Não há incompatibilidade política mas há há incompatibilidade ética com a ida de Mário Centeno para o Banco de Portugal.
Apesar dos fretes consecutivos de Vítor Constâncio, nem Sócrates foi tão longe ao ponto de enviar Teixeira dos Santos para liderar o principal regulador do sector financeiro. A ida de Mário Centeno para o Banco de Portugal só pode revelar que existe receio e medo além de que essa pode ser uma medida de precaução para que, nos próximos tempos, ninguém desminta a narrativa que andou a ser “vendida” aos portugueses e às instituições internacionais.
Centeno sai de ministro das finanças e vai para o Banco de Portugal ? É como se nada se passasse
Estranhamento, o caminho está a fazer-se, como se nos estivessem a habituar à ideia de que a nomeação de Mário Centeno para governador do Banco de Portugal é uma coisa normal, e aceitável. E se até o líder da oposição não vê mal nenhum nisto… extraordinário.
A confirmação da sua nomeação para governador do Banco de Portugal será um péssimo sinal, mais um, do que é o modelo de governação em Portugal, da independência das instituições, dos pesos e contrapesos entre essas instituições e, mais do que isso, do que é, para este Governo e para este PS, a diferença entre o partido e o Estado, transformados num só.
Prudencialmente, o Banco de Portugal não sabe ( ou sabe?) nada sobre o que deveria saber. Porque a técnica do saque é conhecida mas, mesmo assim, resulta.
O Banco Espírito Santo financiava as suas 400 empresas com dinheiro da PT da qual era accionista. Era o primeiro banco, a primeira seguradora, a primeira consultora e indicava a administração. Isto é, em todos os sectores da PT o BES sacava o bife do lombo.
E, isso, não o impedia de se financiar com o dinheiro dos seus clientes vendendo papel emitido pelas suas tais 400 empresas. É o que se chama "pagar com o pêlo do mesmo cão".
Não tem técnica nenhuma especial, é a velha " pirâmide de Ponzi". Cai uma vão todas as outras atrás.
O império de Isabel dos Santos, financiava-se com o dinheiro do petróleo e dos diamantes e com ele comprava partes importantes accionistas de empresas relevantes. GALP, BIC ,Efacec...e as suas 400 empresas( curioso número) serviam para obter empréstimos que a "princesa" usava em negócios próprios.
"Pagar com o pêlo do mesmo cão", não tem nada de subtil é a velha " pirâmide de Ponzi" até rebentar porque mais tarde ou mais cedo rebenta.
Até se conta que por cá um conhecido capitalista comprou um banco com o dinheiro do próprio banco. Passou um cheque no momento da escritura de compra e venda com um vencimento dois dias mais tarde. O cheque era sobre o banco que acabara de comprar e na data de vencimento já era ele ( comprador) o dono do banco.
Verdade ou mentira a verdade é que o Banco de Portugal não sabe e tem raiva a quem sabe.
A economia desacelerou em 2018 e vai continuar a desacelerar em 2019, 2020 e 2021. António Costa e Centeno deviam explicar porque continuam a sorrir .
Estas projeções do BdP seguem-se a duas outras notícias negativas: a revisão em baixa das previsões da Comissão Europeia para a economia portuguesa e dados do INE, segundo os quais a qualidade da vida das famílias portuguesas “piorou face ao resto da Europa”.
E falta ainda o impacto das greves dos estivadores em Setúbal e dos trabalhadores das refinarias da GALP em Sines, Leixões e Matosinhos .
Como disse Catarina Martins, numa das suas frequentes ingenuidades ( ou ignorância), é possível ir buscar a curto prazo dinheiro ao Banco de Portugal para fazer mais despesa. Ora, isto é tudo menos reduzir a dívida. O que é estranho é que tal medida nos seja apresentada num documento que trata da renegociação da dívida.
O BdP compra dívida ao estado a um determinado juro e a seguir devolve ao mesmo estado, único accionista, uma parte desse juro em dividendos. Ano a ano. Não seria melhor o BdP ir acumulando esse dinheiro e no momento certo o estado aplicá-lo todo de uma vez na redução da dívida ?
