Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BandaLarga

as autoestradas da informação

BandaLarga

as autoestradas da informação

Salgueiro Maia, herói de Abril

 

No dia 25 de Abril fui testemunha presencial do cerco ao Quartel do Carmo. No meio da multidão em fúria e dos soldados jovens e inexperientes, um capitão houve que manteve a serenidade e a coragem. Evitou um banho de sangue tanto para a multidão de civis como para os militares sob as suas ordens . O Quartel do Carmo, para quem o conhece por dentro, é uma fortaleza inexpugnável. O portão por onde as tropas sitiantes podiam entrar estão na mira de cem janelas que, estavam ocupadas, cada uma delas, por um militar armado da GNR.

Salgueiro Maia, conseguiu obter a rendição do Quartel e do Prof Marcelo Caetano, de uma forma digna e firme. Não se deixou empurrar pelas paixões dos que queriam sangue, encobertos no anonimato e teve mesmo que ser diplomata ante a cadeia hierarquica de que era o principal operacional.

Antes disso esteve sempre disposto a morrer como aconteceu na Praça do Comércio impedindo, com risco da sua própria vida, que as tropas em confronto  abrissem fogo.

Cumprida a missão voltou para Santarém sem pedir nada. Recusaram-lhe uma medalha que mereceu como ninguém. É altura de todo um povo prestar homenagem a este herói. Deve ser transladado para o Panteão Nacional!

 

PS : é conhecida a vontade do Capitão de Abril que deixou expressa no seu testamento. Os seus restos mortais permanecerão em campa rasa no cemitério da sua terra natal - Castelo de Vide. A sua viúva já veio confirmar essa última vontade.

Pelos sítios históricos do 25 de Abril

sitios.jpeg

 

A A25A levou a efeito um passeio por Lisboa para visitar os sítios onde decorreram as operações militares no dia 25 de Abril. Guiados por três "capitães de Abril" ficamos a conhecer as peripécias que  mais e melhor contribuíram para o êxito da operação. Desde a fragata no Tejo que se negou a disparar contra os militares sitiados no Terreiro do Paço, até aos valentes milicianos que não obedeceram ao Major de cavalaria que deu ordem de disparar a matar sobre Salgueiro Maia.

Uma visita à antiga sede da PIDE, hoje convertida numa moderna e luxuosa residencial onde "ainda" perdura uma lápide de homenagem aos heróis que passaram pelas suas masmorras. Depois o Largo do Carmo e o Quartel da GNR onde se deu a rendição de Marcelo Caetano. Estivemos nos aposentos onde o antigo Presidente do Concelho se entregou com dignidade. Marcelo Caetano recusou-se a fugir pelas traseiras do edifício " porque a fuga naquelas condições não era digna" segundo uma testemunha.

Um dos oficiais da GNR mostrou-nos como teria sido uma mar de sangue se a guarda tivesse respondido aos tiros que foram disparados contra o Quartel. A entrada na praça interior é uma armadilha inexpugnável. Leiam o livro " por trás do portão" de um oficial que viveu os acontecimentos e que hoje nos acompanhou.

Há também histórias divertidas e que nos dão a ideia que nos grandes momentos, para além da determinação e da coragem, há muita coisa que depende do destino ( ou do que se queira chamar). Tive a oportunidade de me encostar à esquina de onde assisti a tudo naquela tarde histórica. Um bom almoço na A25A deu por fim um dia muito bem passado.

carmo.jpeg

 

 

A liberdade é de todos o 25 de Abril é dos capitães

Há por aí um coro sobre a propriedade do 25 de Abril. Se é o golpe efectuado no dia 25 de Abril de 1974 então não há dúvida que é dos capitães de Abril. Se é o seu espírito, a revolução popular a que deu corpo então é de todos. Como faço desde sempre desci a avenida integrado na manifestação mas não gostei de ver os capitães de Abril "cercados" por políticos. Nos anos anteriores dava-se de caras com um ou outro político do PCP mas não mais do que isso, desta vez era um cerco. Por causa do momento histórico e significativo do Largo do Carmo?

