Alberto Gonçalves : No mesmo dia em que os funcionários da ditadura atacaram com marretadas pedagógicas o parlamento venezuelano, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, uma excrescência do PCP, desfilou a regozijar-se com o sangue das vítimas. Na homenagem, participaram, cito, “representantes da câmara municipal de Lisboa” e, quiçá em celebração de Tancos, a Banda do Exército. Segundo o “Diário de Notícias”, o belo evento “foi perturbado por um incidente com um cartaz”. O cartaz rezava “Venezuela Livre”, e o portador acabou devidamente assaltado em prol da paz e, claro, da cooperação.
Nem menciono os cidadãos de origem portuguesa hospedados em cadeias venezuelanas por razões políticas. Mas sabem dos três enviados da SIC e do Expresso presos em Cuba sem razão aparente? Provavelmente, não, já que por cá o assunto mereceu atenção idêntica à dedicada ao campeonato paquistanês de críquete. De qualquer modo, o PSD, com a escassa moral que lhe resta após tolerar o lamento parlamentar por Fidel, apresentou um voto de protesto contra o sucedido. O voto mereceu o apoio do CDS, a oposição do PCP e a abstenção de PS e BE. É como defender a "causa" homossexual enquanto se venera a Palestina: os famosos "direitos humanos" terminam logo que começa a afinidade ideológica. Para o que importa, os eleitores radicalmente distraídos ficam então informados de que a maioria dos seus representantes na AR acha muitíssimo bem, ou pelo menos não se importa, que jornalistas sejam detidos à toa. Também convinha que alguém informasse os jornalistas.
Primeiro de Maio. À porta de supermercados em funcionamento, pequenas manifestações da CGTP contestam a obrigação de alguns trabalhadores trabalharem no dia que lhes é dedicado. A ideia percebia-se melhor caso a CGTP não contestasse também o trabalho em, digamos, qualquer outro dia do ano. Se não é o 1.º de Maio são os outros feriados, se não são os feriados é o domingo, se não é o domingo são os dias úteis que a CGTP deseja tornar inúteis por força de greves, etc. Nas palavras do grande Arménio Carlos, todos os dias são dias de luta. Donde se deduz que nenhum é, ou devia ser, dia de trabalho. No fundo, com um altruísmo raro nos tempos que correm, os sindicalistas apenas aspiram para quem trabalha o ócio de que eles próprios usufruem. E se criticam os números do desemprego, é por estes lhes parecerem baixos: quando, graças à sua inestimável ajuda, os números chegarem a valores aceitáveis, a CGTP avisa. Ou pré-avisa.