A culpa destes desastres é, sem dúvida, da austeridade. A hipocrisia está nas críticas virem de muitos dos que tornaram inevitável esta inoperacionalidade. Negando a necessidade dos cortes, conseguiram servir-se primeiro dos recursos reduzidos, à custa da paralisia dos serviços. Mantêm a concha pública, mas vazia de eficácia e operação. Pior, com instituições e infraestruturas ocas, o torpor, incompetência e, até, desastres destes só podem multiplicar-se.
A vastidão da calamidade que aí vem
É muito difícil cortar ou conter os salários e as pensões mas é muito fácil cortar nos serviços que o estado presta aos cidadãos. Os que exigiram mais dinheiro para as suas clientelas são agora os que se lamentam com as mortes e com as humilhações.
" Este processo, começado em 2008 e agravado após 2011, atingiu o paroxismo com o actual governo. Apregoando a ilusão do fim da austeridade e a (ínfima) reposição de salários e pensões, o rigor orçamental foi abertamente desviado para cativações e cortes no investimento, direitinhos nos custos de operação. O problema fica escondido no curto prazo, até a paralisação da actividade gerar um desastre. Nessa altura, aqueles mesmos que forçaram a situação, com desvios de dinheiros públicos para "direitos inalienáveis" dos seus constituintes, são os que mais se indignam com a calamidade. Mas nunca chegam a explicar onde teriam encontrado os fundos para a evitar.