Os partidos já perceberam que ou tomam nas suas mãos as mudanças políticas que o sistema vigente teima em impedir ou alguém o fará. A abertura à sociedade civil, com participação dos cidadãos nos diversos níveis da vida partidária é a chave . É agora necessário que os capitães mantenham no essencial as devidas distâncias para com os partidos. Porque não se duvide, da direita à esquerda, os verdadeiros adversários  do "espirito de Abril" renascido no Largo do Carmo, são os partidos. E não hesitarão em se juntarem esquecendo diferenças ideológicas.

 

 

 

 

O 25 de Abril - derrota dos totalitarismos da esquerda e da direita

Henrique Monteiro : A importância destes acontecimentos, em que é a força do povo a derrubar, primeiro, o totalitarismo de direita, representado por Marcello e o Estado Novo; e em seguida a perversão totalitária de esquerda, representada pelo PCP, partidos esquerdistas e militares que lhes eram afetos, ainda tem muitos estudos e campo a desbravar. Mas, para que não restem dúvidas, o tempo que mediou entre o 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975 foi uma fonte de inspiração para democratas de todo o mundo, fosse qual fosse o totalitarismo que tinham pela frente.



O MITO OU A DATA? por José Manuel Barroso


A dia 25 de Abril de 1974, duas coisas essenciais aconteceram: acabaram as guerras em África e a ditadura do Estado Novo. Era a História de um povo que dava um salto. Subitamente, a democracia ou a promessa dela. Subitamente, o fim anunciado do Império. Num compasso de espera para ambos, mas uma via sem retorno. Em África, os quadros militares e grande parte dos soldados entenderam o 25 de Abril como um regresso a casa anunciado. Na Guiné, o MFA local decretou um cessar-fogo unilateral, logo a 26. Em Moçambique, as armas também se abateram, que a guerra não é apenas capacidade militar, é também vontade de combater. Angola demorou um pouco mais, mas o que estava ganho no terreno acabou por ser derrotado pela falta de ânimo - ninguém ganha uma guerra que considera perdida. Spínola queria fazer uma transição diferente, mas precisava para isso de força militar durante um período transitório. E precisava de uma retaguarda forte que lhe permitisse a manobra. Levou algumas semanas a entender que isso era o antes, nem força militar, nem tempo. Melo Antunes disse, um dia, com verdade inteira, ter sido a descolonização feita «contra Spínola». Mesmo afirmando haver um projeto político, consubstanciado no Programa do MFA, o certo é que a direção assumida do movimento foi fiel ao clássico: se o regime não consegue ganhar politicamente a guerra, abata-se o regime para terminar com a guerra. O Exército não pode, nem aceita, sair derrotado. Nada de mágoas do Império. Nem nova humilhação, como no episódio da Índia Portuguesa de 1961, sob Salazar. O 25 de Abril, na sua versão puramente política, era o resultado unido das lutas da oposição, depois de Delgado e, sobretudo, depois de 1969. Todo as ideias políticas da esquerda socialista e comunista estava lá, no Programa inspirado nos Congressos de Aveiro e nos programas da CDE. Telegraficamente, mas estava. Melo Antunes também reconheceu isso. E, assim, o jeito de terminar o Império. E, por isso também, arrumado o Império, as lutas internas que terminaram no 25 de Novembro. A esquerda aparentemente unida da Comissão Coordenadora do Programa tinha duas componentes que, sob o nome escondido de socialismo, não eram compatíveis: uma queria um regime social de esquerda, com democracia, a outra sonhava com 1917 e Lenine. Esta ficou fechada nos desertos demográficos do sul, Alentejo e Ribatejo e num pedaço da cintura industrial de Lisboa. A outra espraiou-se pelos populosos centro e norte anti-comunistas e católicos. À cacetada e na rua, o povo cristão e a classe media apoiaram Soares e o grupo dos Nove e depois elegeram Eanes. Ficaram as concessões feitas a Cunhal, para reequilibrar as coisas internamente entre as fações militares e os partidos: um Conselho da Revolução, só extinto em 1982, a unicidade sindical e uma Constituição democrática, mas «rumo ao socialismo». Reforma Agrária e nacionalizações. Pesos que ainda pesam muito na balança do país, mesmo depois da adesão à Europa comunitária. A verdade é que, no fim de contas, vivemos há 40 anos na mais estável, mesmo se problemática, democracia da nossa longa História. Valeu a pena? Tudo vale a pena, disse o grande poeta, «se a alma não é pequena». O 25 de Abril, com tudo o que encerra e encerrou, valeu um país livre.

