Como aqui tenho várias vezes escrito António Costa procurará ser dele a iniciativa de derrubar o governo. É impossível que seja de outra forma tal a pressão a que se sujeita no actual modelo. Não pode contar com os seus "apoiantes" e depende do sentido de estado de Passos Coelho. É estar ligado à máquina .
Assis defende que a solução que Costa encontrou à esquerda o obriga a “governar em permanente estado de tensão procurando uma relação direta com o país, dramatizando deliberadamente os problemas que facilmente poderá antecipar”.
Com essa estratégia, acredita Francisco Assis, Costa coloca-se “numa dimensão quase suprapartidária” e ganha margem para ser ele próprio o criador de uma crise política que sirva o propósito de o libertar das negociações permanente à esquerda e de clarificar a situação política.
Dito de outro modo, será António Costa o mais interessado em encontrar um pretexto para ir para eleições antecipadas.
Já estavam 300 membros do PS inscritos no almoço para Sábado, uma iniciativa de Francisco Assis. Como vai sendo próprio de António Costa o almoço foi boicotado com a marcação para o mesmo dia de uma reunião dos órgãos máximos do partido. O objectivo do boicote é claro. Antecipar a votação do acordado com PCP e BE por forma a esvaziar as criticas que se adivinham . A partir de agora quem critica está a prejudicar o partido .
Neste encontro, o ex-líder parlamentar do PS preparava-se para lançar uma corrente interna de militantes e simpatizantes socialistas que discordam de uma viragem à esquerda deste partido, principalmente, através da celebração de um acordo de Governo com o PCP e o Bloco de Esquerda.
Este setor do PS, pelo contrário, entende que os socialistas, na sequência dos resultados das últimas eleições legislativas, deveriam ser "oposição responsável" a um Governo PSD/CDS.
O Observador sabe que Assis não quis colocar à prova os dirigentes que já tinham confirmado presença no almoço e que, por fazerem parte da Comissão Nacional do partido, teriam de fazer uma escolha: ou iam à reunião, ou ao almoço. Esta decisão de António Costa caiu mal junto dos socialistas próximos de Assis, que referem que a data escolhida – coincidente com a hora do encontro na Mealhada — causou algum embaraço. Ainda não há nova data para o encontro.
Francisco Assis avançará se, como tudo indica, a estratégia de Costa continuar perdedora como até aqui. Depois de afastar Seguro, prometendo glórias, António Costa é o maior derrotado das legislativas. Alguém acredita que o apoio do PCP e do BE é duradouro e estável ? O PCP já anda por aí a dizer que o acordo será muito difícil e que não tem ilusões. Rufam os tambores preparando a liça. Se Costa concluir um acordo que permita a viabilização de um governo sustentável do PSD/CDS, Assis regressará a Estrasburgo; se, pelo contrário, Costa insistir na formação de um governo de iniciativa socialista, mas aliado à esquerda radical, Assis avançará contra essa linha.
Para o eurodeputado, a aliança com comunistas e bloquistas é impossível de sustentar face às enormes diferenças programáticas .Se o PS continuar a deriva para a esquerda, a ‘entourage' de Assis já traçou o cenário mais plausível. "Num quadro em que o Presidente da República não pode dissolver o novo Parlamento, o actual governo vai ter de assumir a gestão corrente do país com esse novo elenco, até à marcação de novas eleições lá para Abril, já com novo Presidente da República",
Francisco Assis chama a atenção para as dificuldades que o PCP já está a levantar para chegar a um entendimento. O PCP andou 40 anos a dizer que o PS queria dar-lhe o "abraço de urso" leia-se abraçá-lo para o matar. Irá vender muito caro esse risco. Os mais duros entre os comunistas estão muito reticentes quanto a este possível acordo. Foi sempre o PCP que recusou qualquer acordo não foi o contrário.
Francisco Assis diz que o processo está longe de estar encerrado, desde logo devido às dificuldades de entendimento que o PS estará a sentir com o PCP - dificuldades que, considera, são normais e impossíveis de superar.
Em sua opinião, deve haver diálogo entre os partidos, mas é na Assembleia da República que, perante um novo governo formado por um primeiro-ministro indigitado pelo Presidente da República, "cada partido deve assumir as suas responsabilidades".
