Retomar o aparelho do estado
Não é por causa da austeridade e nem por causa dos pobrezinhos : "Aquilo que define o PS, o PCP e o BE não é a preocupação com as vítimas da austeridade ou com os “mais desfavorecidos”, mas o facto de serem partidos que fizeram dos dependentes do Estado as suas bases de apoio. Não quero com isto dizer que o PSD e o CDS também não utilizem o poder do Estado para dar empregos e fazer favores. Mas no PSD e no CDS, há quem julgue (e também há quem não julgue) que é possível gerar votos garantindo a propriedade privada e a liberdade de iniciativa dos cidadãos, e que esse seria até o melhor meio de o país aproveitar os mercados globais. Nada disto é necessariamente de direita: em França, é o PS quem neste momento tenta adaptar a sociedade à “globalização”. Mas no PS português, há cada vez menos gente a pensar assim, e no PCP e no BE nunca houve. A operação política de Outubro não visou reverter a austeridade, mas reocupar o Estado, com dois fins: defender ou refazer clientelas, e reestabelecer uma cultura de restrição da propriedade e da iniciativa dos cidadãos.