O carácter irrepetível da geringonça
O BE bem grita "vou-me a eles" mas para que a ameaça seja ouvida é preciso que seja credível. E não é.
O Bloco de Esquerda pode não gostar de não ser ouvido, pode discordar da opção política de reduzir o endividamento, pode querer que esse dinheiro seja aplicado nisto ou naquilo, pode querer tudo e mais alguma coisa, mas no final meterá o rabo entre as pernas e reduzir-se-á aquilo que, neste momento, é: membro decorativo da geringonça.
Ou seja, a espécie de bluff dos bloquistas vai sair-lhes muito cara: no fim de tudo consolida a perceção de que os resultados da governação foram obtidos não com a contribuição do BE, mas apesar do BE.
No mesmo sentido, fica pela milionésima vez claro o carácter irrepetível da geringonça. Sempre que há uma questão estruturante, uma decisão que separa águas, o PS e os seus atuais parceiros estão em desacordo, sem terem sequer algum território comum para uma negociação. É no que fazer em relação à dívida, nas questões da segurança social, na posição face aos parceiros europeus, na legislação laboral, nas parcerias público-privadas e em praticamente tudo o que é decisivo. O que os uniu foi meramente conjuntural, logo, como indica a palavra, passageiro.