Não há emprego mais precário que a obra pública
No primeiro trimestre deste ano recuperaram-se, na construção civil, 17 000 postos de trabalho dos 315 000 perdidos ( 30 a 40% do total perdido). Durante anos o país andou a sustentar emprego virtual pedindo dinheiro emprestado para construir auto-estradas e rotundas desnecessárias. E fomos construindo auto-estradas até chegarmos ao primeiro lugar de quilómetros de auto-estrada por habitante. Como este investimento não tem retorno a curto e a médio prazo chegou uma altura em que os credores deixaram de nos emprestar mais dinheiro. O país já não tinha capacidade de pagar o que devia.
Para orientar a economia para a produção de bens transaccionáveis e exportáveis houve que redireccionar os meios financeiros e humanos. O emprego da construção civil , os tais 315 000 perderam-se assim. Fosse quem fosse a governar, o ajustamento passaria sempre pelo desemprego na construção civil e em grande parte das empresas a montante e a jusante da actividade. Uma parte destes desempregados foram absorvidos pela emigração e pelos mercados estrangeiros conquistados pelas empresas de construção civil ( Angola, Algéria, Colômbia, Venezuela...)
Com a recuperação do mercado interno que se está a verificar uma parte dessa mão de obra volta a ter trabalho. Construção de fábricas, armazéns e a reabilitação dos centros históricos das cidades. E nas ferrovias e na logística dos portos marítimos. Mas a grande maioria nunca mais vai voltar a trabalhar na construção civil em Portugal. Brasileiros, portugueses, romenos rumam ao Brasil para as obras do Mundial de Futebol e dos Jogos Olímpicos em 2016. Depois ficam no desemprego e rumam a outras paragens. Onde houver obra pública precária...