AS MINHAS MEMÓRIAS - SINDICATOS - por Prof Raul Iturra
http://www.youtube.com/watch?v=HbmAyfqtB6Y
A internacional
Nunca vou esquecer, como tenho narrado em outros ensaios desta colecção das minhas memórias, do primeiro dia da minha vida que estive em prisão, com outros. Tinha eu 19 anos, era estudante e junto com outros duzentos, andávamos pelos campos para falar com os trabalhadores e fomentar a sindicação. Como já está narrado, apenas uma síntese. Éramos estudantes universitários a usar as nossas férias de verão para dinamizar a criação de sindicatos. No Chile havia sindicatos para os operários indústrias, para técnicos, docentes e outras actividades que usavam a sua mente no seu trabalho. No havia sindicatos para operários, como tenho comentado em outros textos meus, entre eles, o citado o tornado a citar, editado por Carlos Loures em Estrolabio: Para siempre tricinco. Allende e Eu, texto ao que se pode aceder em http://estrolabio.blogspot.com/2010/12/para-sempre-tricinco-allende-e-eu_19.html. Estes sindicatos eram formados pela classe operária industrial, todos eles desunidos, as centenas que existiam, orientados por partido políticos e não por princípios sindicais, até aparecer na atividade sindical chilena, Clotário Blest Riffo, quem fundara a Central Única de Trabalhadores, sem afiliação a partidos políticos.
Quem era Clotário Blest? De Luis Emílio Recabarren, sabemos muito. Tinha todo um partido político, fundado por ele, para o apoiar e fazer dele um político e o primeiro deputado operário a aceder a Câmara de Deputados apoiado pelo Partido Democrata. Foi eleito deputado por el Partido Democrata en 1906, não assumiu el cargo por ter-se negado a prestar el juramento de rigor por ser agnóstico. Os Santos Deputados Católicas, não podiam ficar mais felizes ao escapar assim de um operário capaz de aceder ao seu escano para transferir informação patronal aos escravos, como eram considerados os operários. Novamente foi perseguido pela justiça por causa das suas incendiárias publicações em contra do governo de Chile, teve que fugir, radicando-se na Argentina. En ese país incorporou-se às filas do Partido Socialista. Em 1908 viajou a Europa (Espanha, Frância e Bélgica), regressando para o seu país su país a fines de ese ano.
Ao seu regresso, Recabarren foi detido e remitido para a cárcere da cidade fronteira, Los Andes durante 18 meses, devido ao judicio pendente, regressando do recinto penal en agosto de 1909. En 1911 radicou-se na cidade salitreira de Iquique. Desgostado como seu partido, fundou nessa cidade, en 1912, o Partido Obreiro Socialista (POS) junto a uma trintena de obreiros salitreiros Com eles, levou a cabo a sua intenção de difundir el pensamiento socialista. Também criou del diario El Despertar de los Trabajadores (1912-1926).
En 1915 foi candidato a deputado por Antofagasta, sendo derrotado por fraude e cohecho. Trasladou-se a Valparaíso, e permanece aí até os começos de 1916, quando viajou ao longo do Chile em direção sul, indo até a cidade austral de Punta Arenas. En 1918 viajou a Argentina, onde participou en la fundação do Partido Comunista, integrando a sua primeira Direção Nacional.
No seu regresso a Chile, participou no III Congreso de su partido, que acordou iniciar gestões para incorporar-se na Terceira Internacional, passando assim a ser o Partido Comunista de Chile. Foi candidato à presidência da República em 1920, ano em que triunfa Arturo Alessandri Palma. A eleição o surpreendeu novamente no cárcere, obtendo assim logrando una escassa votação. Porém, en 1921 foi eleito deputado por Antofagasta novamente.
Maravilhado com a Revolução rusa, trás o congresso partidário de enero de 1922, ele próprio transformou-se no Partido Comunista. Viajou a la URSS para participar no Congreso da Internacional Comunista. Regressa a Chile en fevereiro de 1923. En 1924 no quis presentar-se para a reeleição de deputado. No 19 de diciembre do mesmo ano, suicidou-se, aparentemente a causa de una depressão provocada tanto por problemas de índole pessoal como partidistas. Fonte: Jobet, Júlio César. 1955: Luis Emilio Recabarren. Los orígenes del movimiento obrero y del socialismo chileno. Prensa Latino-americana, Santiago.
