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BandaLarga

as autoestradas da informação

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O SENHOR ANTÓNIO, OU SENHOR LOPES, OU SENHOR DO CAFÉ? Prof Raul Iturra

 

Andava eu nas minhas pesquisas, tão afamadas sobre crianças numa das catorze aldeias da freguesia de Senhorim, na Beira Alta, entre a Vila de Nelas e a cidade de Mangualde, época em que o conheci. Eram os anos oitenta do século passado, para ser mais certo, era o ano de 1985. Acabava de estudar durante dois anos essa criançada de São João do Monte, onde havia mais adultos que crianças. Havia uma escola frequentada pelos seis pequenos e pequenas que ai ficavam, com uma professora no bordo da jubilação. Farto já de andar a perguntar assuntos ao único pai que com a sua mulher tinha produzido catorze crianças, subi vários quilómetros mais acima até a vizinha aldeia de Vila Ruiva, larga, antiga, famosa pelos seus prédios e os dois paços que ai erguiam a suas pedras do Século XV em frente, essa antiga propriedade do Conde de Mangualde, ainda vivo o bisneto do Albuquerque que deixara entrar as tropas de Napoleão à cidade, porque preferia casa inteiros, mulheres intatas e pequenos a estudar sem medo. Nada foi tocado os oficiais ensinaram o que era a liberdade e não a servidão ao conde, a quem deviam entregar a terça parte dos produto das terras que eram dos Albuquerque, sendo eles servos dos Conde Albuquerque de Mangualde, com parte de família na aldeia de Vila Ruiva para receber no dia que correspondia, um terço do produto. História que ouvi das palavras do Senhor Lopes, a quem conheci uma tarde de Junho no seu café onde tinha entrado para me refrescar. O calor da Beira Alta tem tanta fama como o seu frio de inverno. Entrei, una senhora jovem e linda, disse se eu queria café. De forma natural eu riposte que nem café nem álcool costumava beber, apenas chá e sumo natural. A dona Fernanda Videira de Lopes, era a proprietária e mulher do senhor do café que andava como eu, na hora de mais calor, nas suas propriedades a tratar da fazenda e a regar couves e outros produtos de hortaliças. Ia as horas de mais calor, porque ninguém aparecia no seu café, lá ficavam a tratar da loja a sua mulher e os seus filhos, ainda no secundário, pelo que apenas falei com a D. Fernanda.

Tenho um moto ou um hábito: é melhor atacar antes que depois. Tinha eu uma equipa de licenciados formados por mim, aos que desejava ensinar trabalho de campo ou o que se faz, com quem se fala, a quem se pergunta, quem deve ser evitado pelas suas traças. Como tinha feito antes em Nelas com dois novos doutores que formei em Santarém e em Nelas, com o meu amigo Maurice Godelier. Um, da Universidade Clássica de Lisboa, outra, da alemã de Bielefeld. Grande sucesso com eles. Expliquei todo isso a patroa do café, que queria saber até o nome das minhas filhas, onde estava a minha mulher e outras perguntas que eu, sem saber, o marido dela ouvia calado desde a porta. Apenas percebia eu que ela me respondia com um olhar fixado na porta. Eu não sabia, o marido tinha aparecido, um senhor que começou por tratar-me por doutos mal ma apresentei, alto, fornido, linda figura de homem, a cor da pele branca e uma ponta de barba preta com bigode preto, que, mais tarde na vida, despareceu por começar a ficar branco. Ou com fios de pelo branco. Pretensioso, ele tirou todo 20 anos depois. Era o dia 10 de julho de 1985, como tenho apontado nos meus cadernos para não esquecer a vida. Não era bisbilhoteiro, apenas queria passar calado para se lavar porque tinha ouvido a história da minha amizade com o oficial do Registo Civil Vítor Graça, o com os proprietários de terra que moravam em Nelas, a família Cabral, a quem eu alugava uma casa de pedra de dois andares, subsidiado pela Fundação Gulbenkian e a antiga Junta de Investigação Cientifica-JNICT, hoje FCT. Era de uma grande boa educação, solicitou licença, en dois minutos tomou duche, e desceu todo vestido de calças e blusa de verão, com um pequeno cheiro de desodorizante. Anos mais tarde, quase trinta, soube que ele pensava que o perfume era para mulheres, que o suor do campo era para s homens, que elas gostavam mais, com um rir franco e aberto que delatava a sua brincadeira e uma dentes branco como pérolas. Eu ri. Expliquei de forma sucinta, é homem de poucas palavras, o que resumi do cumprido interrogatório da sua mulher, que acabou por sair sem dizer antes: O senhor doutor, cá perde o seu tempo, não há casas para alugar, cada um habita a sua, nem tempo para conversas, há muito trabalho… e saiu. Ouvi uma voz de uma mulher vestida de preto, a sua mãe soube depois, a minha grande amiga D. Conceição Videira, sobre quem escrevi mais tarde um texto para comemorar os seus 90 anos, intitulado A Avó professora Maria da conceição Videira que pode ser lido em http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/search?q=A+peofessora+av%C3%B3 , texto de Junho de esse anos publicado apena em Dezembro na Página da Educação e neste bloque, apara escrever mais tarde A Avó professora entrou na eternidade, pode ser acedido em http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/a-avo-professora-entrou-na-eternidade-836129 Dezembro 2 de 1913 mesmo dia e que tina nascido

