A ideia é transformar o que se passou no BPN numa peixeirada pública em que mais uma vez a culpa morre solteira. Politizar o crime BPN como se Oliveira e Costa e amigos fossem o PSD e Vitor Constâncio fosse o PS. Todos os ex primeiros ministros e ministros das finanças, desde Durão Barroso a Teixeira dos Santos deviam calar-se. Deviam ter vergonha e assumir a sua parte de responsabilidade. Porque não deram por nada e deixaram andar, quando a imprensa já publicara diversos trabalhos sobre o assunto (incluindo a Exame e o Expresso, pioneiros nesta matéria) e a consultora Delloite já arrasara as contas do banco, e foi uma vergonha para Constâncio que era o todo-poderoso regulador e o supervisor da banca.Sem serenidade nunca se vai saber o que verdadeiramente se passou naquele banco. Para já só Oliveira e Costa se passeia com uma pulseira electrónica.
Uma das consequências benéficas desta crise é que hoje, o cidadão, tem a percepção clara que é preciso mudar práticas, comportamentos e instituições.
Um aspecto positivo da actual crise é que uma parcela mais substancial da população está mais alerta e não se deixará enganar tão facilmente. Colocará perguntas incómodas. Eleições europeias para quê? Porque é que grande parte dos fundos comunitários continua a ir para a política agrícola comum? Afinal o sistema de Segurança Social é insustentável? Se sim, o que podemos fazer para assegurar pensões dignas para as próximas gerações? Um dos méritos da articulação Governo, troika, Tribunal Constitucional é que pela primeira vez há no cidadão comum a noção clara da restrição orçamental do Estado: se não se corta aqui, é preciso ir cortar ali, ou aumentar a receita acolá. Também começa a haver a noção clara que, para sair da crise, é preciso mudar práticas, mudar comportamentos, alterar instituições.
Ana Gomes critica a política e os políticos, e a UE e tudo e todos como se não fizesse parte do que critica. (...)Nunca descurar nas referências ao ultra-liberalismo da União Europeia porque a imprecisão de conceitos é uma boa bengala e o oportunismo não paga imposto. Critique-se a regulação corrupta e exija-se mais regulação para regular a regulação corrompida. Tal como acontece com a deputada Ana Gomes, caso o cargo político esteja distante daqueles que o estão a ouvir, o político não precisa hesitar em cuspir no prato em que come, insinuando-se crítico, activo, insatisfeito com o próprio empregador, pois a sua plateia mais distraída dificilmente conhecerá a sua rotina de bajulação à hierarquia que lhe dá sustento.
Se a maioria parlamentar não fosse razão bastante para o governo governar, quem é que se atreveria a tomar medidas impopulares mas absolutamente fundamentais, para o país sobreviver? Passos Coelho é o mais liberal dos mais recentes PM. Portanto, quando chegou a S. Bento, o objectivo de Passos Coelho seria sempre diminuir a carga fiscal.
Só que a situação financeira do país não o permitia – e Passos teve de fazer exactamente o contrário do que gostaria: aumentou os impostos em vez de os descer, sabendo que com isso ia prejudicar a economia.
Isto é mentir? Ou deveria deixar o país caminhar para a bancarrota, deixando de pagar salários e pensões? Só os mais pobres e indefesos sofreriam com tal política. E instalava-se o caos e a desordem. É isto o que muitos querem, mentindo!
Cada macaco no seu galho mas, em Portugal, na vida política, não é assim. Os banqueiros não são eleitos não podem beneficiar da fragilidade da maior parte dos políticos para serem eles a por e dispor no país.
“A generalidade dos nossos banqueiros” contribuiu para que Portugal “tivesse demorado tanto tempo” a “acordar” e a “chegar ao caminho” da exportação e da internacionalização da sua economia. Aos banqueiros que “estão aí na praça já só falta, mais dia, menos dia, começarem a dar uns palpites” e a fazerem, “como adoram muito fazer, colagens ao poder”.
