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BandaLarga

as autoestradas da informação

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PORTUGAL CARECE DE CARIDADE - Prof Raul Iturra

 Nestes dias tenho dedicado a minha escrita sobre como se deve tratar a una pessoa do sexo feminino, bem como a história de Pio XII.

 

No entanto, aparece o momento em que precisamos uns dos outros, especialmente quando o trabalho acaba para todos, as fábricas fecham e as manufaturas começam a despedir mão-de-obra, esse capital variável da produção de bens e mercadorias para vender. Variável, por ora há, ora não existe mais ou pelo resto da vida de uma pessoa, ou por um período cumprido de tempo. Quem decide estes momentos sem emprego, é o proprietário di denominado capital fixo o proprietário dos meios de produção. Proprietário que pode dispor livremente do seu dinheiro e bens. Esse proprietário é quem carece do que tenho denominado caridade: despedir quando quer trabalhadores da sua fautoria, diminuir o ordenado conforme o lucro da venda dos bens produzidos, ou incrementar o salário se é-lhe mais conveniente para prosperar dentro do mercado. A teoria é bem conhecida por todos nós e a ela me remeto.

 

O que não é conhecido é que proprietários e operariado devem-se orientar pelo que é denominado as virtudes teológicas que orientam, o devem orientar, o seu comportamento no trabalho. Não apenas a lei civil do código do trabalho e a constituição de um estado, há outros saberes que devem orientar o nosso comportamento, como tenho definido no capítulo de uma livro coletivo de 2004, resultado de un seminário sobre religião e economia na Universidade da Beira Interior e que faz parte do texto de este blogue de Banda Larga: A religião é a lógica da cultura, 39 pp. O livro é Em nome de Deus. A Religião nas sociedades na sociedade contemporânea. O que não analisamos nem no livro nem no meu texto, foram as denominadas virtudes teologais ou uma maneira de conhecer os outros por meio de entender ao próximo.

 

A questão é o que são as virtudes teologais? É bem sabido que no sou um homem de sentimentos de fé, mas que estudo a consciência de outros para a entender e orientar o seu comportamento como etnopsicólogo. As virtudes teologales são três: fé, esperança e caridade. As duas primeiras não são chamadas para cá, por enquanto, mas sim a terceira que é definida assim pelo livro sagrado dos cristãos ou Catecismo:

 

Caridade é um sentimento  ou uma ação altruísta  de ajuda a alguém sem busca de qualquer recompensa . A prática da caridade é notável indicador de elevação moral  e uma das práticas que mais caracterizam a essência boa do ser humano, sendo, em alguns casos, chamada de ajuda humanitária . Termos afins: amor  ao próximo; bondade ; benevolência; indulgência ; perdão ; compaixão. Fonte: artigo 385 do livro chamado Catecismo da Igreja Católica, 1991, escrito e promulgado por Karol Wojtila ou o Papa Católico João Paulo II. Livro que as enuncia e as comenta, como tenho feito com a virtude da caridade.

 

A fé e a esperança, são atributos de um indivíduo em relação com a sua divindade ou o seu Deus. A caridade, é um atributo personalizado e entregue ou cultivado por apenas uma pessoa em relação às outras. É essa ajuda humanitária, como refiro no parágrafo anterior, de quem não espera uma recompensa pelo bem que faz a outros, como empregar, partilhar o que se tem, investir para abrir indústrias e dar cabimento para ganhar-se a vida a quem apenas tem a sua força de trabalho e uma família para alimentar.

 

Isto não acontece no Portugal de hoje. Os investidores colocam o seu capital em dinheiro em mercados que lhes renda mais lucro, em estes tempos, fora da Nação, porque as feitorias têm falido e no rendem os trabalhadores o lucro esperado por quem possui bens para incrementar o seu capital. Bem ao contrário: a falta de indústrias e de um mercado acreditado como deveria ser Portugal, podem levar à falência os seus bens. Não há compaixão para os que nada têm. Virado do avesso, a caridade existe mais entre os pobres que partilham os seus escassos recursos com os que têm menos. O industrial foge de este agir como se for uma aleivosia porque ensina essa ação altruísta dos pobres, que são muitos em Portugal, os confronta e lhes ensina um amor do qual carecem.

 

A caridade não é uma esmola da que se espera uma troca, é uma forma recíproca de agir, como diz Marcel Mauss no seu livro de 1924, A dádiva ou formas e maneiras de partilhar bens nas sociedades arcaicas. Era o que ele pensava, porque não é apenas nas culturas antigas em que existiam formas de trabalho em comum e se dividiam ganâncias entre os que juntos as produziam. Mas, eram outros tempos. Karol Wojtila reparou na pobreza do mundo e mandou partilhar com amor, o pouco que se tinha. Foi assim que promulgou o seu catecismo, em que condena o capitalismo, que rouba os bens das pessoas que os fabricam, bem como condena o socialismo se for sem virtudes teologais e, de entre todas elas, a da caridade, usufruída apenas pelos ricos que fazem consórcios para investir capital em empresas que deem riquezas.

