O monopólio dos partidos políticos em Portugal
No Público : Quanto mais centralizada é a tomada de decisões políticas, mais assimétrico se torna o acesso dos cidadãos aos decisores e mais se cava o fosso entre os políticos e aqueles que soi-disant representam. Assistimos, tradicionalmente, em Portugal a uma acumulação de poder nas elites políticas que é absolutamente grotesca. A lógica centralista de tomada de decisões em Portugal filia-se na tradição napoleónica do nosso Estado, uma tendência pesada, em grande medida responsável pelo atraso estrutural que nos coloca endemicamente na cauda da Europa. O nosso desempenho enquanto país é medíocre, porque os nossos alicerces democráticos são muito débeis e impedem uma efectiva seleção e escrutínio democráticos, que permitiriam elevar a fasquia da qualidade da nossa democracia e, consequentemente, a qualidade dos políticos e das políticas.
Têm surgido nos últimos anos em Portugal várias iniciativas e movimentos com o propósito de responder a este grave problema, lutando por mudanças no sistema político. Acontece que, atendendo à natureza político-constitucional do nosso sistema de representação, em que os partidos detêm o quase monopólio, aliada à inexistência de uma sociedade civil forte e mobilizada, a probabilidade de as mudanças ocorrerem impulsionadas por dinâmicas geradas de fora para dentro do sistema é francamente diminuta."