Nós já sabemos no que dá o estado ter mais dinheiro . Dá em mais despesa e para reduzir o défice, como é hoje evidente, corta-se no investimento que nos nega o futuro, o crescimento da economia e a criação de postos de trabalho.
Para lá de muitas questões técnicas económicas e jurídicas , fragilizar o banco central para a festa da despesa não parece corresponder ao interesse nacional.
Se o Banco de Portugal não constituísse mais provisões até 2023, entregaria ao Estado qualquer coisa como mais 5,75 mil milhões de euros até lá. Como a dívida pública fechou o ano de 2016 em 241 mil milhões de euros, o impacto desta operação seria de 2,4% no stock de dívida ao longo de sete anos. Como comparação, recorde-se que só durante o ano passado a dívida do Estado aumentou 9,5 mil milhões de euros. Portanto, a central questão das entregas do Banco de Portugal durante sete anos cobriria apenas a dívida nova que fizemos durante sete meses em 2016.
Deste tipo de expedientes já tivemos a nossa dose durante muito tempo. A nossa história orçamental é fértil em operações que não são mais do que fracos paliativos, que apenas disfarçam alguns dos sintomas sem combater a doença."
E não esquecer que o grupo de trabalho do PS e BE para a renegociação da dívida estava cheio de sábios .
O relatório da Dívida Pública do PS, BE e Governo, não é mais do que um plano de assalto aos cofres do Banco de Portugal e, ao pretender reduzir os depósitos do Estado, uma rapina aos "cofres cheios" (lembram-se?) de Maria Luís Albuquerque. Querem, já este ano, 502 milhões de euros das reservas do Banco de Portugal, para tapar buraco no défice orçamental (sim, já estão à procura de um PERES). No próximo ano, mais 850 milhões de euros. Aliás, Galamba é o involuntário "bufo" desta estratégia: num dos telejornais, convidado a explicar a "restruturação" fala apenas no dinheiro do Banco de Portugal, do primeiro ao último segundo, tal a fobia do menino. O relatório é, tecnicamente, uma vergonha. Quadros e gráficos parcialmente plagiados do IGCP, três professores universitários a colaborarem num trabalho liceal. No fundo, os professorecos propõem o seguinte: a gente reestrutura o dinheiro dos contribuintes europeus (que cobram uma taxa de juro média de 2,2%...), livramos os tipos do FMI (com taxas de 4%) e deixamos intacta a massa dos residentes em Portugal (a maioria com taxas de 4%). Os galambinhas e os professorecos acham, portanto, que os europeus, os espanhóis, alemães, franceses, finlandeses, italianos, são mesmo burros. Que não perguntarão - como fizeram e aplicaram aos gregos - porque não são os privados, independentemente da nacionalidade, a sofrer o primeiro hair-cut dos juros... acham que esta perplexidade vem no relatório? Oh vens... Pior. Entre Janeiro e Abril deste ano o custo da Dívida do Estado aumentou para 3,4%. Para comparar: em 2016 foi de 2,8% e em 2015 foi o melhor ano, 2,7%! Acham que os amigos professorecos fizeram uma "análise de tendência" a isto? Sim, sim... Nos próximos sete anos vencem seis empréstimos no total de 55 mil milhões de euros com taxas de juro no limiar dos 5%... Os professorecos fizeram alguma proposta de como "rolar" esta dívida? Não... Vamos é lixar os "gajos da Europa"... que nos emprestaram a 2,2%! Bom, mas para uma parte da jornalada do "politicamente correcto" o relatório, como tem bonecos, é bom. Afinal foi (também) a contar com isso que foi feito... Mas não esquecer o essencial: O Banco de Portugal.
Agora percebe-se melhor a guerra que o BE e o PS movem ao governador do Banco de Portugal . Querem deitar mão às reservas do Banco de Portugal para compor o défice.
Para isso exigem que o governador alivie as provisões para acorrer a prejuízos futuros e desta forma obrigar o banco a pagar maiores dividendos ao único accionista o Estado. Vem tudo na proposta hoje conhecida da autoria do BE e do PS para a negociação da dívida.