 

Durante largos anos advoguei em sítios em que as pessoas não tinham trabalho e moravam em bairros feitos de casas de zinco e de cartão, em que grupos amigos partilhavam a sua sopa ou o seu pão já apodrecido, em frente de grupos que roubavam o pouco que os amigos tinham.

 

Era uma lição para vos ricos, a forma humanitária da dádiva sem esperar retorno por entender que se um dia davam, quando eles nada tiverem receberiam sopa recíproca, ou saiam em grupo para trabalhar em baldios, tratar de jardins e estucar casas que precisavam ser renovadas entre pessoas que podiam pagar. Esse dinheiro era partilhado entre os amigos ou investidos em pequenos armazéns ou na fabricação de mobília que despois vendiam nas férias.

 

Essa era caridade, saber dar o pouco que se tem, porque um dia, tornaria a eles. Os mais pobres, que são muitos, sabiam defender-se da falta de trabalho que os industriais no outorgavam porque investiam o seu capital, como referi antes, em bens que os enriqueciam mais, como o petróleo dos países orientais ou os diamantes de Angola ou em indústrias de países que evoluíam na sua riqueza. Isso não e caridade, pode se ser as outra virtudes teologais, como fé e esperança em rendimentos dos investimentos.

 

Os pequenos grupos de amigos que trabalhavam com as suas mãos en bens já especificados, eram seres de caridade, que juntavam força de trabalho e artesanais, para dividir entre eles o remanente das confeções ou de roupa, vasilhas de barro, a mobília mencionada e formavam ou sindicatos solidários ou cooperativas para poupar e assim investir na próxima remessa de bens para a venda, ou organizar os seus pequenos comércios dentro de casa e poupar o fato e ir às compras na cidade. Ninguém lhes tinha ensinado este agir, era resultado da sua própria ideia de como se defender perante a falta de trabalho causada pelos que tinham bens e fechavam as fábricas que no rendiam em proporção ao seu investimentos.

 

Estas são as virtudes definidas pelo cristianismo, pelo islamismo, pelo ismaelismo, o budismo e as confissões que os apoiavam.

 

Portugal vive pendente da divida causada pelo governo e que ninguém sabe como se pode saldar, como o investimento dos capitalistas que compram parte dessa dívida para tratar delas com os bancos ou com países de indústrias pesadas, como os países da Europa do Norte da América do Norte, apoderando-se assim de uma país livre e soberano que tem caridade como virtude apenas entre esse 30% da população que nada declara do que faz para não contribuir à fé e a esperança dos que o endividam e não ser parte de um mal trato da economia das finanças.

 

A caridade existe entre os pobres, os proprietários do capital fogem dela, como defina Wojtila no seu catecismo, para não empobrecer e continuar com lucros desmesurados, como sempre foi. Mas a caridade dos pobres no dá nem quer dar, para salvar os ricos: se eles não colaboraram, não vão eles dar do seu artesanato para apoiar os espoliadores do povo. O povo não aceita a lei que se lhes quer impor como compensação solidária. Parvos seriam se entrarem em convénios com leis burguesas, que beneficiam apenas os governantes e os seus amigos. Não seria uma virtude teologal, seria uma asneira entender assim a caridade.

 

Portugal não tem essa virtude, porque o capital o não permite. Carece de caridade porque não entende de investimentos, ou de economia das finanças. Quem será que vai entender? O país entrará em depressão e falência económica, pela revolta dos pobres e dos ricos.

 

Quem nos vá salvar se não há estado social, que é o humanitarismo caridoso posto em marcha? Nem Wojtila, hoje Santo, nem João XXIII, canonizado também. Talvez Pio XII se as calunias sobre ele são ultrapassadas pelo Papa Francisco que bem sabe que Portugal não é caritativo, como Pio XII o foi.

 

Levanta-te e anda, Portugal, como Pio XII fez no seu tempo ou Aristides de Sousa Mendes, o cônsul em Bordéus, que salvou do holocausto a trinta mil ou Pacelli, a mais de 800mil. Será que salvam Portugal. Ou será o povo revoltado como está por falta de um estado social e por possuir a virtude teologal da caridade solidária, que o governo nem tem nem entende?

 

Raul Iturra

 

20 de Maio de 2014.

 

lautaro@netcabo.pt