Esta escrita desgarrada, é um ir em frente, para tornar para trás e voltar ao presente mais próximo outra vez. A cronologia histórica é assim: os factos de hoje explicam os passados, ficando assim todos entremeados.
Onde é que ficou Clotário Blest?Clotário Blest Riffo nasceu em Santiago de Chile el 17 de noviembre de 1899. Su padre, Ricardo Blest Ugarte, militar de profissão, suicidou-se sendo Clotário Blest uma criança. Su madre, Leopoldina Riffo Bustos, fue diretora de escuela e educadora.
Quando o pequeno foi testemunha das huelgas (greves) de princípios do siglo XX, acontecimentos que, junto a pobreza reinante e o seu profundo cristianismo, o orientaram para a luta social e revolucionaria.
Estudou como bolseiro no Seminário de Santiago, onde recebia a influência do pensamiento social cristiano. Um uno de sus maestros Fernando Vives del Solar. Outra das suas influencias foi o seu também professor, José María Caro, mais tarde o primeiro cardeal Primado do Chile, de quem recebeu a idea de una Iglésia focada ao povo. Conviveu com a pobreza, com operários anarquistas que influíram trascendentalmente no desarrolho de seu pensamiento social e sindical sobre a política.
Aos seus 19 anos abandonara ol caminho religioso, após de ser expulso do Seminário por encabeçar uma protesta contra las autoridades. Em 1922começou a trabalhar na Tesoureira General de la República. Também, na mesma época, frequentava as conferencias do fundador do movimento obreiro chileno Luis Emílio Recabarren.
Sua luta não apenas se centrara na criação de agrupações sindicais, bem como participara ativamente en manifestações e greves (como as nacionais dos anos 1954, 1955, 1956, 1960 y 1962). Destacou-se sempre pelos seus encendidos discursos, assim como por la consequência da sua luta, peça que foi sempre perseguido, caindo más de una vintena de vezes na caseia pública. Lutou pela la derrogação da Lei Maldita durante o governo de Gabriel González Videla, assim como contra as violações de direitos humanos durante la ditadura de Augusto Pinochet.
Nos seus últimos anos es acolhido pelos frades franciscanos. Morre só em Santiago, el 31 de mayo de 1990. Fonte: Dictionary of Irish Latin American Biography; outra fonte é as minhas memórias, esses mais do que 400 cadernos nos quais aponto a vida, para não esquecer, os factos mais importantes do tempo que vivo. Tive a sorte do conhecer na fundação do grupo de cristãos para o socialismo e na toma da Catedral, um movimento universal no Chile de Allende, para protestar como éramos tratados, especialmente pelos homens caridosos do cristianismo, que apenas queriam nos ver mortos: enquanto Clotário tomava a Catedral de Santiago, o meu sacerdote amigo, António Gil Pérezagua organizava a de Talca e eu, a de Valparaíso, com José António Bengoa Cabello, meu antigo assistente, hoje Reitor da Universidade de Humanismo Cristão e membro da UNESCO. O sacerdote Sérgio Villalobos e eu, fomos chamados pelo nosso grande amigo o Bispo de Talca, Monsenhor Carlos González Cruchaga. Bispo a quem eu tinha envergonhado quando fui ao Chile de Allende e ele tomava pose como Bispo de Talca: não vai morar no palacete do seu antecessor, o Bispo Larraín, pois não? Saiba, Don Carlos, que Talca é uma cidade pobre e as pessoas moram em ruças, ou em casas velhas ou nas médias aguas que proporciona o governo, essas casas de madeira com teto de dois paneis, para a chuva escorregue. Ele me ripostou – éramos amigos desde os meus 20 anos, como Reitor do Seminário de Santiago, eu, Advogado- ripostou, pois, se queria manda-lo a morar numa meia água. A minha resposta foi que no me atreveria a tanto, mas que seria um excelente exemplo para os ricos proprietários de terra de Talca, denominada o rim da aristocracia chilena. Ele rapidamente me disse: e tu? A minha resposta foi de duas águas: primeiro, estou casado com a filha de um general