A narrativa oficial é que a bancarrota não existiu
Já tivemos três ajustamentos com auxílio externo. A diferença dos dois primeiros para o mais recente é que a quase bancarrota é reconhecida para os mais antigos mas não para o último. A ideia que se quer fazer passar é que o mais recente foi obra de um grupo de malfeitores que um dia tomaram conta do país para fazer mal aos cidadãos. E há até quem negue a necessidade do ajustamento com um PEC IV chumbado pela maioria parlamentar. PEC IV obra do mesmo governo que levou o país à quase bancarrota e que apresentou expressamente o pedido de ajuda externa.
Conviria por isso que as instituições do Estado - a começar pelo seu nível mais elevado - não permitissem que tal narrativa falsa se consolidasse. Pode discutir-se a composição do ajustamento e se a Europa foi um facilitador ou um complicador da solução, mas pôr em causa a necessidade do ajustamento pura e simplesmente não é sério. E conviria que a sociedade, em geral, percebesse que, com os níveis da dívida acumulada, a situação do país continua financeiramente periclitante e vulnerável à mudança da conjuntura. Pelo que, por exemplo, querer assentar o crescimento na procura interna é como acumular lenha à volta da casa.