Marcelo e Costa foram à AutoEuropa e em plena pandemia e enormes dificuldades sanitárias e económicas o Primeiro Ministro lança o Presidente da República para novo mandato. Surpreendido ?
Não esteja, olhe que o truque é velho como o mundo. A ideia é afastar os verdadeiros problemas do centro das preocupações. Logo Marcelo se colocou ao lado de Costa na questão do Novo Banco, nos tais 850 milhões que foram injectados ao abrigo do contrato assinado por aqueles americanos que compraram o banco por tuta e meia.
E, de corrida, quem foi o verdadeiro malandro foi o Ministro das Finanças, Costa até estava contra a entrega do dinheiro que consta do Orçamento. Mas isso interessa para quê ? O PM não sabia, se estava no orçamento e no acordo assinado e não interessa nada.
Como o argumento é fracote, o António não esteve com meias pôs o Marcelo do lado dele. E arranjou candidato presidencial para o PS, sabendo que PCP e BE não vão apoiar Marcelo. Isto é, oportunisticamente, juntou-se ao candidato vencedor, afastou o Ronaldo das finanças que agora já não é necessário face à calamidade que aí vem nas contas públicas e a culpa é de todos menos dele.
Já estamos habituados, a culpa nunca é do António embora seja ministro há vinte anos. Surpreendido ? Olhe que anda distraído.
Depois de ter doado material, como viseiras e fatos, aos hospitais de Santa Maria e Curry Cabral em Lisboa, quando a crise provocada pela pandemia de covid-19 ainda não tinha as proporções actuais, a fábrica da Autoeuropa, do grupo Volkswagen, em Palmela, prepara a entrega de material de protecção a outras duas unidades hospitalares.
Fausto Dionísio, membro da Comissão de Trabalhadores, diz ao PÚBLICO que alguns trabalhadores se juntaram, com o apoio da empresa, para produzirem viseiras destinadas ao Hospital de São Bernardo, em Setúbal, e ao Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro. A primeira entrega, agendada para quarta-feira, inclui cerca de 70 equipamentos, acrescenta o mesmo representante.
Isto para os estatistas dói imenso, estão a perceber que há empresas e trabalhadores que sabem produzir bens absolutamente necessários. E oferecem-nos aos hospitais.
A Volkswagen anunciou que o irmão mais novo do modelo que está a ser produzido na fábrica de Palmela será produzido na Alemanha. O investimento para modernização está em marcha em Osnabruk no montante de 80 milhões para que a produção se inicie em 2020 .
É uma forma pacífica de deslocalizar a produção da Autoeuropa já que o actual modelo está em produção em 2018 e 2019 e, naturalmente, a produção do mesmo modelo mas descapotável , teria continuidade em 2020 com o investimento previsto.
Mas a luta heróica e as greves deixaram rasto e pagam-se como a CGTP bem sabia ao exigir ao governo que colaborasse no planeamento com a marca alemã. Numa empresa privada como se alguém acredite que tal seja possível.
E a deslocalização não é, necessariamente, andar com as máquinas às costas...
Este tipo de investimento( call centers) chamado de " tenda do beduíno" levantam a tenda ao menor sinal de ameaça ao seu modelo de negócio e margens previstas, abandonam o país sem qualquer custo. Não investem praticamente nada . Mas o governo rejubila .
Uma Autoeuropa tem maior dificuldade em "levantar a tenda", demora mais tempo mas também é possível. De certeza que os gestores da Volkswagen já iniciaram os estudos para a transferência de parte da produção deste novo modelo para outra fábrica que tenha, neste momento, capacidade de produção ociosa.
Mas o governo faz de conta que não é nada com ele.
Exigir ao governo que negoceie o plano estratégico com o Grupo alemão empresa privada . Afirmar que a fabrica não precisa de trabalhar aos sábados e apesar de pensar assim exigir aumentos de salários e outros benefícios . Como se a empresa não tenha concorrência e como se não haja milhares de profissionais que trabalhem não só aos sábados mas também aos domingos.
Pensamos logo nos hospitais, nos transportes e em todas as actividades que alem dos sábados e domingos trabalham a noite.
Em vez de tapar os olhos os sindicatos deviam estar a discutir como vão enfrentar a inevitável menor necessidade de trabalhadores num futuro próximo com a chegada em forca dos robots que farão grande parte das tarefas que são hoje asseguradas pelos trabalhadores menos qualificados. E não só na industria automóvel.
Esse futuro vem ai quer a CGTP queira quer não queira .
Um caso exemplar é Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP, que por vezes vive numa Idade Média do pensamento. Em Dezembro, recorde-se, escreveu no Público uma prosa em que defendia que "é altura de o Governo português assegurar as condições necessárias junto da multinacional para que a Autoeuropa seja parte integrante desta nova fase da estratégia produtiva (de carros eléctricos) da VW". Tudo em nome do "bem dos trabalhadores, do emprego e da economia do país". É um sentimento comovente, mas irrelevante.
Na Alemanha rica e de pleno emprego os trabalhadores da indústria estão em luta para melhorar as suas condições de trabalho. Querem mais tempo para a família e um aumento salarial de 6% . Os sindicatos na Autoeuropa agarraram a boleia como se o mercado de trabalho e a economia fossem iguais nos dois países.
