Gerir a decadência
Quando se olha mais de perto como se controla o défice das contas públicas percebe-se que o exercício orçamental já entrou na gestão mês a mês. Aumentar as pensões mais baixas em cêntimos, ao nível da inflação esperada (0,7%) não deixa dúvidas a ninguém que não há dinheiro.
Os receios da pouca sustentabilidade deste caminho aumentam quando se olha com detalhe para a forma como vamos cortar o défice nos tais 1.500 milhões.
Mais de metade deste valor — 800 milhões de euros, mais precisamente — deverá chegar de três rubricas: a recuperação de garantias estatais ao Banco Privado Português, no valor de 450 milhões de euros; dividendos de 303 milhões de euros do Banco de Portugal; e uma redução de 47 milhões nos encargos com parcerias público-privadas. Nenhuma delas é estrutural e repetível .
O PS, mas sobretudo o Bloco de Esquerda e o PCP, estão a praticar o contrário do que defenderam nos últimos anos e consideram isso uma vitória? Nunca é tarde para se começar a aceitar que o equilíbrio de contas do Estado é, tão só, uma questão de bom senso económico e financeiro e não um exotismo ideológico. Bem-vindos, portanto. Isto de entrar no “clube do arco da governação” não é um almoço grátis.