Em Abril muitos apenas mudaram de sinal - Por Rita Ferro


Rita Ferro : Há pessoas para quem Abril serviu apenas para mudar de sinal. Foram perseguidas, perseguem. Foram difamadas, difamam. Foram censuradas, censuram. Passaram fome e coleccionam agora sinais exteriores de riqueza. Juro: há uma esquerda sofrida, humilhada e perseguida, por quem me penitencio e envergonho mesmo sem qualquer sombra de culpa pessoal - designadamente entre operários e artistas. Mas esta gente que nasceu nos anos 70 e se arvora de heroína, usando os mesmos chavões de há 40 anos, soa-me a falso. Que luta foi a sua? Contra quem? Ser de esquerda num país previamente libertado é tão corajoso como ser de direita no tempo de Salazar. Falo de vegetais.

AS MINHAS MEMORIAS DO 25 DE ABRIL DE 1974.- Prof Raul Iturra

 

 

 

 

Foi um dia que me alegrou das minhas tristezas. Habitávamos nas Universidades de Edimburgo, na Escócia e de Cambridge, da antiga Inglaterra. Em Edimburgo, aprendia Antropologia e Ciências da Educação, e na de Cambridge, Etnografia e ensinava para ganhar a vida. Mas, em 1970 soubemos que o médico e político, Senador por Valparaíso, a minha cidade, Salvador Allende corria pela quarta vez para ganhar a Presidência do Chile, não hesitamos, entramos no avião e fomos ao Chile para votar por Allende. Aliás, o meu chefe de Cambridge Sir Jack Goody, queria saber como era o socialismo votado en liberdade, ele, um antigo comunista que tinha lutado na guerra civil espanhola e havia sido prisioneiro dos nazis es Auschwitz durante 4 anos. A sua curiosidade foi satisfeita, Salvador Allende, o Herói Internacional, ganhou, mas as nossas famílias burguesas, aliciaram às Forças Armadas que em 1973 se alçaram contra o Presidente Constitucional do Chile, o bombardearam e o obrigaram a morrer por suicídio para evitar uma guerra civil. A ditadura durou 19 anos, até ser derrubado por plebiscito que Karol Wojtila, João Paulo II como Papa católico, tinha ensinado como fazer para os antigos democratas. Wojtila tinha já derrubado a ditadura nazi e a do Stalin, na sua Polónia natal. Ele não foi visitar o ditador, foi para se reunir para ensinar como derrubar ditadores sem matar ninguém.

 

A 11 de Setembro de 1973, aconteceram os fatos que matariam a Allende y a milhares. Eu fui levado para um campo de concentração: torturas, fuzilamentos simulados da minha pessoa e da minha irmã analista, quem teve que fugir depois em 1975, com marido e filha. Eu fui salvo por Goody, Steven Hugh-Jones, Iain Wright e o grupo de Academics for Chile. A 9 de dezembro de 1973 estava de volta na minha Universidade sem família, resgatado por Jack e o meu Bispo Carlos González, na Grã-Bretanha fui feito prisioneiro, até ser resgatado pela minha Faculdade Trinitiy Hall. Não tolerava Cambridge nem ninguém, passava o tempo na casa do meu antigo colaborador Tapia Soko e família. Um português vizinho de rua dos Tapia, veio a apresentar-me os seus sentimentos e comentava: é melhor assim, uma boa luta que viver como nós sob uma ditadura de cinquenta anos que nem me deixa tornar a Portugal, já com o meu curso acabado. João Estrela ganha a sua vida ensinando português em Essex, onde Ernesto Laclau, o afamado Cientista Político, defendeu estes chilenos exilados e apoiou o João.

