António Costa a chamar o diabo
Foram os incêndios, o roubo de Tancos, as cativações, o défice externo, a dívida e agora a PT e a Autoeuropa. E o discurso de verão.
Concebida para resistir o tempo possível, a actual solução de Governo está presa à sua transitoriedade original e dificilmente poderá projectar o país para tempo algum a não ser o do quotidiano. Nem o “optimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante” de António Costa chega para apagar a imagem de que é um primeiro-ministro limitado pela sua minoria no Parlamento e pela necessidade de negociar com partidos que, na economia pelo menos, falam uma língua diferente. O modelo poupa-nos à instabilidade política, o que é uma dádiva, mas não dá para muito mais. O equilíbrio entre as pressões de Bruxelas e as exigências dos seus parceiros obriga a que o imediatismo tenha prioridade sobre a visão a prazo. Com greves como a da Autoeuropa, com palavras como investimento, risco, exportação, competitividade ou produtividade cada vez mais distantes do quotidiano, vai-se vivendo um dia de cada vez. O diabo, é certo, não está ao virar da esquina, mas foi num manto de lassidão assim que o défice, a dívida e a troika encontraram o ecossistema ideal para prosperar.