Quando o burro está a comer não se lhe pode mexer na barriga
As crises têm este efeito. Muitos, mas mesmo muitos, andaram anos a dizer que o modelo económico não era adequado . Em duas semanas é o próprio primeiro ministro a dizê-lo em público, o ministro das finanças e as elites das classes académica e empresarial. Estão todos de acordo. É preciso mudar de modelo de desenvolvimento económico.
Isto faz lembrar " que a burro que está a comer não se lhe pode mexer na barriga". Enquanto foi dando para manter um certo nível de despesa mas sem resolver qualquer problema estrutural, a maioria foi comendo. O ambiente económico permitiu esse jogo de xadrez que Costa e Centeno manobraram com critério. Mas como sempre foi claro, ao primeiro embate o país estaria numa situação crítica para enfrentar a crise que daí resultasse.
"Portugal tem de se colocar nessa primeira linha do reforço da base industrial e da capacidade de produção nacional, além do mais porque somos dos países que ainda sabemos fazer muitas das coisas que a Europa se habituou a deslocalizar para o Oriente", disse António Costa.
Reiterando a urgência de "perder dependências que hoje existem de produtos e de serviços, trocando tanto quanto possível importações por fabrico interno", o presidente da CIP defendeu uma "ótica europeia federal" ao nível da indústria, em que "cada Estado membro tem estratégias próprias de desenvolvimento económico" que permitam uma diminuição da dependência externa que hoje se faz sentir.
E, tanto o Primeiro Ministro como António Saraiva repetem agora o que há mais de 30 anos o celebre economista americano Peter Druke veio cá dizer. É esse caminho que temos que prosseguir e esta crise até nos pode despertar para acelerarmos o que já vínhamos fazendo em setores que estão a reinventar-se, como o têxtil, o calçado, a metalurgia e metalomecânica, a aviação e aeronáutica ou os moldes", sustentou. E o cluster do Mar com um extraordinário potencial e tão mal aproveitado.
Para António Saraiva, a atual crise veio até "acelerar mais" o processo de transição para a economia digital que em Portugal já estava em curso, impondo um ainda maior recurso às plataformas eletrónicas e ferramentas digitais .
Ou o país tem coragem de percorrer este caminho difícil ou continuaremos pobres, com dois milhões de pobres, salários baixos, emigração e profundamente endividados.
E este trabalho não é de esquerda nem de direita. É um trabalho patriótico.