Há cada vez mais concursos públicos que ficam desertos o que agrada muito ao ministro das finanças. Trava o investimento e não gasta dinheiro .É mais uma forma ardilosa de cativar verbas.
Se um concurso público fica deserto ou é porque já não há no país empresas interessadas em trabalhar ou então os montantes propostos são irrealistas . Parece ser este último caso, não ?
A ser assim o concurso devia ser reaberto com propostas aceites pelo mercado para que se concretizasse o investimento. Mas não, não é assim.
O que já não é possível esconder é a degradação dos serviços públicos, a inultrapassável carga fiscal e um nível de investimento comprometedor de um futuro mais próspero dos portugueses, que, afinal, devia ser o objectivo da política económica.
O dia dos comunistas arrancou com discursos recheados de fortes avisos ao Governo e ao PS. E a questão da falta do investimento público foi um dos temas que serviu para apontar o dedo a António Costa. “O investimento está ao nível de há vinte anos atrás. Não basta anunciar o seu aumento, claramente insuficiente, é preciso garantir a sua concretização”, avisou Jerónimo de Sousa.
E isso paga-se caro. A economia devia crescer entre 3,5% e 4% mas cresce somente 2,3% e para o ano crescerá apenas 1,9% . Temos vinte países europeus (os que são da nossa dimensão) à nossa frente no que diz respeito ao crescimento . Vamos continuar a ser dos países mais pobres.
É o que faz a falta de investimento. Menos crescimento da economia.
O governo limita-se a distribuir o pouco que tem pelas clientelas eleitorais. Não há uma medida para tornar as empresas mais competitivas.
A entrevista de Costa não trouxe novidade nenhuma . Mais do mesmo em direcção à cauda da Europa no que diz respeito à pobreza.
Cortar no investimento é colher menos riqueza no futuro . E menos postos de trabalho. E menos sustentabilidade na Segurança Social . E é por isso também que o país caminha para ser o mais pobre na Europa.
Trocado por miúdos, o Governo começou a cortar no investimento assim que percebeu que as coisas já não estavam a correr bem.
Só que a situação é grave. O alerta dos investigadores do Institute of Public Policy (IPP) é claro. Era preciso um aumento do investimento de 7% em relação ao orçamentado no ano passado para atingir a meta do Governo para este ano. Mas como o orçamentado no ano passado também não foi cumprido, a distância face às intenções do Governo são ainda maiores. Na realidade aquele instituto diz que era preciso que o investimento crescesse 49% face ao valor efetivamente registado em 2017 para que a meta de Centeno fosse atingida.
O primeiro ministro em Espanha diz a verdade que esconde em Portugal. Não há investimento público porque não há dinheiro e a dívida não deixa contrair mais empréstimos. Mas se assim é, e se a dívida precisa de 40 anos para se reduzir até aos 90% do PIB ( no mínimo) e exige que a economia cresça acima de 3%, qual é afinal o futuro do país ? E é o próprio governo que assinala que a economia vai arrefecer em 2018 e 2019.
“O acerto de António Costa” passa despercebido por cá, a comunicação social só falou no TGV e no novo aeroporto. Mas como é óbvio a questão é bem mais complexa . O cutelo permanece sobre as nossas cabeças.
Depois do mínimo histórico de 2016 esperava-se que em 2017 o investimento público arrancasse mas passado meio ano não é isso que se verifica. As cativações falam mais alto e o controlo do défice exige-o. Não é austeridade ? Chamem-lhe o que quiserem.
Como estamos em ano de autárquicas o investimento local está a crescer.
A contribuir para a baixa execução do investimento estão a Infraestruturas de Portugal, os metropolitanos e o sector da Saúde e o da Educação, mas também os metropolitanos, diz a UTAO.
Na análise por programa orçamental, "destaca-se o contributo dos programas orçamentais Saúde e Ensino Básico e Secundário" para "o baixo grau de execução do investimento", enquanto por entidades, "os principais contributos para o baixo grau de execução advêm do Metropolitano de Lisboa, Programas Polis e Metro do Porto", escrevem os técnicos da UTAO.
E é assim que se consolidam as contas cortando no futuro.
Não há milagres. Para se baixar o défice cortou-se em tudo o que é investimento publico aliás, questão mais que reconhecida por quem se debruça sobre o assunto.
E as consequências da falta de investimento são de curto e de longo prazo. As de curto prazo já aí estão em Tancos, em Pedrógão Grande e na degradação dos serviços públicos. Nos atrasos do pagamento aos fornecedores.
As de médio e longo prazo virão com um crescimento incipiente da economia ( que o próprio governo já prevê para os próximos anos).
Não se aceitou a ajuda de aviões porque os salários dos pilotos eram muito altos. A manutenção do material ficou para quando fosse possível ( leia-se, dinheiro)
Não há milagres. Com ou sem focus group, António Costa bem pode tentar que o tempo trate de fazer esquecer o apuramento de responsabilidades da tragédia de Pedrógão. Mas cuide-se. Em última análise, ainda alguém se lembra de perguntar ao primeiro-ministro e ao ministro das Finanças qual foi o segredo para a saída de Portugal do procedimento por défice excessivo. Não há milagres. Não os houve. Cortou-se a eito onde se podia... e não podia.
E, se chegarmos a tanto, só falta depois virem dizer que a culpa da tragédia de Pedrógão, afinal, é da troika (já se está mesmo a ver as Catarinas).
É o futuro que esta a ser defraudado. Não há milagres e como dizem algumas vozes da Igreja a Senhora não apareceu aos pastorinhos. Não passou de uma ilusão .
Tal como o famoso milagre orçamental português . Já se sabia que os 1,5% do PIB era o mais baixo de sempre a nível nacional mas não que era também o mais baixo a nível da União Europeia. Um desastre .
Ora, se possível, ainda pior, é que o governo acaba de rever em baixa a sua previsão para o investimento público - o ministro das finanças esperava 1,9% do PIB em 2016 e de 2,2% em 2017. Mas agora no Programa de Estabilidade de Abril já prevê uma subida de 1,5% do PIB em 2016, de 2,2% em 2017 e de 2,1% do PIB nos anos seguintes. Perto da catástrofe.
E é assim que se vão satisfazendo os funcionários públicos com aumento de salários e pensões. Um sacrifício do investimento público que nem sequer tem comparação com os tempos da bancarrota.
Todos são unânimes em dizer que esta política não pode ser considerada uma alternativa de esquerda para um modelo de crescimento sustentável.
Mas PCP , BE e CGTP - no caso de considerarmos a CGTP uma entidade independente do PCP - exigem a continuação da reversão das medidas que tiraram o país da bancarrota e Arménio Carlos até afirma " que chegou a hora de guinar à esquerda" leia-se gastar mais em despesa corrente e cortar no investimento.
E o crescimento da economia e a criação de postos de trabalho única forma de o país pagar a dívida e o povo viver melhor ?
Silêncio cá dentro ( com uns tímidos avisos de Marcelo) e os avisos lá de fora são campanhas de ingerência na nossasoberania.
Hoje há menos investimento público do que quando o Governo a que eu presidia era criticado pelos socialistas,comunistas e bloquistas - Passos Coelho
O peso do investimento público permanece em níveis historicamente muito baixos e incompatíveis com as necessidades de recuperação da economia nacional - Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas
O corte no investimento público é uma perda que não se nota no bolso dos contribuintes no curto prazo e os problemas com a sua ausência só se vão sentir ao longo do tempo - Alfredo Marvão Pereira - Economista