Carta aberta aos poucos que naquele tempo mandavam no país
Excelências
Fui convidado para aceitar um empréstimo aos balcões da CGD para comprar acções do BCP e usar essas mesmas acções como garantia que a CGD passasse a controlar a Assembleia Geral de accionistas do BCP.
Foi o que fiz. A prova é que poucos meses depois dois administradores da CGD ocuparam o lugar de Presidente e vice-presidente da Administração do BCP.
É claro que o meu trabalho terminou aí. O empréstimo não me beneficiou em nada, nem pessoalmente nem às minhas empresas pelo que ficamos quites e disso dei testemunho à nova administração da Caixa entretanto empossada.
Com grande surpresa minha e ao arrepio de toda a negociação fui informado que as acção dadas à CGD como garantia do empréstimo tiveram uma desastrosa queda de valor em bolsa e não cobriam nem um terço do valor em dívida. Isto apesar do BCP ser controlado por aquelas cabeças que desenharam toda a operação.
Então, digo eu, que tenho eu a ver com tudo isto ?
Então eu que me limitei a dar uma ajuda à banca nacional sou agora responsável por as acções terem caído desastrosamente em bolsa? Mas então a operação financeira engendrada por aquelas cabeças e outras que tinham como função não deixar passar operações desastrosas é da responsabilidade de quem não usufruiu de qualquer benefício e se limitou a ajudar? Sem tomar qualquer decisão no modelo negocial até porque não ocupava qualquer função que me desse esse poder ?
Bem, podem dizer que fui instrumento numa operação desastrosa que não conhecia na sua dimensão ( como o BdP e o Ministério das Finanças) mas onde está o crime ? Se não sabia, se não me lembro, se me esqueci( passados 11 anos)?
Do pouco que me lembro e que me foi garantido é que tudo isto devia estar enterrado mas, agora, ao ver aqueles deputados ( as deputadas ainda são piores) é que me dou conta que está é mal enterrado.
E o coveiro também fui eu ?