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Macron - uma terceira via

MACRON | UMA TERCEIRA VIA
Um governo dos centros, esquerda e direita, da paridade de género, de políticos com calo e de gente chegada à política vinda da sociedade civil. Emmanuel Macron quer mudar a França fazendo a síntese de contrários. O homem que adoptou uma das mais conhecidas frases de Karl Marx ("os filósofos apenas fizeram uma re-interpretação do mundo, trata-se agora de o transformar") não deseja a revolução proletária, obviamente, para transformar o mundo. Quer, antes, a «revolução reformista». Macron é partidário do diálogo em vez da dialética, da ultrapassagem da clássica oposição entre esquerda e direita pela da oposição entre progressistas e conservadores. Nesta sua visão, Marine Le Pen e a direita reacionária e Mélanchon e as esquerdas comunistas e protocomunistas inscrevem-se no campo das forças conservadoras e a centralidade reformadora no campo progressista.
Num interessante artigo/retrato intelectual do novo presidente francês (Le Monde, 16.Maio, Nicolas Truong: «Petite philosophie du macronisme»), é traçado o roteiro e descobertas as raízes do pensamento de Macron - que nos faz compreender o que há de novo, enquanto projeto político, no Eliseu. Em lugar dos clássicos e opostos progressismo versus liberalismo, tão caros à politica e aos politicos franceses, Macron levou consigo uma ideia síntese da ação política, um «progressismo liberal» a que Jacques Attali (que o recomendou a Hollande) chamou de «liberalismo pragmático e otimista». Nessa síntese caberiam, segundo outro autor, três correntes políticas: a social-democrata (que, a exemplo da Suécia, associa a flexibilidade do trabalho à segurança do percurso dos trabalhadores); a democracia cristã e o seu rigor orçamental; e o «liberalismo social», tal como Tony Blair aplicou nos anos de governo do Reino Unido. Ou seja - e o seu primeiro governo procura já dar uma imagem disso - um largo leque central, somatório da direita moderada, do centro liberal e do socialismo de direita.
Macron, que vem da filosofia antes de ter passado por (e para) as finanças e a economia, parte da colaboração (tornada devoção e admiração) e amizade, ainda jovem estudante, com o filósofo Paul Ricoeur - que rejeita o "ou isto ou aquilo" a favor do "isto E aquilo" - para estruturar o seu pensamento. Dele herda o método e a prática do pensar em conjunto as coisas heterogéneas. Depois passa a colaborar na revista Esprit, na qual publica, entre 2000 e 2011, seis artigos considerados de grande qualidade intelectual e da qual também ainda hoje é acionista. Fundada por Emmanuel Mounier, a revista foi sempre um aberto «forum de discussão» e, através do que nela escreveu, muitos viram em Macron «o futuro do personalismo» de Mounier, o filósofo que procurava, ao tempo, uma "terceira via" entre o capitalismo e o comunismo, no respeito da pessoa. Tal como Macron hoje procura a terceira via entre liberalismo e progressismo, através de uma síntese de opostos.
De Gaulle, o fundador desta V República, reformou a França em 100 dias. Emmanuel Macron, o seu nono presidente, quer reformar a França em poucos anos - e, para isso, tal como De Gaulle deseja e precisa de uma maioria -a «sua» maioria, a do seu movimento. Na base de uma França de origens múltiplas, sem verdadeiros ou maus franceses, «um verdadeiro projeto patriótico», como disse na sua campanha eleitoral. Uma França da era da globalização e da competição. O tempo dirá se, como De Gaulle, ele conseguiu, e como, reformar a França.

Falta o estado fazer o que lhe compete

Proença de Carvalho : A crise por que passámos foi penosa e deixou marcas no tecido empresarial, mas muitos empresários viraram-se para os mercados externos, as exportações cresceram significativamente, o turismo está numa fase de euforia, Lisboa está na moda, o Porto está na moda, Portugal tornou-se atrativo pela excelência das suas infraestruturas em comunicação, pelo seu clima e pelas suas pessoas. Vão--se multiplicando na imprensa internacional referências elogiosas ao Portugal moderno.

Falta que o Estado dê o seu contributo, concretizando as reformas que diminuam os chamados custos de contexto, facilitando a vida dos cidadãos e das empresas, diminuindo a carga fiscal através da redução da despesa pública.

É neste ponto que, confesso, me falta esperança. O que os portugueses conseguiram pode esfumar-se se os partidos e os políticos vierem a quebrar o clima de confiança que está a reconstituir-se.