A Democracia Cristã e a Europa
A democracia cristã, e a Europa.
Há 67 anos atrás era assinado o tratado de Paris. Nele nascia a CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço.
Os seus seis estados fundadores são sobejamente conhecidos, República Federal Alemã, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, França e Itália. Foi a primeira organização supranacional no âmbito europeu e que mais tarde culminou na origem da integração europeia e na UE. O berço da União Europeia estava ali criado.
Talvez não tenha sido muito notado, mas os seis ministros dos negócios estrangeiros que assinaram o tratado em 1951, eram membros dos respectivos partidos, democratas-cristãos de inspiração liberal.Todos eles. Os três estadistas dominantes Alcide de Gasperi, Konrad Adenaeur e Robert Schuman, lideravam respectivamente a Itália, a Alemanha e a França. Não foram os socialistas, muito menos os comunistas os responsáveis pelo nascimento da Europa tal como a conhecemos. Aliás, nessa mesma altura foi realizada uma pressão tremenda para o Reino Unido ratificar o tratado, mas o Partido Trabalhista recusou sempre com clareza. Herbert Morrison declarou mesmo “ (...) não é boa não podemos aplica-la, os mineiros de Durham não a vão aceitar”. Os interesses corporativos dos velhos sindicatos industriais determinaram a decisão do Partido Trabalhista.
É curioso e também pouco conhecido, que algo semelhante já tinha sido tentado em 1926. Sim, já em 1926 circulava a ideia de um acordo entre países europeus, sem barreiras e sem tarifas alfandegárias. Chegou inclusive a ser assinado um pacto internacional entre a França, Alemanha Luxemburgo, Bélgica e a região do Sarre (então autónoma). O grande impulsionador era então o primeiro-ministro alemão, Gustav Stresemann, também ele democrata-cristão, monárquico.
A UE tem muitos defeitos, sem dúvida, mas tem ainda mais virtudes. Essencialmente três na minha opinião. Paz duradoira, livre comércio/circulação de bens, mercadorias, capitais e pessoas e a moeda única (o que seria de nós sem o euro na crise pós-2008, pensem nisso). Para os que desvalorizam a questão da paz, relembro apenas que a Europa não tem memória de um período de paz tão longo. São 73 anos desde o final da II Guerra. Temos de recuar até à queda de Napoleão, e o congresso de Viena de 1814/1815 que teve como principal arquitecto o génio do príncipe austríaco Metternich e que se traduziu num período de paz entre 1814 e 1914, mas teve pelo meio uma violenta guerra, a Guerra da Crimeia (1853-1856)
A UE pode e deve ser melhorada. Muito. Terá até competências a mais em algumas matérias, como por exemplo a determinação das pautas aduaneira. Mas a UE não deixa de ser um grande projecto que contribuiu e contribui, para a melhoria da qualidade de vida de 500 milhões de cidadãos europeus e no final do dia, isso é o que me interessa. Que as pessoas vivam melhor.