes, Nicolau?

O Constâncio foi avisado três vezes pelo primeiro ministro de então mas mesmo assim não mexeu uma palha para parar o desastre do BPN. E depois? É que o Vitor Constâncio era o Governador do Banco de Portugal a quem na altura incumbia controlar o que se passava nos bancos em Portugal. O Nicolau Santos acha que isso não interessa nada, isso é apenas uma maneira de desviar a atenção do Oliveira e Costa e amigos. E a nacionalização do banco que custou aos contribuintes 7 mil milhões de euros, Nicolau?

A gente lê e não acredita. Uma instituição onde supostamente está a nata dos economistas, onde há mais gabinetes de estudo do que os que o país pode pagar, e onde se cruzam ex-ministros das finanças com futuros ministros das finanças. E o Nicolau acha que o seu governador não tem culpa. E fica a dúvida . Percebe-se agora porque há em Portugal tantos BPN, PPP,  BCP, PPP e Swaps marados ?