Um grande partido como o PS não pode sujeitar-se à chantagem de outros partidos sejam de esquerda ou de direita . Esqueçam as ameaças de partidos não democráticos e antieuropeus como o PCP e o BE. Coisa bem diferente é negociar as traves mestras para viabilizar a estabilidade política do país. Sem fragilidades e em pé de igualdade.
Ou seja, o Orçamento do Estado não pode, como chegou a defender António Costa durante a campanha eleitoral, ser chumbado sem serem sequer conhecidas as bases desse documento. E o PS não deve excluir-se dessa negociação, insiste Assis. “Abre-se, assim, uma possibilidade real para a realização de um diálogo útil entre o Governo e a principal força da oposição, sem pôr em causa a identidade nem de um nem de outro .
Francisco Assis foi o primeiro a sinalizar que não está com Sampaio da Nóvoa. Está aberta a porta para que o PS se parta em dois. Porque Francisco Assis não é um político qualquer e nunca avançaria com esta opinião se estivesse sozinho dentro do PS. É um político de mão cheia e já concorreu, vencido, ao cargo de secretário - Geral do partido.
Posiciona-se para concorrer ao lugar de António Costa em caso de derrota deste nas legislativas que Francisco Assis, com a actual posição, dá como provável.
Francisco Assis não vê no Syriza o "caminho" como se apressou Costa a declarar e que o obrigou a recuar quando as coisas se tornaram muito difíceis. No centro esquerda é o líder natural de quem procura soluções à sua direita, na social democracia de uma parte do PSD. Tem um currículo político invejável e a ambição de liderar um PS voltado para a solução dos problemas no quadro da União Europeia e do Tratado Orçamental.
Com o que se passa na Grécia está aberta a sucessão no maior partido da oposição.
Chega sempre o momento da verdade. Uns a seguir aos outros, dirigentes do PS assumem a responsabilidade do partido na presente situação. Por esta banda apareceu muito azedume . Alguns eram uns pantomineiros outros, gente boa cega pela partidarite. Desta vez é Francisco de Assis, um político sério e competente dos poucos que nos restam : " Por muito que isso desagrade, e até possa ser percebido como um verdadeiro sacrilégio nalguns sectores do Partido Socialista, os portugueses sabem que a austeridade começou connosco. Por isso mesmo, são levados a não acreditar em radicalismos retóricos que parecem relevar mais de um impulso mágico do que de uma criteriosa avaliação da situação real do país." Na verdade a austeridade começou no último governo Sócrates. No PEC I, no PEC II. no PEC III e no milagroso PEC IV e quem assinou o mau acordo de austeridade foi o PS. A verdade não prescreve.
O mundo mudou, os comportamentos de muitos partidos por essa Europa fora mudaram. Eu não esperava ver Francisco Louçã e Fernando Rosas assinar um documento muito moderado como o Manifesto dos 70. Esse facto teve um significado. O facto de vermos hoje pessoas de direita e de esquerda que são capazes de assinar um documento como aquele, significa que pode haver espaço para a construção de uma grande maioria política inspirada numa certa democracia social-democrata. As coisas mudaram muito. Hoje, a extrema esquerda já não olha para a social democracia como olhava há trinta anos atrás.
E o que o futuro próximo nos vai obrigar é um largo compromisso entre a esquerda e a direita tendo como matriz a social democracia. Parar para pensar e encontrar as melhores soluções. Temos que discutir os nossos compromissos e o que os nossos parceiros europeus estão dispostos a fazer para que o processo de modernização do país continue.
As sondagens há muito que dizem que nas próximas eleições não haverá maioria absoluta para ninguém. Depois do governo minoritário de Sócrates e do medonho resultado para o país que essa solução trouxe, o que Assis diz é mero bom senso. Na verdade, tanto o PSD como o PS estão obrigados a entenderem-se. Por razões tácticas o PSD quer que seja o mais depressa possível o PS, quer que seja depois das eleições. Não pode ser de outra maneira e ninguém compreenderia que num momento tão difícil para o país os dois principais partidos não se aproximassem entre si.
Na política dizer o que Assis diz, neste momento, requer uma enorme coragem e um apurado sentido patriótico.