Entretanto, Bruxelas já veio dizer que não é possível oferecer melhores condições do que as já praticadas em termos de juros e de maturidades. Para baixar as taxas de juro ( à volta dos 1,33%) que já não deixa praticamente nenhum "fee" , seriam necessárias transferências entre orçamentos dos países membros, o que é proibido pelas normas europeias.
O PCP já veio dizer que a proposta contem micro soluções ( a macro solução do PCP é sair da Zona Euro e da UE), mas a verdade é que Portugal vive hoje ligado à máquina da UE. Como diz Bruxelas a solução para Portugal é crescer mais, sem isso nada feito .
É tudo poucochinho .
O que é então errado? “Encurtar os prazos de emissão de dívida, como é proposto, isso é normalmente o que fazem os credores com pior qualidade e foi o que aconteceu a Portugal até 2011”.
E o que é perigoso? “É ir simplesmente deitar a mão às reservas do Banco de Portugal que já se percebeu é isso que o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda querem“, notou Passos Coelho, dizendo que talvez se perceba agora melhor a “guerra” contra o governador do Banco de Portugal. “Há uma intenção clara do Governo poder deitar a mão às reservas, ao dinheiro que está no Banco de Portugal para, como medida extraordinária ajudar a compor os números do défice”.
Em declarações transmitidas pelas televisões, o líder do PSD começa por dizer que “adorava” que o país tivesse uma dívida “mais baixa”, ou seja, “que no passado, não se tivesse contraído tanta dívida de forma irresponsável”. Rejeitando responsabilidades do seu Governo — “não fui eu que o fiz”, afirmou — Passos adiantou que é agora necessário “responder a essa dívida”.
Depois do presidente do Montepio ter sido constituído arguido com mais catorze pessoas o que é preciso para o Banco de Portugal e o governo tomarem decisões ? Que o Montepio está muito exposto ao accionista tal como acontecia no BES. Que vende aos seus balcões papéis da Associação Mutualista . Que o revisor abortou um negócio de 93 milhões pouco transparente e muito arriscado.
" E o que se está a passar no Montepio? Ninguém sabe. No dia 8 de maio de 2015, escrevi este artigo no jornal Público, — No Montepio, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada — onde dizia que “uma parte do grupo está em terra de ninguém em termos de supervisão”.
Um grupo que desde sempre teve semelhanças com o BES por causa das relações incestuosas entre o banco e o acionista. No caso do Montepio, entre a Caixa Económica e a Associação Mutualista.
Questionado ( Carlos Costa) sobre as relações do banco com o seu acionista, respondeu que a Associação Mutualista “é uma entidade que não é supervisionada pelo BdP.” Sobre os produtos da associação mutualista, seguros, que são vendidos aos balcões da Caixa Económica responde: “os produtos não são supervisionados por nós.” Pilatos não responderia melhor.
Enquanto o Banco de Portugal se entretém a lavar daí as suas mãos, — aliás na mesma pia em que lavou as mãos quando descobriu que o problema do BES eram ligações a empresas que estavam fora da sua jurisdição, — os restantes reguladores, a CMVM e o regulador dos Seguros, assobiam para o lado.
Ressabiamento misturado com irresponsabilidade daqueles que andaram a viver à sombra de Ricardo Salgado e a irresponsabilidade da extrema-esquerda que nunca aceitará a independência do Banco de Portugal.
Uns e outros têm dificuldade em perceber o papel fulcral que instituições independentes e vozes independentes têm na democracia. Daí os ataques rasteiros, misturados com uma intolerável má-criação a Teodora Cardoso e ao Conselho de Finanças Públicas. Daí a campanha contra Carlos Costa.
Dizer isto não quer dizer que se ignoram os erros e as más avaliações do processo de ajustamento da Troika. Mas só por ingenuidade é que se pode pensar que é isso que está agora em cima da mesa. Não, não é. O que temos é um ajuste de contas que está a fragilizar o Banco de Portugal.