As rendas fixas excessivas, as PPP e as swaps desaguam na banca. Os grandes negócios no país, no mercado interno, beneficiam os bancos.
Também na Alemanha há cada vez mais vozes contra o garrote. Há medidas que são absolutamente fundamentais mas não parece que a sua dureza seja sensata. O então ministro das finanças alemão, ao tempo da criação do euro, diz que se a situação se mantiver haverá uma revolta conjunta dos países em dificuldades. A politica de salários da srª Merkell já é apontada pela Belgica como de "dumping social" porque permite que as exportações alemãs beneficiem de baixos salários .
Numa comunicação colocada no site do Partido de Esquerda do Parlamento alemão na semana passada, Lafontaine não deixa de apontar o dedo à Alemanha por ter baixado os seus salários para proteger as suas empresas exportadoras. Uma crítica que vários subscrevem, a ponto de a Bélgica ter feito queixa junto da Comissão Europeia acusando Berlim de “dumping social”, numa alusão à venda de bens abaixo do custo de produção que é proibida na UE.
Na Alemanha não existe uma política de salário mínimo e é possível aos trabalhadores com salários mais baixos não pagar impostos nem contribuir para a segurança social ou outro sistema de pensões. Ou seja, há várias empresas que pagam aos seus funcionários três a quatro euros por hora.
“Merkel vai despertar do seu sono hipócrita quando, a sofrer por causa da política salarial alemã, os países europeus unirem forças para fazer um ponto de viragem na crise penalizando inevitavelmente as exportações alemãs”, avisa Lafontaine.
É mais do que certo. A execução orçamental do 1º Trimestre vai fazer soar o alarme. E os excessos orçamentais vão somar aos 1 200 milhões do TC.
Portugal não sai do buraco sozinho isso é mais do que evidente. Seja quem for que esteja a governar. Ou se juntam todos para formarem consensos e se apresentarem na Europa e aos mercados com força e credibilidade ou a nossa sorte vai ser semelhante à Grécia. Com a economia a continuar na sua trajectória negativa e, com isso, impossibilitar o controlo dos déficites e o pagamento da dívida. Porque com renegociação ou sem renegociação só com a economia a crescer há solução. Mas não se faz por magia nem com populismos. Exige-se responsabilidade a quem nos trouxe até aqui!
Bem vistas as coisas e depois de uma noite de sono o que há a fazer é o governo encontrar junto do Presidente da República apoio ( o que já fez) e sensibilizar a Troika para os problemas acrescidos. E seguir em frente.
Novas eleições não trarão nada de novo e não se percebe a que são chamadas. As instituições democráticas estão a funcionar e a crise tem que ser enfrentada. É o jogo democrático e a dramatização que o governo ensaiou faz parte do jogo.
Este cenário só mudará se aparecer alguém com propostas concretas de solução mais rápida e eficaz. E no fim da legislatura com as eleições se o povo assim quiser.
Enquanto este quadro não mudar temos que aguentar e temos que deixar de nos queixar e de sermos piegas. Há muitos países que não foram nos cantos de sereia. Há aqui também uma lição para o futuro.
Não conseguimos encontrar pontos de acordo, a falta de cultura do compromisso político tem impedido um pacto de regime sobre as grandes questões nacionais.
Jorge Sampaio realçou que “a sociedade política tem sido incapaz de se reformar”, pelo que é preciso haver um “reforço da legitimidade do sistema político” em Portugal. Questionado por Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, que moderava o debate, se estava a defender um pacto de regime entre o PS e a coligação PSD e CDS, actualmente no Governo, Sampaio sublinhou que, “em Portugal, é muito mau falar de pacto”. Porém, questionou: “Na Educação, não pode haver algum acordo entre forças políticas? Na Justiça? Na Saúde? Na Defesa? Será assim tão difícil? Temos que nos entender sobre o imediato”. “Estou absolutamente de acordo. Há 20 anos que falo de um pacto” de regime, retorquiu Balsemão.