e pensariam que era outra das minhas loucuras; em segundo lugar, Don Carlos, tenho criado na Pontifícia Universidade Católica do Chile, sede de Talca, uma escola para camponeses aprenderem a ler e escrever, com o método de Paulo Freire, que trabalha connosco, bem como todos os fins de semanas íamos as missas dos sítios rurais e explicávamos o Êxodo e outros livros da Bíblia, e, Don Carlos, Missas celebradas em Castelhano, na época que ainda não estava permitido, apenas em latim. Solicitou-me convida-lo, e foi connosco várias vezes, com a condição de ir apenas vestido como Sacerdote, porque se for como Bispo, a alegria e as festas nunca mais paravam. Assim foi feito. Bem sabia ele que eu não era homem de fé, mas que sabia mais Direito Canónico, Patrística, Teologia, que os seus curas. Quis ouvir-me predicar e falei: de sindicatos, dos pecados dos ricos, das bebedeiras dos inquilinos e por ai fora. Ficou admirado e me congratulou dizendo que eu devia ter sido sacerdote…Fomos sempre amigos e quando levava a minha ultra católica mãe a Talca, íamos visita-lo o ele vinha a nossa casa. Bem sabia que eu era marxista e materialista, mas nunca nada comentou por causa de minha obra. Foi morar numa meia água, feita especialmente para ele, e ai debatíamos ideias, fé, justiça, sindicatos. Quem me dera que ainda estiver vivo – faleceu o ano anterior – para ser capaz de ler o meu livro imenso intitulado: Marx, um devoto luterano, ao qual se pode aceder no repositório do ISCTE: http://repositorio.iscte.pt/ou no internacional: http://www.rcaap.pt
Mas, não foi possível. O Concelho de Bispos Chilenos, mandou que colocáramos a questão em debate. Don Carlos mandou por nós, acusou-nos numa sala mas do que enchida de pessoas do nosso movimento e disse-nos que andávamos a fazer dos camponeses, pessoas marxista. Tudo o mundo calou, sabíamos que não era assim. Como presidente do movimento, sai do meu sítio, argumentei em pé essa calúnia: todos votamos pela via chilena para o socialismo. Solicitei a meu Reitor, Fernando Castillo Velasco, ser enviada a la Sede de Talca da Pontifícia Católica de Chile. Não queria, pero como Antropólogo, parecia-me útil estar en terreno para ver como era conduzida essa via para el socialismo Poucos meses despois, Fidel Castro, de visita no Chile, nos solicirou organizar o que fizemos: criar o movimento de Cristianos para el Socialismo. Meu amigo, quem pelo meu mi incentivo tinha deixado o palacete de su antecessor Manuel Larraín e fora morar, como todos en una media agua, arregalada como devia ser para un Bispo. Seu comentário foi, como siempre, cheio de risa: Bueno, mi señor, como habitualmente me chamava, acá me tiene a vivir como los pobres”. Foi abraço e beijo de imediato, era un papá para mim. Apesar de mi falta de sentimento de fé, ele respeitava mi cristianismo. Mas, organizar o movimento, como Presidente do Episcopado Chileno, nos mandou-nos chamar e tivemos um debate a talho aberto y en público. O meu argumento foi simples: Don Carlos, el Espírito Santo no está sólo con Ud., está con el pueblo de Dios, como está escrito en las Actas de los Doce Apóstoles.¡No lo quiera acaparar todo para Ud., pues! O fiz rir, argumentei com Direito Canónico e Teologia, quedamos como devia ser: a Conferencia Episcopal, após de ouvir o seu relato sobre as nossas atividades cristãs, até apoiou-nos.
Tremer, tremíamos, estávamos habituados a sermos cristãos obedientes, a respeitar a hierarquia religiosa e civil, apesar de não termos muitas inclinações, mas a pobreza do povo vista e vivida por nós, ensinou-nos que apenas com reforma da agricultura ou reforma agrária, a mudança das formas de trabalho dos inquilinos, unidos em sindicatos e letrados, podíamos triunfar.
Foi a segunda vez que fui encarcerado por causa de sindicatos….
Continua
Escrito às 5 da manhã do dia 24 de Janeiro de 2014, reescrito as 8 do mesmo dia.