Foi o Ocidente que aboliu a escravidão
O sistema transatlântico distingue-se por, entre outras coisas, ter implicado novos circuitos de tráfico, uma procura muito intensa de mão-de-obra escrava — uma nova escala na procura, digamos assim — e o uso intensivo dessa mão-de-obra na economia de plantação. Mas aquilo que é radicalmente novo, radicalmente diferente, nesse sistema é a sua abolição, isto é, o fim da escravidão e do tráfico de pessoas, em todas as latitudes e para todas as gentes, de todos os credos e cores. Essa foi uma conquista do Ocidente que, depois, o Ocidente sugeriu ou impôs a todo o mundo. Uma ideia na qual os homens dos primeiros dois terços do século XIX acreditaram, foram capazes de levar à prática e que, melhor ou pior, se mantém em vigor, não obstante terem surgido novas formas de exploração do ser humano. Essa é, como há duas décadas afirmo, inclusive nos jornais, a maior especificidade do sistema transatlântico da escravatura iniciado com a chegada dos portugueses às costas ocidentais de África.