Nada a dizer, não é o primeiro nem será o último . Os montantes é que sendo muito elevados fazem alguma confusão mas isso é para gente remediada . Para viver no centro de Paris ou em Nova York é preciso ter um amigo milionário e generoso e quem não percebe isto ou é invejoso ou é remediado. Pecados mortais.
Não venham dizer que a narrativa serve a um e não serve a outro. Isso é vergonhoso e injusto. E, não, a Justiça não tem a ver com essa dualidade de critérios.
Não é a primeira nem será a última. Começou com a Fernanda Câncio que escreveu na sua coluna no DN que não sabia que o dinheiro com que o ex-PM pagava as despesas era de um amigo. Se soubesse não teria aceitado a situação. Sempre lhe foi dito que a família tinha meios de fortuna ( cito de memória) .
Com a revelação do processo muitos outros dirão o mesmo. Não sabiam, mas bateram palmas, encheram salas e criticaram quem deles discordava.
Agora também sabemos que o "Abrantes" era mesmo um funcionário pago por Sócrates para dizer bem dele e do seu governo . E, evidentemente, o dinheiro vinha de uma conta pertencente a um tal Mão de Ferro, arguido no Processo Marquês. Nunca é como nos é contado, há sempre um tio, um primo, uma ex-namorada, um amigo, um amigo de um amigo...
E dinheiro, muito dinheiro...
Isabel Moreira: ‘Sócrates teve um comportamento que é eticamente condenável
É ver os principais devedores da CGD para se perceber como é o negócio. Conceder crédito a quem já era devedor duvidoso é prática corrente. E como é nossa, pública, vamos pagar.
E não vejo nesta lista os nomes de quem ajudou ao assalto do BCP com o dinheiro da CGD. O CM avança que a situação tem como consequência a exposição de “mais de 2,3 mil milhões de euros de empréstimos em risco de não serem pagos” que o banco público concedeu. Mais uma festa .
Confessou que recebeu milhões de euros de um amigo a quem, enquanto primeiro ministro, adjudicou centenas de milhões em obras para o estado. Chama-lhe empréstimos. Alguém acredita ?
Já do ponto de vista individual, será que José Sócrates acredita que é possível os portugueses acreditarem que é normal uma pessoa adulta – independentemente de ter sido ou não primeiro-ministro – viver à custa do dinheiro que lhe é dado por um amigo? Será que José Sócrates acredita que é normal que os portugueses acreditem que é normal um homem feito receber de um amigo milhares e milhares de euros em dinheiro vivo, em notas, que usa para si e que aparentemente redistribui por uma parentela de familiares, ex-parentes e conhecidos?
Será que José Sócrates acredita que é normal que os portugueses levem a sério a tese de que é um preso político? Nos dados conhecidos do processo, há indícios de que esteve alguma vez em causa sequer um crime de delito de opinião? Qual a acusação política de que foi alvo? A suspeita não é de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para acto ilícito? Será normal um adulto na posse das suas faculdades normais acreditar que é possível que alguém leve a sério e acredite na tese de que está a ser politicamente perseguido ao ser investigado por crimes como os que José Sócrates é suspeito ?
António Costa e camaradas têm toda a razão em não quererem Sócrates no centro da campanha eleitoral. É que nem eles acreditam .
Ricardo Salgado não está preso porque apresentou uma caução de três milhões de euros. E sabe-se hoje que uma das suas empresas funcionava como um saco azul por onde passaram trezentos milhões para pagar favores. As cartas de Salgado são públicos avisos que não cairá sozinho. Para se ser "dono disto tudo" é preciso beneficiar de cumplicidades e de comprar favores.
As cartas de Salgado enervam políticos e gestores que falam por ele. Se ninguém recebeu também ninguém pagou ora essa.
A ideia é mostrar que receber comissões da compra de submarinos é normal. Mesmo que sejam 30 milhões é normal . E que a Caixa Geral de Depósitos (banco do estado) não financie tal negócio também é normal.
E a falência do grupo ficou a dever-se à falta de apoio do estado que, anteriormente, era normal prestar. Tivesse o estado feito o que devia, como sempre , e nada disto tinha acontecido.
A táctica é a mesma de quem está impedido de escrever cartas e de dar entrevistas. É preciso lembrar, manter a pressão, não deixar cair no esquecimento público. Os destinatários, alguns mesmo involuntariamente, fazem o serviço. É a chantagem de Salgado. Se ele quiser sabe-se tudo.
O meu pai dizia que quem tem amigos não morre na prisão. Mal sabia ele que os amigos também podem ser indesejáveis e muito prejudiciais. Miguel Macedo que o diga. Qualquer dia para se ir para o governo é preciso não ter passado ou ter vivido num mosteiro. Dos Beneditinos de pé descalço.
O melhor ministro da Administração Interna depois do 25 de Abril, é vítima colateral de uma rede que envolve uma série de gente que se conhece há muito. E não por acaso ascenderam ao poder em sectores dos mais sensíveis para o país. Todos eles eram necessários para que o esquema funcionasse. Era necessária uma certidão passada pela Justiça ; uma certidão emitida pelo notário e um passaporte. É o que se chama vender o serviço em "pacote".
Há quem veja nisto tudo um golpe de estado falhado . Bem vistas as coisas os suspeitos foram nomeados há mais de dez anos, por Barroso e por Sócrates, mantidos por António Costa enquanto ministro da Administração Interna e ingenuamente intocados por Miguel Macedo. E aqui é que a porca torce o rabo. É que são todos amigos do ex-ministro e ninguém acredita que não foi por amizade que os manteve. E da amizade a ser sócio vai um saltinho. E de amigo e sócio a estar envolvido na "bisca lambida" o salto ainda é menor.
E na vida política o que parece, é. Infelizmente já não tenho oportunidade de dizer ao meu pai que ele estava enganado.