Enquanto milhares de trabalhadores do privado ficam sem emprego e outros com cortes no rendimento, há sindicatos a reivindicar aumentos salariais para a função pública.
É inacreditável que numa situação como a que estamos a atravessar alguém coloque seriamente essa exigência. Revela uma visão distorcida de quem trabalha, sustentando um fosso que já é profundo entre o sector público e o sector privado.
Mais uma vez a cegueira ideológica não é boa conselheira
Esta é a visão de quem tem na função pública a maioria dos seus votantes e no Estado o berço de uma sociedade estatista .
E hoje soubemos que a Ministra Alexandra Leitão vai construir um lar para estudantes filhos de funcionários públicos que venham estudar para Lisboa. Ficam de fora os filhos dos que pagam impostos e que já pagam os salários dos pais destes estudantes. Esta senhora agora ministra é a ex - Secretária de Estado da Educação que rasgou inúmeros contratos com colégios privados mas que tem duas filhas a frequentar o selecto Colégio Alemão.
Ainda gostava de saber quantos filhos de políticos frequentam a Escola Pública.
É como injectar ar para um pneu furado .Aumentar salários numa economia que não cresce.
Antes de se discutir o salário mínimo discutiram-se as rendas excessivas. As rendas garantidas são contratos celebrados entre o Estado e empresas para estimular o investimento, e só serão excessivas se o benefício concedido for superior ao produto obtido. Também o salário mínimo é uma renda garantida para estimular a justiça social e sustentar a procura interna - mas será uma renda excessiva se não houver crescimento económico, porque é distribuição sem competição.
E se a crise da peste gera dívida quando há despesas sem receitas, não se pode esquecer que antes da crise da peste já há muito se acumulava dívida e não havia crescimento - já há muito se injectavam impulsos na economia e o pneu continuava furado a danificar a jante. Quando agora se volta a discutir o aumento do salário mínimo sem dizer nada sobre a taxa de crescimento da economia e sobre a dívida acumulada, mas repetindo o argumento de que é preciso sustentar a procura interna, terá de se reconhecer que não se esqueceu nada e não se aprendeu nada, insiste-se em encher um pneu furado sem primeiro consertar o furo.
O Bloco de Esquerda e o PCP exigem que o aumento dos salários da função pública se mantenha sabendo ambos que a austeridade que aí vem é inevitável.Mas com aqueles partidos já sabemos que a austeridade é para os outros, para os que criam riquesa e pagam impostos.
Costa espera, agora, que a esquerda esteja com ele também nas ‘vacas magras’ que esta pandemia está e vai criar com particular violência. Não a terá. Catarina Martins já o disse com clareza e o PCP nem precisa de dizer. Pelo contrário falam de aumentos de salário em 2021 como se o mundo não estivesse a passar por nada de especial. O Bloco e o PCP, já se sabia, são daqueles que só ficam na festa enquanto há comida e baile; saem antes de ter de se limpar e arrumar a sala.
Na Alemanha rica e de pleno emprego os trabalhadores da indústria estão em luta para melhorar as suas condições de trabalho. Querem mais tempo para a família e um aumento salarial de 6% . Os sindicatos na Autoeuropa agarraram a boleia como se o mercado de trabalho e a economia fossem iguais nos dois países.
Os outros países da Zona Euro e da UE há muito que pressionam a Alemanha a aumentar os salários. As suas economias têm no mercado alemão o seu principal cliente e mais dinheiro na mão da população é positivo para toda a Europa. Acresce que a Alemanha apresenta contas externas enormemente positivas em relação à maioria dos países o que numa zona de moeda única não é saudável.
Todas as razões, pois, para apoiar as reivindicações laborais na Alemanha. E , claro, a Alemanha não corre o risco de ficar sem indústria automóvel .
Os trabalhadores e o sindicato alemão justificam os seus pedidos com o crescimento económico do país, o mais rápido em 6 anos, e no recorde que se verificou na diminuição da taxa de desemprego.
Não há como comparar as duas situações .Mas pressente-se o argumento que aí vem. Trata-se do mesmo grupo empresarial. Para trabalho igual salário igual. E a qualidade é a mesma.
Tudo o resto ( ai, a solidariedade com os pobres que nós temos mas eles não têm) esquece-se .