 

Um dia qualquer, aparece em casa Tapia já quase bêbado de alegria, disse-nos para ir a sua casa porque em Lisboa qualquer cosa estava a acontecer. Era o 25 de Abril de 1974 e as Forças Armadas tinham-se também alçado contra a ditadura presidida por Marcelo Caetano, cercaram o mosteiro do Carmo em Lisboa centro, parte alta. Mosteiro em que as cinco da tarde, Caetano depunha os seus poderes no Comodoro Spínola e embarcava essa noite rumo para o Brasil, a sua prisão, onde viria a morrer depois, com todos sabemos. Essex, Cambridge, Edimburgo suspenderam as aulas e una manifestação foi organizada, como en Londres, pelo Goldsmith’s College, onde eu também ensinava, e pela afamada London School of Economics, presidida como Reitor pela Rainha mãe, em Cambridge o Reitor era Filipe de Edimburgo, marido de Isabel Windsor II do Reino Unido, e a Princesa Real Ana Windsor, a de Edimburgo. Tinha em Cambridge como estudantes dos filhos dos Windsor, o mais velho Charles e o mais novo, Edward.

 

O 25 de Abril foi assim comemorado no Reino Unido e não parou ao longo de três dias.

 

Comemorar a liberdade portuguesa, fez-me esquecer a morte do meu presidente, a falta de família e a nossa derrota. É a vida que decorre: caia a ditadura portuguesa, aparecia outra no fim do mundo, organizam-se governos diferentes. Nas duas, estava Carlucci da CIA, disfarçado de Embaixador. No Chile, papel cumprido, em Portugal, não aceite por Otelo Saraiva de Carvalho e por Ramalho Eanes.

 

Estas não são lembranças, ia aparecer como conto inventado. É a minha memória do que aconteceu no mesmo dia do 25 de Abril de 1974, num país amigo de Portugal.

 

Raul Iturra

 

25 de Abril de 2014.

 

lautaro@netcabo.pt

 

LIBERDADE CONDICIONAL

Foi publicado há dias um estudo de opinião realizado pela Universidade Católica relativamente ao sentimento dos portugueses quanto ao regime de 1974.

 

Dele resulta que 83 por cento mostram “desagrado pelo estado da democracia”. Não parece que tal resultado radique em acontecimentos ou políticas recentes, uma vez que, sublinha o estudo, já em 2001 a mesma opinião era expressada por 76 por cento dos auscultados.

 

Observando pontos mais concretos do trabalho, os portugueses consideram o país mais pobre e mais inseguro do que no tempo do Estado Novo. E 49, contra 40 por cento com a opinião contrária, consideram que, hoje, as condições de trabalho são piores do que há 40 anos.

 

Particularmente significativo que as considerações pessimistas se adensem na mesma medida é que é maior a idade dos inquiridos. Precisamente aqueles que viveram nos dois regimes e, portanto, estão em condições de comparar um com outro tempo.

 

O estudo está aqui - http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=732245&tm=9&layout=121&visual=49 .

 

Jovem em 1974, mas já adulto, habituei-me a ouvir o epíteto de “fascista”, ou outros quejandos, a quem, no uso da liberdade então decantada, ousasse dizer algo que não fosse de franco elogio a tudo quanto tivesse saído da acção libertadora. Epíteto que os fautores do regime se esforçavam por fazer perdurar como estigma indelével.

 

Ora, ninguém tem dúvidas de que Portugal não era, em 2001, habitado por 76 por cento de fascistas e que, hoje, tal ideologia tenha conquistado as convicções de 83 por cento dos cidadãos nacionais.

Voltando ao estudo, um ponto há em que a maioria destaca o positivo do regime de Abril – a liberdade. Assim o consideram 80 por cento dos inquiridos.

