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BandaLarga

as autoestradas da informação

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as autoestradas da informação

Em Portugal fazer reformas é extremamente impopular, é enfrentar interesses instalados e interferir com valores corporativos


 






LICENCIADO, 5 ANOS DE EXPERIÊNCIA, 665€/ MÊS



A indústria da publicidade é uma das indústrias que mais viu as suas condições degradadas. Há vinte anos era uma indústria que pagava francamente bem, hoje paga pessimamente.



As razões para tal não são muito difíceis de aferir, mas não são o tema deste post. Mesmo que nem todas as áreas de negócios tenham mergulhado tão fundo, a verdade é que, tirando algumas funções em tecnologias de informação, não há praticamente nenhuma área que pague de forma decente a recém-licenciados. Seja arquitectura, direito ou, sobretudo, ciências sociais, os salários são miseráveis.



Neste anúncio pede-se alguém com cinco anos de experiência, proficiência no uso de uma série de ferramentas e um nível de inglês muito bom. O ordenado oferecido é de 665€/ mês. Eu sei que a tendência de muitos será chamar nomes a quem “não tem vergonha” de lançar uma oferta destas. Eu, que não sei de quem é a oferta, sei que tal não é forçosamente assim. Quem está a lançar a oferta pode estar a abusar do facto de haver um excesso de oferta de profissionais com os requisitos para a função, e como tal a oferecer um salário que não cumpre com valores de responsabilidade social. Mas este valor, ridículo, poderá também corresponder ao máximo que a empresa pode oferecer. Em Portugal, em empresas de publicidade, assim como noutras empresas, há uma dificuldade extrema em criar e extrair valor. Esse é o nosso drama, essa é a razão porque os mais melhores ou ambiciosos emigram.



Qualquer Governo em Portugal deveria assumir como prioridade máxima melhorar o “ecossistema de negócios”. Claro que há algumas diferenças entre a forma da direita e da esquerda encararem este desafio. No entanto, há imensas reformas (simplificação fiscal, desburocratização, reforma da justiça, cultura de transparência...) que não são nem de direita, nem de esquerda, são de quem quiser melhorar a competitividade do país.



E porque não são feitas? Em Portugal fazer reformas é extremamente impopular, é enfrentar interesses instalados e interferir com valores corporativos. As melhorias que as reformas aportam não são imediatamente visíveis, o descontentamento dos grupos que se opõem é. Um partido que tenha como objectivo salvar a próxima eleição, e não a próxima geração, jamais fará por cá reformas.



Pois bem, a mediocridade é isto.