Macron começou a ganhar quando não se escondeu, defendeu as suas ideias, defendeu a Europa e a democracia. Não teve medo do populismo, obrigou Le Pen a falar de políticas concretas e com isso mostrou que ela não as tinha.
A extrema direita tal como a extrema esquerda ao aproximarem-se do poder mostraram que a oratória que têm na oposição não corresponde a soluções credíveis. Veja-se o caso da dívida. A montanha pariu um rato .
Macron, às propostas de Le Pen chamou-lhe imbecilidades que é o que são, nem mais nem menos. Ver a extrema direita ser derrotada por argumentos liberais é significativo. Macron defendeu a Europa, as leis do trabalho, o mercado livre e a democracia e não fez nenhuma concessão à sua esquerda de que precisa dos votos.
Perante uma extrema esquerda que se juntou à extrema direita, Macron sublinhou que é na UE que a França encontrará um futuro promissor para os seus filhos .
Este debate devia ser mostrado a todos os que acreditam que a social democracia e o socialismo democrático são modelos mais eficazes que as manhãs que cantam . A realidade mostra-o todos os dias.
Uma sondagem logo após o debate aponta para a vitória de Macron com 63% dos votos contra 37% de Le Pen. Afinal os valores esperados para as eleições de domingo próximo.
Uma anterior sondagem indicava que 91% dos que votam Macron não tinham intenção de mudar o sentido do voto, o que se confirma com esta última sondagem .
Foi um debate feroz . Le Pen mostrou-se muito mal preparada na vertente económica, não sendo capaz de ultrapassar intenções vagas e inconsistentes. Já Macron teve dificuldades quando deixou o debate resvalar para a discussão de temas gerais .
O centro do debate foi a União Europeia. Le Pen não conseguiu ser convincente e não apresentou alternativas sólidas. O seu grande deslize foi quando colocou a hipótese de a França ter duas moedas. O Euro para as relações exteriores e o Franco para circular dentro de portas. Ora, isto levaria a um aumento de preço generalizado das importações o que Macron assinalou de imediato. Le Pen ficou nas covas.
Esperemos agora que a União Europeia siga esta via com as próximas eleições na Alemanha onde os dois candidatos são pró-europeus.
Itália pode vir a ser o próximo problema e a Grécia lá vai atravessando a via sacra executando os programas de austeridade que a extrema esquerda sempre disse que não faria.
A quatro dias do dia do voto Macron alarga vantagem e com 91% dos seus eleitores a anunciarem que não mudam o sentido do voto. A extrema esquerda perdeu uma boa oportunidade de mostrar ser uma participante generosa e activa na consolidação da democracia e da União Europeia. Hoje sabemos que estrema esquerda e extrema direita são inimigos da União Europeia e do mundo livre . Já não há dúvidas nem desculpas.
Macron com 61% e Le Pen com 39%, com o primeiro a ter os seus apoios nas grandes cidades e a segunda no mundo rural e entre os trabalhadores da indústria. Mais uma prova que são as desigualdades e a falta de oportunidades que levam gente em desespero a apoiar o populismo. Trump é outra prova disso mesmo.
Cabe aos gananciosos perceber que o dinheiro não é tudo na vida e que não vale a pena correr o risco de um dia não saírem à rua .É que a indignação leva a decisões pouco racionais.
E quem está de boa fé nunca mais esquecerá que em França a extrema esquerda hesitou até à última em apoiar o candidato do centro-direita e por cá os seus irmãos de luta (PCP e BE) atreveram-se a querer convencer-nos que o centro é igual à extrema direita fascista e antidemocrática.
Porque uns e outros pensam da mesma forma. Só se engana quem quer .
O candidato Macron não pode nem deve prometer outra coisa. O seu objectivo é reformar a França e com ela reformar a União Europeia.
Aliás, tudo o que se pede a todos os que estão na Europa é ajudar a fazer uma série de reformas que a crise mostrou serem incontornáveis.
Os que são contra a Europa não a querem reformar querem acabar com ela. É o caso de Le Pen e da extrema esquerda. Não pode haver maior distância.
Embora se assuma como “pró-europeu", tendo defendido “constantemente, ao longo da corrida eleitoral, o ideal europeu, assim como as políticas da União Europeia”, por acreditar que “são extremamente importantes para os franceses e para o lugar do país num mundo globalizado”, Macron diz que é “necessário encararar a atual situação da Europa e ouvir o povo francês, que se tem mostrado muito zangado e impaciente” face à “disfuncionalidade da UE, que deixou de ser sustentável”.
Marine Le Pen tenta suavizar discurso anti- europeu : As declarações da candidata da Frente Nacional à presidência francesa demonstram, segundo alguns analistas, o quão está agora empenhada em “suavizar o discurso anti-euro” que teve até aqui, de modo a conquistar uma parte da direita conservadora que continua a escapar-lhe das mãos — Le Pen chegou a defender uma saída da França do projecto europeu, um Frexit, no espaça de seis meses. Um estudo recente, citado pela Lusa, mostra que cerca de 70% dos franceses são a favor da permanência na moeda única.
A extrema esquerda e a extrema direita francesas, tal como em Portugal, defendem a saída do euro e da União Europeia. É extraordinário mas não é de agora e não é virgem.
"É preciso que a extrema esquerda não deite tudo a perder" preocupam-se os franceses que não querem ver Le Pen na presidência. Mas o candidato comunista, ao contrário de todos os outros que já indicaram o seu apoio a Macron, mais facilmente apoiaria Maduro na Venezuela ou Castro em Cuba .
Como já fez o Partido Comunista Português recentemente,ao apoiar os regimes da Venezuela, de Cuba, da Coreia do Norte , de Angola , da Rússia, mas não a integração de Portugal na Europa.
“Benoît Hamon e todos os extremistas que tomaram conta do PS não me representam, diz uma francesa . Há quem esteja bem menos confiante nesses tais “votos da esquerda”. Isabelle fala em tom de desafio: “Se eles dizem que são de esquerda, é bom que não permitam a vitória a Le Pen”. E Hervé fala em tom de desespero: “A extrema-esquerda pode deitar isto tudo a perder. Espero que não. Mas pode”.
Uma Alemanha mais integradora e uma França mais liberal seriam ouro sobre azul para um novo alento da União Europeia. Um reencontro do eixo histórico Alemanha-França pró União Europeia mas agora ao contrário . Mais integração por parte da Alemanha menos nacionalismo por parte da França . Um encontro de posições políticas no centro esquerda .
Não estão longe um do outro na geografia política. "Martin Schulz irá conduzir o SPD alemão um pouco mais para a esquerda e Emmanuel Macron está ligeiramente à direita dos socialistas franceses. Podem encontrar-se a meio", explica ao DN o cientista político Kai Arzheimer, da Universidade de Mainz. Talvez a proximidade ideológica faça esbater o fosso geracional: o francês tem 39 anos e o alemão já vai nos 61.
Jérôme Creel, diretor do departamento de estudos na Sience Po, também vê com simpatia essa eventual mudança de protagonistas políticos em Paris e em Berlim: "Um eixo franco-alemão entre Schulz e Macron levaria a uma situação curiosa: uma viragem intervencionista na Alemanha associada a uma viragem liberal em França. Em comparação com a situação atual isso representaria uma convergência de pontos de vista entre as duas nações." Este professor de Economia julga que isso poderia levar a UE a "reencontrar o seu motor histórico".