 

Quem não vivesse em Portugal, mas ouvisse a nossa rádio, visse a nossa televisão ou lesse os nossos jornais, tenderia a refutar estes dados por completamente irrealistas. Ao longo de trinta e muitos anos, em fases diversas e com uma ou outra ténue variação de menor optimismo, a tónica geral, entre a euforia e a moderação, era a de que vivíamos num país livre, mas também moderno, progressivo, pacífico e abrangente.

 

Uma das conquistas de Abril, nunca falada, mas nem por isso menos importante, foi a da criação de uma nova classe profissional – a dos políticos. Até 1974, a política era, por norma, actividade fugaz, exercida transitoriamente por aqueles que a ela eram chamados.

 

Hoje, é a única classe profissional cuja carreira está isenta de sobressaltos. Não precisa de mercado porque é ela própria quem o cria. Não precisa de sindicatos porque paga a si própria, com dinheiro alheio, o que também ela própria determina e que, por regra, é muito. Não tem de temer o desemprego, já que, ciosamente e de forma generosa, tem vindo a ampliar os seus próprios postos de trabalho. Quase sempre inúteis e improdutivos.

 

Num alarde se superabundante cautela, preveniu também com chorudas pensões precoces a existência confortável para muitos anos após o termo da carreira, normalmente voluntário e muitas vezes temporão.

 

São, instalados entre o conforto e o fausto, os donos da nossa liberdade.

 

Não admira, pois, que, ao longo destes longos anos tenham transmitido a mensagem da estabilidade, da prosperidade, da garantia dos direitos sociais. De nós, só precisam do voto para garantia da sua estabilidade. E, por via das dúvidas, bloquearam há muito o acesso de outros à sua actividade, eliminando cerce qualquer oportunidade à concorrência.

 

O primeiro acto deste sistema de bloqueio foi o “Pacto MFA-Partidos”, que limitou o acesso a eleições àqueles que aceitaram as condições impostas pelos militares da famosa Comissão Coordenadora. O resto tem sido feito com o domínio da Comunicação Social e com os constrangimentos económicos que também criaram ao reservar as subvenções estatais aos que já tivessem assento parlamentar.

 

O seu castelo é inexpugnável e a ponte levadiça sobe e desce ao seu comando para exclusiva serventia dos seus escolhidos. Quem quiser que fale e diga o que quiser, mas que o faça do lado de fora do ribeiro circundante. Ou banhe-se, mesmo, no mais completo sossego, tal é a magnanimidade.

 

Curiosamente, desde há três anos, esta nova classe profissional tem vindo a aderir às conclusões do estudo de que falei. A prosperidade desapareceu, o país está mais pobre, as condições de trabalho tendem a regredir ao tempo de Salazar. E, pasme-se, aí divergindo do que pensam os seus concidadãos, até a liberdade está ameaçada.

 

Portanto, dizem, impõe-se apear, nem que pela força seja, quem, no poder, ameaça a sua saudável situação profissional. Nem que, como é o caso, tenham sido eleitos de acordo com as regras que ela própria, classe política, criou e impôs. O sistema é bom, porque é o seu, mas o povo não soube escolher.

 

Faz agora quarenta anos que prometeram entregar-nos o nosso próprio destino. Dar-nos a liberdade de escolher quem queiramos para nos representar nos órgãos do poder.

 

Mas, agora é claro, desde que escolhamos quem eles acham que é bem escolhido. Ou, para ser mais preciso, desde que escolhamos quem eles achem que deve ser escolhido. Portanto, desde que os escolhamos, a eles.

 

Não estarei hoje pela Avenida da Liberdade. Também não estive lá, no domingo passado, a festejar a vitória do Benfica.

 

Talvez alguém que lá tenha ido nas duas ocasiões possa dizer-me qual delas foi mais concorrida.

A comoção de Salgueiro Maia

Esta é a foto ao mesmo tempo mais bela e mais importante do dia 25 de Abril. Salgueiro Maia, na Avenida das Naus, logo após a desistência das forças fiéis ao antigo regime, muito melhor equipadas, morde o lábio inferior para combater a comoção. Eduardo Gageiro foi o único fotografo presente na alvorada do 25 de Abril. Foi o momento mais longo de todos os momentos...