O governante - secretário de estado da administração da saúde - deixou escapar o enorme problema que o governo enfrenta. E estava a referir-se apenas à saúde porque há outros sectores na administração pública onde se pensa que para a despesa pública o céu é o limite.
Entretanto, os avisos são mais que muitos, numa tentativa de repor alguma normalidade no que ameaça ser o caos. Como se escreve aqui e aqui .
A indicação que passou para a sociedade é que Portugal estava novamente com dinheiro, com as contas públicas consolidadas, que a tempestade estava afastada. Essa percepção está a voltar-se contra o governo com os seus parceiros a quererem mostrar serviço. Se há "folga" há que aumentar salários e pensões, descongelar carreiras e reduzir impostos . Tudo de uma vez.
E o governo agora tem que dizer a verdade. Não há dinheiro, não há folga, não pode aumentar a despesa nem reduzir impostos. Porque o crescimento da economia não chega para isso, a dívida não desce e o saldo externo deteriora-se de uma forma dramática.
A reposição de rendimentos conduz à compra de bens de consumo duradouro, com uma componente importada da ordem dos 90%, que no caso dos automóveis é ainda superior.
O governo joga ansiosamente no tempo, esperando que a economia cresça mais à boleia do bom ambiente externo . António Costa é um político com sorte mas se calhar vai mesmo precisar de muita sorte mais do que a tem tido.
O timing é tudo. Governar com as estrelas alinhadas é quase tudo mas há que reconhecer que alguém as alinhou.
Em resumo, o trabalho do Governo resultou também porque as "estrelas económicas internacionais estavam alinhadas" quando Costa chegou a São Bento e porque o Executivo teve a "boa sorte" de não ser "cilindrado pelas políticas impopulares de um governo em tempos de crise".
A sustentar fundamentalmente a melhoria da situação do país estiveram, defende, as boas perspectivas para a Zona Euro e para a economia global, que permitiram reforçar as exportações e estimular o investimento. Mas também há contributos que vêm de trás: "Os socialistas estão também a beneficiar dos frutos das reformas dolorosas no mercado do trabalho do anterior governo de centro-direita," defende o texto assinado pela jornalista Mehreen Khan.
O PS comprou a paz das ruas com o acordo com o PCP e o BE, que não teria se governasse em maioria absoluta. É por isso que não quer ter maioria absoluta.
Que diriam os partidos da extrema esquerda perante o que se passa com as cativações e a degradação dos serviços públicos se não tivessem que cumprir o acordo ? A troco de cedências, Costa conseguiu meter no bolso a força sindical do PCP e a força mediática do Bloco.
O preço visível deste sossego é a aceitação de medidas negociadas com a esquerda dura: o aumento do salário mínimo para 600 euros, a reversão das privatizações dos transportes (crucial para os sindicatos do PCP), etc. Neste ciclo político chama-se a isto "cumprir os acordos". Mas há outra forma, implícita, de cumprimento: a inacção do Governo. Inacção na Segurança Social, área em que a última reforma de fundo foi do PS. Inacção no trabalho, área em que o PS deixou as medidas de Mário Centeno. Inacção na política orçamental, área em que um exercício de revisão de despesa tem um objectivo risível de 50 milhões de euros. Inacção na escolha das áreas em que o Estado deve reforçar ou cortar.
Como lembrou Alexandre Homem Cristo esta semana no Observador, todas as reformas nos últimos anos - da Segurança Social à Educação, passando pelo Trabalho - foram feitas contra a oposição do PCP e do Bloco .
António Costa optou por uma táctica de disseminação de responsabilidades — como bem notou António Barreto no Diário de Notícias. Num primeiro momento, cedeu ao PSD a criação de uma equipa de peritos no âmbito do Parlamento e disparou perguntas e inquéritos, para, depois, impor a "lei da rolha" aos bombeiros. E, desde o início, desvalorizou o papel de esclarecimento público do Estado e a responsabilidade política do Governo.
Mas, perante a pressão da comunicação social, Costa despistou-se. Levado pelo seu excesso de auto-suficiência, começou a precipitar-se nas respostas, como na declaração de que estava tudo esclarecido sobre os mortos de Pedrógão. E colocou-se no "olho do furacão". Nada indica estar em causa a solidez da maioria que apoia o Governo, mas pode até acontecer que o Governo arda este Verão. Se isso acontecer, dever-se-á apenas à incapacidade do primeiro-ministro de evitar tropeçar no novelo que criou.
Até agora só foi preciso alguma habilidade, baralhar e dar de novo para que tudo fique na mesma. A partir de agora é preciso tomar opções governativas de fundo e as diferenças ideológicas dos três partidos vão criar problemas. Como já se vê . O PS nunca seguirá o PCP e o BE no que diz respeito à União Europeia e ao Euro . E o PCP e o BE vão apoiar o que consideram políticas de direita ?
E se houver dois ou três safanões externos que estão aí ao virar da esquina, eleições antecipadas serão muito prováveis. E Marcelo sem mexer uma palha alcança o objectivo que considera o ideal. O bloco central volta à governação.
