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BandaLarga

as autoestradas da informação

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Aquele fim de tarde no Jamor

Já não sei em que ano foi, mas talvez 66 ou 68 por aí. A guerra colonial estava no seu auge, sentia-se um pulsar de descontentamento em todo o país. Marcelo Caetano adormecia-nos com as suas "conversas em família" na televisão e Salazar ainda estava quente.

Nessa tarde cheia de sol, jogavam o Benfica e Académica no final da Taça de Portugal. O estádio do Jamor rebentava de gente jovem e de capas e batinas onde se escondiam os "panos" do protesto. De repente passou a palavra, era preciso segurar nos panos que alinhados davam corpo às palavras de ordem. As bancadas norte e sul ficaram, subitamente, escondidas por largas tarjas onde se lia "abaixo o fascismo", "liberdade" e outras ...

Primeiro houve um silêncio logo seguido das palavras de ordem gritadas. Não tardou que a polícia junto ao relvado e a GNR no bosque por cima das bancadas dos topos norte e sul, se organizassem para calar a multidão.

No relvado as duas equipas disputavam a Taça que julgo que o Benfica ganhou por 2 a 1. Grandes jogadores. Rui Rodrigues, os irmãos Campo ( Mário e Vitor), Artur Jorge, Ernesto, Gervásio e no Benfica já então Toni, Humberto, Eusébio...

À saída no lado da Maratona esperava a polícia munida de cassetetes. Avisado, o pessoal fugia pela parte de cima das bancadas perseguido pela GNR a cavalo. Mas no meio de uma multidão havia formas de escapar e no meio do bosque os cavalos não eram tão rápidos como jovens nos seus vinte anos.

Para mim já é tudo uma visão longínqua mas lembro-me bem da extrema beleza daquela tarde, com uma luz luxuriante e um magnifico estádio cheio de uma multidão onde imperava a juventude. E a rebelião.

PS: agora me lembro que vi Marcelo Caetano  pela 1ª vez na televisão em Caldas da Rainha. É capaz de haver nesta memória alguma confusão. Mas que foi um dia inolvidável disso não há dúvida.

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