Os outros países da Zona Euro e da UE há muito que pressionam a Alemanha a aumentar os salários. As suas economias têm no mercado alemão o seu principal cliente e mais dinheiro na mão da população é positivo para toda a Europa. Acresce que a Alemanha apresenta contas externas enormemente positivas em relação à maioria dos países o que numa zona de moeda única não é saudável.
Todas as razões, pois, para apoiar as reivindicações laborais na Alemanha. E , claro, a Alemanha não corre o risco de ficar sem indústria automóvel .
Os trabalhadores e o sindicato alemão justificam os seus pedidos com o crescimento económico do país, o mais rápido em 6 anos, e no recorde que se verificou na diminuição da taxa de desemprego.
Não há como comparar as duas situações .Mas pressente-se o argumento que aí vem. Trata-se do mesmo grupo empresarial. Para trabalho igual salário igual. E a qualidade é a mesma.
Tudo o resto ( ai, a solidariedade com os pobres que nós temos mas eles não têm) esquece-se .
O secretário geral da UGT avisa trabalhadores sobre a perda de paciência dos alemães e acusa os sindicatos afectos à extrema esquerda de quererem dominar o diálogo na fábrica de Palmela.
Foi uma enorme luta liderada por Salgado Zenha que os democratas travaram para impedir a unicidade sindical que mais não é que a existência de uma voz única. (não confundir com unidade ). O regresso da unicidade sindical é mais um prejuízo colateral da proximidade da extrema esquerda ao poder.
Para Carlos Silva, “há uma tentativa de controlar uma comissão de trabalhadores, de controlar uma voz única, um pensamento único dentro da Autoeuropa”. “Espero que [os trabalhadores] consigam reagir dessa pressão que vem de determinados lados da esquerda radical deste país”, declarou.
Quando não se quer chegar a um entendimento qualquer argumento serve. Agora a Comissão de Trabalhadores quer um aumento de salário de 6% que é o dobro do proposto pela administração da fábrica.
Isto quando a inflação não chega aos 2% mas os sindicatos querem somar-lhe o que prevêem de aumento da produtividade tendo em conta o número de viaturas fabricadas com o novo horário de 24h, incluindo o sábado e com descanso ao domingo.
Se os salários estivessem relacionados a um prémio extra segundo os objectivos alcançados esta questão não se colocava. Objectivos negociados, alcançados, e os trabalhadores receberiam o combinado. Mas este esquema conhecido há tanto tempo nunca vingou nesta e noutras empresas por cá. É que aumentar o salário é uma forma de ganhar mais no presente e no futuro sejam quais forem as condições económicas e financeiras da empresa.
Transforma-se um custo variável num custo fixo. No fundo é tentar que o processo salarial usado nas empresas do estado e na própria administração pública seja adoptado nas empresas privadas que, ao contrário das públicas, vivem em mercado concorrencial.
E a Autoeuropa vai-se desgastando e perdendo credibilidade neste conflito sem fim à vista . Qual será a exigência que se segue ?
E com isso ter que despedir 2 000 trabalhadores. António Chora, ex-coordenador da Comissão de Trabalhadores, avisa. Até 2020 os investimentos estão feitos mas a partir dessa data a fábrica de Palmela pode não receber mais nenhum modelo para produção.
Até 2020 António Chora não antevê esse risco. Mas depois disso, se voltasse a fabricar apenas modelos de nicho, como monovolumes ou descapotáveis, a produção em Portugal encolheria de 240 mil estimados em 2018 para 100 mil carros por ano e seriam dispensados os cerca de dois mil trabalhadores contratados para atender às encomendas do novo modelo T-Roc.
Em declarações ao DN, o homem que em Janeiro de 2017 passou à reforma afastou a eventualidade de haver uma deslocalização da produção para outros países nos próximos dois anos. "Mas a Volkswagen pensará duas vezes antes de escolher modelos de grande produção para a fábrica se se mantiver o actual conflito", advertiu.
As crianças merecem tudo até uma creche para que os pais possam trabalhar aos sábados. Nada a dizer . Mas quando esta creche é o resultado da "greve histórica" e das manifestações dos sindicatos na Autoeuropa lembra a "montanha que pariu um rato ".
Os sindicatos em assembleias onde compareciam 500 dos 5 000 trabalhadores recusavam os acordos conseguidos pela administração da empresa e a comissão de trabalhadores, e exigiam ao governo que negociasse com o Grupo alemão a estratégia para a produção futura dos modelos eléctricos, exibindo uma petulância que roçou o ridículo.
Não só pelo que a empresa representa para o país em termos de PIB, exportações e emprego mas, também, porque a Volkswagem jamais aceitaria jogar os seus princípios e regras com sindicatos que visam objectivos políticos. Não cedendo a AutoEuropa reduziu o problema a uma creche que a Segurança Social paga ( os contribuintes pagam).
Os sindicatos ( da CGTP) julgam que salvaram a face com a esmola mas na verdade sofreram uma derrota histórica. O secretário geral da UGT, sensatamente, veio criticar a CGTP por andar a brincar com o emprego de milhares de trabalhadores e a confirmar a batota que se fazia nas assembleias gerais de trabalhadores.
A táctica é mais que conhecida e até as palavras e a entoação são as mesmas. Todos nos lembramos e a memória não se apaga com ridículas demonstrações de força que não se possui .
A Autoeuropa é uma empresa privada não depende do Estado. E o governo paga a creche a estas crianças filhas de trabalhadores bem remunerados o que não faz com as crianças de trabalhadores menos afortunados.