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BandaLarga

as autoestradas da informação

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O NATAL DE PORTUGAL

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Não me parece ser uma realidade, é apenas uma escrita livre. Vamos deixar as leis e a Constituição do Estado. É o dia de começar a preparar o Natal. Antigamente, era o dia de preparar a árvore, com luzes a cintilar, a espera de uma consoada que, no passado, era de bacalhau com repolho, batatas, ovos cozidos e couve lombarda, com vinho ou água-pé, a comida mais tradicional de Portugal nas aldeias, onde normalmente tenho passado a Noite Boa, com os trabalhadores rurais que habitam em elas. Todo isto, caso não se não houver peru, champagne, vinho do Alentejo, carne asada e presentes, como passou a ser a seguir o 25 de Abril de 1974. Havia trabalho bem remunerado, o emprego da força de trabalho estava sempre cheio, a Missa do Galo ou de meia-noite era antes da ceia ou consoada. O Natal era uma festa que não se perdia nas aldeias, começando já no lanche com rebanhadas e filhoses, que se iam comendo enquanto se esperava pela consoada. Nas casas da cidade e da burguesia ou das famílias com mais posses, o Natal era da segunda maneira referida antes. Mas, hoje em dia?
Em frente de nós, há um orçamento que ameaça as nossas mudanças. Parece-me estar a tornar à aldeia de São João de Monte, na Beira Alta, perto de Vila Ruiva, onde a consoada eram sardinhas cozidas ao lume, uma para cada as 13 pessoas da família; ou na mesma Vila Ruiva, entre Nelas e Mangualde. Estive na festa da casa dos meus amigos trabalhadores rurais e comi o bacalhau tradicional, e os doces antes descritos, até me fartar. Por ser o analista de Vila Ruiva e escrever sobre eles, fui convidado a várias casas, entre elas, a dos morgados, uso que ainda existe na vida rural apesar da lei de Mouzinho da Silveira, casas com peru e vinho de Borba, presentes para mim e árvore de Natal com velas a arder, em duas casa apenas.
Este ano, ninguém tem a coragem de gastar dinheiro em consoadas à laia burguesa, nem os burgueses. Não sabemos o que nos espera em frente das nossas vidas. Com um 30% de desemprego da força de trabalho, despedimentos da função pública, recortes de orçamento para escolas públicas e privadas, um gás e a eletricidade a subir, as medicinas não fornecidas às farmácias e, se aparecem, são tão caras, que em caso de doença, é impossível de comprar pelo alto preço por não serem retribuídas a comparticipação da Infermed. O nosso Natal é sem presentes, sem consoada por causa das poupanças que devemos fazer para um futuro incerto. A imagem tem um grupo de aldeões a se aquecer deste frio que nos mata, enquanto conversam e lembram o Dia da Liberdade, esses tempos em que as rebanhadas e as filhoses estavam na mesa para quem quiser comer antes da tradicional missa do galo.
Poder, ainda é possível, mas o futuro próximo, se ainda estamos a espera de um veto para as alças de impostos, que já começaram, antes do orçamento ser lei? Quem não poupa, pode ficar na miséria, o orçamento de 2015 contempla subsídios recortados em treze meses, aumento dos transportes, impostos novos escalonados, passando Portugal a ser um país de pobres em risco de pedintes….Não há Natal este ano. Quem se arrisca em gastos, come o dinheiro poupado para a velhice da força de trabalho, ou para os consultórios médicos vazios que devem fechar por falta de doentes. Hoje em dia, até os magistrados, enfurecidos, por ser da administração pública, fazem greves. A justiça era naturalmente demorada. Hoje em dia, nem justiça existe. O Natal deverá ser em casa e com sopa de pão.
Queria escrever um texto mais alegre, mas a realidade o não permite. Acabo de ir as compras da semana, é bem diferente. O compramos o mínimo para matar a fome ou corremos o risco de ser pedintes.
Raúl Iturra
Dezembro 18 de 2014
lautaro@netcabo.pt
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