Era a sogra do Senhor Lopes, mãe de sempre muito ocupada Fernanda Videira, os pais de quem eu chamo a minha filha portuguesa, Anabela Lopes, hoje de Abrantes, Professora Graduada no Secundário de Viseu, mãe de Maria de cinco anos ou assim. Mesmo nome que o da mãe do senhor Lopes, Conceição Marques, a minha grande amiga a quem dedicara um texto na Página da Educação, usando o mote pelo qual era conhecida Conceição Sardinheira e no blogue Estrolabio, ates de ser A viagem de Anacondahttp://estrolabio.blogs.sapo.pt/tag/concei%C3%A7%C3%A3o+sardinheira

Ela sós criou o seu filho Antonio, que adorava a mãe, apesar dos castigos duros que lhe oferecia. Com os seus cinco anos, António Lopes ia de madrugada a Nelas com a mãe, traziam sardinha, única comida acessível nos tempos de carestia que a ditadura tinha imposto sobre Portugal. Vendi com ela, recebia os pagamentos, sabia dar trocos e, sem dar por isso, aprendeu aritmética. Leitura e escrita, na escola à que assistia por ser uma obrigação legal, mas mal a lei passou, foi-se embora a Lisboa a trabalhar numa Papelaria onde aprendeu a arte do comércio.

Ia muito a Vila Ruiva. O seu jovem coração estava enamorado da encarregada da limpeza de escola, a D. Fernanda, como está analisado em vários livros eus sobre eles e Vila Ruiva. A aldeia passou a ser uma segunda universidade. Enquanto eu trabalhava com jornaleiros, o grupo que me acompanhava ensinava primeiros auxílios, e melhorar a leitura e escrita de 40 crianças que as seis da manhã já estavam a nossa espera e frente da casa que o Senhor Lopes, como o denominávamos, o oficial do Registo Civil e um vizinho, trataram de única casa vazia da aldeia para nós. Não ficaram desiludidos, como a D. Fernanda temia. As crianças hoje adultos, são doutores em diversas ramas de ciência, os filhos deles en educação e gestão, e acabo de doutorar em Coimbra en Ciência de Educação, o rapazito desses tempos, Joel Ferreira, o melhor leitor dos quarenta que ensinávamos-mos nos meses de férias escolares.

Assim nasceu Antropologia da, Etnopsicologia de Infância, como especialidade na Licenciatura, Mestrado e Doutoramento.

A que devo todo isto? Ao eu melhor amigo, António Lopes, que tratou da sua alegre mãe, com o seu sorriso eterno. Emigrou com a sua mulher para Alemanha, como sabemos, juntaram arcos, as avós ficaram com as crianças e eles, desde as 5 de manhã até tarde noite, por dez o mais anos. O dever de pais chamava de volta a Vila Ruiva , abriram o café mais visitado da aldeia em que um letreiro com letras grandes, dizia: esta casa não dá crédito, um supermercado trabalhado pela amiga Fernanda, abastecido pelo marido que não parava quieto. Entre os anos de 1986 à 88, a casa de Vila Ruiva acolhia até as minhas filhas nas suas férias, que trabalhavam connosco e outros já doutores, onde aprenderam o que era trabalho de campo, trabalhar no duro para sentir o que um produtor sente para a sua subsistência.

Os anos passaram, os trinta passaram a trinte e sete ou 30x2, o meu amigo anda enfermo, eu queria ir para o acompanhar, mas ainda não é conveniente, como entendo.

Devo Vila Ruiva a o meu amigo, a sua mulher, os seus filhos, especialmente Anabela, e não há livro que eu no escreva, en donde essa Vila Ruiva, que para mim parou no tempo e sinto ser mais um membro da família, não apareça. A partir de Vila Ruiva e de António Lopes, que sempre assiste as minhas presentações.

Faz uma semana, uma senhora tratou para eu ir assinar livros e português a Feira do Livro, tive uma imensa comitiva, assinei tantos livros, até para o pessoal do meu banco que lá foram e que leem os meus textos, mais de duzentos, em http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/search?q=Raul+Iturra , além dos 78 livros en línguas que nem eu entendo porque ou caracteres são Hindi da Índia, do Vietnam ou da China, todos eles diferentes.

A Feira passou, o meu amigo doente não podia ir, numa cadeira de pau sentado a ver o mundial. Como eu.

O senhor Lopes, como costumo chama-lo, melhore-se e, quando for conveniente, meto-me num comboio- no me permitem guiar carros- e deixe-me acompanha-lo.

António Lopes, um homem para a Eternidade, como diziam do Chanceler inglês Lord Oliver Cromwell, en 1542. As histórias repetem-se, esta é uma delas. Dedicada a ele e a sua mulher D. Fernanda que oram no que hoje se pode chamar un ninho vazio: os filhos, como os meus, já têm os seus…. Que é a nossa descendência

Raul Iturra

Parede, Concelho de Cascais,5 de Julho de 2014.

lautaro@netcabo.pt

Em breve joga o do país Neerlandês, ou Holanda que eu não perco: filhos e netos ai!

Abraço, António Lopes