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A FAMÍLIA - Prof Raul Iturra

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Recentemente têm começado a aparecer, de forma mais notória e sobressalente, o abandono que fazem os pais dos seus filhos, sem nenhum cuidado pelos mais novos. Dias antes, escrevi o texto violência e crime intrafamiliar, acessível em http://bandalargablogue.blogs.sapo.pt/violencia-ou-criminalidade-1091182 . Mas, revoltei-me ao saber que um antigo Ministro de Ciência e uma apresentadora da TV, apenas podem-se encontrar para se entregar os filhos que têm passado dias com eles, si a polícia está presente: tanta é agressividade entre este desfeito casal, que passam a ser o pior exemplo para os pequenos filhos, um hoje qua augura um futuro infeliz para o dia em que os pequenos passem a ser adultos. Ou a rapariga que salvara de um incêndio a seis irmãos dos oito que tinha, e entrou de novo por não estar certa se os outros dois dormiam no lar o em casas de avós. Era hábito nesses jovens pais abandonar os filhos de noite e sair a se divertir como pais sem filhos. Ela morreu na tentativa nos seus dezasseis anos. Amadora toda ficou revoltada e uma linha telefónica especial, o 24, tem sido aberta para filhos abandonados. Como é natural, as crianças sobreviventes não foram devolvidas, vivem com parentes e os pais, foram a cadeia e tribunal. É a família de hoje.

Sonhemos. Tornemos ao que entendemos por família: é um substantivo quase impossível de definir. Talvez se possa dizer que é um conceito que tem várias definições, todas elas certas por corresponderem a diferentes maneiras das pessoas se vincular. Pela negativa, é mais simples falar de família às pessoas que não têm parentesco entre si, quer dizer relações consanguíneas ou por afinidade. Se a relação é consanguínea, a definição é mais simples: automaticamente pensa-se no pequeno grupo de pai, mãe e descendentes (filhos). Nos tempos da minha juventude, era um grupo que incluía irmãos dos pais, os seus filhos, ou os meus primos, pela primazia da relação entre essas pessoas, todas as filhas ou filhos de irmãos/ãs dos pais. Se ainda eram vivos, os pais dos pais ou avôs, eram não apenas família, bem como eram parte do grupo familiar extenso. Viviam todos na mesma casa, baixo o mesmo teto.
Há as teorias da família, definidas especialmente no direito romano, no direito canónico ou no direito positivo do código civil. Os três tipos de lei imperavam e mandavam a proximidade das pessoas parentes entre si. O primeiro grupo que tenho mencionado, nasce da economia do capital que pode ter a família alargada que moram juntos num paço, ou num bairro vedado ao público, condomínio de todos os familiares com várias casas divididas entre os grupos domésticos familiares, todos com porta aberta e com circulação dos familiares entre os diversos lares. O meu melhor exemplo, retirado não da teoria que legisla e orienta as relações dos parentes, o que aprendi em trabalho de campo ou método etnográfico. Método que narra e é interpretado pela etnologia ou ciência do entendimento da comparação etnográfica.
A imagem que seleccionei para ilustrar este texto descreve o que normalmente se pensa de uma família: grupo pequeno, novo e com bebés. Tal como Norma refere a Druida, que vê os seus filhos assassinados, a destruição do hábito de viverem juntos e da casa queimada pelos invasores que lhe destroem a família. A ideia está baseada numa lenda francesa defensora da família. O segundo exemplo que pensei referir, é o de meu amigo Hermínio Medela de Vilatuxe, descendente dos duques de Alba e primo dos Condes de Lemos na Galiza, factos que ele próprio desconhecia e que acabei por desvendar durante a minha pesquisa de etnopsicologia da infância, com três visitas prolongadas de dois anos, e outra de sete meses em casa deles.
A lei gálica dá a herança ao primeiro filho(a) nascido(a), o que coube à sua irmã Marcelina, a Patrúcia da família, os descendentes sem herança, tinham de abandonar a casa. Quando adulto, Hermínio era pastor de cabras por isso emigrou. Com as poupanças e a colaboração da sua mulher Esperanza, que se empregava como doméstica em casas ricas, enquanto as crianças eram cuidadas pelos avôs maternos e paternos, regressou a Vilatuxe, onde construiu uma casa para a família. Mas a família cresce, à casa são acrescidos novos quartos até que o meu compadre abuelo, pondo de lado a lei, decidiu dividir a sua quinta, adquirida com dinheiro da emigração e da sua pastorícia de cabras, a sua profissão, para a repartir de igual forma entre os seus descendentes. Filho(a) que casa, recebe então parte das terras e entre essa inúmera família construem-se novas casas para os casados ai viverem e ganharem a vida no que melhor puderam. Ao todo, cinco casas são levantadas, contando a casa paterna, entregue ao mais novo Medela, o meu amigo Miguel e à sua mulher Catarina. História narrada e analisada nos meus livros sobre Vilatuxe, especialmente no editado pela Profedições: O Crescimento das crianças, Porto, 1998.
Era uma família de condomínio, muito chegados uns aos outros e com uma profunda solidariedade e respeito aos pais, Hermínio e Esperanza, como analiso no meu livro de 2010: Esperanza, uma história de vida, publicada em Estrolabio pelo meu amigo editor Carlos Loures, Lisboa.
Teoricamente, família é definida como o conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e, principalmente, dos que moram com ela. Conjunto formado pelos pais e pelos filhos, ou conjunto formado por duas pessoas ligadas pelo casamento e pelos seus eventuais descendentes, bem como é um conjunto de pessoas que têm um ancestral comum, ou que vivem na mesma casa.
Família, enfim, são pessoas unidas por consanguinidade ou por laços de afinidade, resultantes de matrimónios de pessoas de fora da família conjugal, que casam entre si e geram uma descendência que passa a ser consanguínea da pessoa e dos seus parentes, que incorporou por matrimónio mais um membro dentro da família. Passam a ser de parentesco duplo: consanguíneos e afins. Ou que não casam e aparece uma terceira forma de família: amancebamento, legislado pelo Código Civil.
A família tem a sua nota em dó maior com os netos, como a que hoje espero: May Malen I. Ilsley, que amo profundamente, como à senhora que me acompanha na vida, fémea que fixou este texto e tem feito da sua família um sítio em que se acompanham e se fecham entre eles. Como a minha. A dela não cabe na minha e vice-versa, pelo que a relação é longínqua, mas há confiança e comunicação- co eantigamente.
Isso e família.
Raul Iturra
25 de Outubro de 2014
lautaro@netcabo.pt