Caro Luís Marques Mendes, digo-lhe o seguinte: o governo e os seus acólitos estão a confundir capacidade de resistência com estratégia política. A esquerda acha que está a ganhar porque está a aguentar. Não porque esteja realmente a chegar a lado algum, ou porque tenha encontrado um caminho alternativo para a sustentabilidade das finanças públicas. Não há qualquer tempo novo para o país, nenhuma página foi virada, e muito menos a da austeridade. A única estratégia política de António Costa é resistir, gerir os problemas do presente e atrasar ao máximo os problemas do futuro. Soluções não existem, existem apenas adiamentos. As cativações não são um exclusivo de Mário Centeno. Todo o governo é uma imensa cativação, cativado à direita pelas regras da União Europeia e cativado à esquerda pelos pactos que assinou com o Bloco e com o PCP.
De facto, o diabo não chegou em Setembro, ou se chegou, anda por aí muito discreto e só à vista de quem olha para ele com atenção, porque o diabo está nos detalhes. Mas eu não me fiaria na virgem para o manter afastado para sempre ...
Não haverá resgate graças à Europa. Graças à política de compras do BCE, e à agenda política eleitoral em 2017 com eleições na Alemanha e na Holanda. Costa e Centeno têm pouco a ver com o único resultado positivo que conseguem apresentar.
Mas o governo está a cometer erros enormes. Como tem sido dito, escrito e repetido, não faz reformas, insiste num modelo errado de crescimento económico, agrava a ditadura fiscal sobre os portugueses, ataca a propriedade privada, reforça o poder das corporações que querem um Portugal pobre e dependente, e usa e abusa de habilidades orçamentais para “controlar” o défice, aumentando a dívida pública. Ou seja, o governo está a promover uma tripla transferência de recursos: das poupanças para o consumo, dos sectores privados para a função pública, e das futuras gerações para as actuais. Mau, injusto e imoral.
Já ninguém tem dúvidas que a governação é um falhanço. Os índices económicos mostram-no bem. Economia que não cresce, investimento que não arranca, emprego que não se cria, a dívida e os juros crescem. E como corolário as contas externas degradam-se muito significativamente. Estamos a voltar a 2011.
O país já sabe tudo isto e o que aí vem só vai confirmar o falhanço. Por parte da geringonça o que se pode esperar é o passa culpas para Bruxelas que, aliás, Jerónimo e Catarina ensaiam há muito. Com o espartilho do Tratado Orçamental não há como sair da situação, repetem à saciedade. Mas a verdade é que, para dar só dois exemplos que nos são mais próximos, a Espanha cresce a 3,2% e a Irlanda a 2,5%.
Enganaram-se ou enganaram-nos com a política do consumo interno. Perante o cenário negro esperar-se-ia que o governo mudasse de caminho mas o PCP diz que mudar é voltar ao empobrecimento e o BE não se pronuncia.
Para a oposição não vale a pena continuar a mostrar o que já é evidente. Não chega, é preciso apresentar uma alternativa que não seja voltar à austeridade do corte de salários e pensões. E apresentar um "Estudo macroeconómico" como fez o PS sem qualquer aderência à realidade também não serve. O PSD não tem às cavalitas o PCP e o BE. Resta uma alternativa séria.
Fazer crescer a economia, voltar a fortalecer as exportações, baixar os juros da dívida ( a Espanha paga 1% nós 3%) e, facilitar o investimento privado já que o estado não tem dinheiro.
Para conseguir tudo isto é condição primeira afastar PCP e BE da governação para que a confiança regresse. Ninguém investe quando todos os dias os apoios do governo ameaçam a democracia e a nossa permanência na União Europeia.
António Costa agita-se porque os partidos à sua esquerda e seus apoiantes preparam-se para votar contra várias medidas inscritas no orçamento, ficando mais uma vez à mercê do PSD. Vai pedir desculpa o primeiro ministro ?
Irresponsabilidade é formar um governo que não é estável nem credível. Que tem como apoiantes dois partidos da extrema esquerda que têm como objectivo sair da Zona Euro.
O PS, pela mão de José Sócrates, assinou o memorando de ajuda externa ao país em 2011 e, no entanto, a posição do partido foi sempre negar as suas responsabilidades no compromisso internacional negociado. Os seus mais destacados dirigentes, na Assembleia da República, nos sindicatos, na rua, na Aula Magna, com as suas grândoladas nada mais fizeram que obstar ao cumprimento dos compromissos internacionais.
Irresponsabilidade é derrubar um muro que o PCP nunca quis derrubar e mesmo assim fazer dos comunistas seus parceiros no governo. Irresponsabilidade é chamar para o arco governativo o BE que tem como única razão de ser lutar contra o Tratado Orçamental e a Zona Euro.
O PSD devia vender caro o seu voto para que fique claro que o governo cai se e quando a oposição quiser mas, não perdendo de vista, que a "solução conjunta" precisa de mais um tempinho de lume brando.
Durante estes meses de governo PS com apoio do PCP e do BE as políticas anunciadas limitaram-se a reverter as implementadas pelo governo anterior. A verdade é que não podia ser de outra forma. O Prof Joaquim de Aguiar explica esse facto de forma superior
PS, BE e PCP já sabem que não governam, só impedem que outros governem. Do pântano de 2002 e da bancarrota de 2011 passou-se para o rebentamento dos canos de esgoto em 2016. Correrá mal a todos e por muito tempo.