No último mês o PS iniciou o movimento de alijar a carga da extrema esquerda. Primeiro foi António Costa " dá para ser amigos mas não para casar" . Depois Carlos César " para PCP e BE irem para o governo há que rever o que pensam sobre a NATO e a União Europeia ".
Hoje o Presidente da Câmara de Lisboa, no seu discurso do 5 de Outubro, criticou severamente a política com que PCP e BE impedem as iniciativas parlamentares do PS sobre a habitação.
O PS quer aumentar a oferta de habitação para assim baixar o preço, colocando no mercado os milhares de fogos de que é proprietário bem como as propriedades da câmara e da misericórdia . Contra esse aumento de oferta os apoios parlamentares do governo seguem a política habitual do saque fiscal sobre a propriedade privada.
...lamentando que a discussão sobre o problema da habitação esteja entre “aqueles que acham que nada deve mudar. Que um mercado totalmente liberalizado, com contratos precários e de preço livre responde às necessidades das famílias” e a outra frente, a mais à esquerda, dos “que no fundo rejeitam a existência de um próprio mercado da habitação” e que “defendem a fixação administrativa dos preços, a transferência para os senhorios de responsabilidades que só ao estado social competem”. Nesta esquerda mais radical — que Medina não referiu assim — apontou até “violações grosseiras aos direitos de propriedade.
Como o Presidente da República só pode indicar o primeiro ministro depois de " analisados os resultados das eleições e ouvidos os partidos" e como nenhuma das condições indicadas está preenchida , infere-se que a declaração a proferir hoje seja a que faltou no dia da implantação da República.
Depois de ter ouvido Passos Coelho, cujo governo já anda aí pela comunicação social ( o telefone nunca mais toca) e tendo em conta que no PS ainda nem se sabe se António Costa, muito fragilizado politicamente, terá condições para representar o partido , esta declaração pública só vem confirmar que na cabeça de Cavaco há muito que, centímetro a centímetro, está lá tudo.
Também é verdade que aqueles apelos do PCP e do Bloco de Esquerda para um governo de esquerda é um faz de conta e o melhor mesmo é não perder tempo, mas convinha que " a gata com a pressa não tivesse os filhos cegos".
Ou será que a audição já foi feita ao 6º grupo parlamentar ? O grupo de deputados seguristas que foram atraiçoados e que agora podem viabilizar o governo com os seus quinze deputados ?
O discurso de Cavaco Silva no 5 de Outubro só tem o defeito de ter como autor o político com mais anos de vida política activa. De resto só diz verdades. Tem culpas no cartório? Não é só ele, temos todos. Votamos em partidos que se tornaram organizações carreiristas de gente medíocre. Aplaudimos o que tem a nossa cor mesmo que seja muito mau. E ninguém se mostra interessado em encontrar soluções e compromissos com vista ao interesse nacional.
O PCP é o retrato fidedigno desta situação. Não muda um milímetro seja qual for a situação ou o problema. Acusa todos os outros mas o que tem para oferecer é repudiado pela esmagadora maioria da população. Para os comunistas quem está errado é o povo que não vota neles. Para o Partido o que está em primeiro é a sua ideologia e os seus princípios . E nós sabemos todos o que aconteceu e acontece nos países que seguiram a via defendida pelo PCP.
Portugal é hoje um país desenvolvido, democrático, um estado de direito com um admirável estado social e está inserido no maior espaço económico; no espaço social mais justo e com maior qualidade de vida. Quem compreende que o PCP queira por tudo isto em causa?
Abriram todos os telejornais. Vinte. Entre eles um herói que foi preso por um braço e que teve direito a entrevista em directo. Isto sim é uma manifestação.
"Todos os jornais noticiaram os protestos do movimento Que se Lixe a Troika nas cerimónias do 5 de outubro. O que nem todos os jornais noticiaram foi a quantidade de participantes: cerca de 20, segundo o Expresso. Chamem-me antiquado, mas ainda sou do tempo em que uma manifestação envolvia alguns milhares de criaturas. Vinte desgraçados a exigir a demissão do Presidente e do primeiro-ministro não traduzem exatamente o descontentamento da população, de resto plausível: traduzem um problema psiquiátrico de que o SNS devia ocupar-se. Infelizmente, como se sabe, a troika encolheu os respetivos recursos. Em vez da ambulância do INEM, consta que foi a polícia a deter um desgraçado. Ou, se a imprensa quiser destacar o excesso de zelo das autoridades, cinco por cento dos manifestantes."
António Costa, no seu discurso, enquanto Presidente da Câmara de Lisboa ( não se esqueça) lembrou o óbvio mas que só António José Seguro não vê. Amordaçado e amarrado de pés e mãos por Mário Soares, Alegre e outros barões socialistas, Seguro faz o discurso inverso. Para o PS não há negociações com a Troika nem com as instituições Europeias que já declararam mil vezes que o caminho para Portugal é o do ajustamento. Com reforma do estado.
"a hora da construção de uma estratégia nacional de desenvolvimento justo e sustentável", a qual só será "verdadeira e consistentemente nacional se recolher amplo apoio parlamentar e social", reforçando "a nossa posição negocial perante as instituições internacionais".
Nenhum secretário geral do PS diria melhor. Mas é preciso pensar pela própria cabeça e não ter medo de fantasmas. Seguro, quer um segundo resgate como forma de obrigar a eleições antecipadas de onde sairia em glória.
Para Costa mais democracia; para Seguro a guerrilha prejudicial ao país. O povo terá oportunidade de escolher!