… para os meus discípulos de Etnopsicologia da Infância…. para Madalena e Pierre…e os Ilsley, filhos e netos
Estiveram cá, a filha, o marido e os rebentos. Uma semana. Apenas uma semana. Os dias prévios, era uma expectativa, ia apagando-os do calendário no intuito de passarem rápidos para os ver, falar, cheirar, abraçar, passear, partilhar refeições. Mas, se a vida é um pestanejar, uma visita d poucos dias é o pestanejar do sonho. Passa um mês, os vejo outra vez, eles na sua casa, eu na mia, com visitas quase todos os dias. Se já somos órfãos de filhos e netos, as visitas com muitos dos seus amigos, deixa-nos órfãos, materialmente órfãos. Entre eles entendem-se, partilham o quotidiano na sua terra e raramente sabe-se deles por causa da autonomia conquistada. Aparece o avião, aparecem os quatro, mais outros 12, amigos os casais, amigos os filhos. Os Avós passam a ser uma reminiscência que é útil para apoiar e enche-los de presentes, como compensação pelo tempo de passeio com os amigos, passeios que nós, de outra geração, hábitos e costumes, não sabemos partilhar. Os Avós são como as crianças, uma simples intromissão no meio das conversas dos seus quotidianos. Les, na casa dos 20 e 30, nós, da dos 70. As conversas são necessariamente diferentes, a história muda os hábitos. Ai, onde nós criávamos como se os nossos descendentes fossem adultos em pequeno, hoje em dia os pequenos têm o seu estatuto independente conquistados, raramente estão com os seus pais e quando conseguem, e uma joia de alegria que nem cos os avós querem partilhar. Os pais, obedientes, porém, ao estatuto de autonomia dos seus pequenos, falta-lhes horas no dia para estar colados a eles e manter a disciplina imposta
pelos maís novos, a autoridade da família, os que mandam, os que decidem, os que querem tudo, especialmente os seus pais e afastam deles não apenas avós, mas também os amigos. Doze casais adultos à espera da noite para conversarem meio minuto: a resiliência dos pequenos é a que manda, aos pais, toca obedecer e mimar, mimando-se assim a eles próprios. A semana é de trabalho, os planos feitos antes da visita, aparecem virados do avesso e não há forma do mudar. Os patinhos feios de Cyrulnik comandam até que o cansaço não permite a esses pais ter um minuto de vida adulta. Como os avós, zeros à esquerda. Os desejos de acarinhar, de brincar, apenas se os pais estão na cozinha a preparar a comida, os pequenos brincam com os avós, redundantes dentro de esses grupos sob o mesmo teito, mas em cantos diferentes da imensa mansão em que quatro andares permite companhia mas não divertimentos. Todo casal exibe os seus rebentos perante os adultos pais, amigos de infância.
As gerações mudam de uma para outra, cada mês é diferente ao anterior: os avós envelhecem e procuram silêncio, os pais crescem e mimam, e os mais novos procuram cada acidente para chorar a pedir assim a tenção dos seres que adoram e raramente vem. As férias acabaram viradas do avesso, contando os dias de entrar no avião para tornar para o próprio lar, em que às tardes são amenas por meia hora. Um dia será a vez deles, crescidos e aplicar-se-á a lei da resiliência que passam a entender enquanto em curtos anos, crescem, aprendem ciência e amar à rapariga ou rapaz da vizinhança, os pais passam a categoria de avós, e os avós, a almas. É assim, penso eu, como funciona um ninho vazio, com costumes diferentes na passagem do tempo. Vai, é, ficando o amor de lar em segundo plano e aparece o do primeiro plano, co a rapariga ou rapaz do lado. É assim como funciona o ninho vazio, enchido de pessoas que hierarquizam o amor conforme a idade emotiva. E torno para o texto revisitado que começa por disser etas palavras, também mudadas na reescrita do texto. Pequenos que moram em casas contiguas e entram nelas como entram para o seu próprio lar. Como as cinco casas do meu compadre avô Hermínio Medela, de Lodeirón, que de conde, renuncia os seus títulos para ser semelhante à mulher que ama, Esperanza, que já não está e era jornaleira. Divide as suas terras em cinco, manda fazer cinco casas , uma para cada filho, como narro no meu livro, Esperanza, una historia de vida publicado em Estrolábio, em 2010 e o mais recente: Hermínio Medela, o Conde Pastor, entregue a livraria editora Couceiro de Compostela, em 2013, aguarda publicação.
A frase do título não é minha. Antes fosse. É a frase de Mac Kinsey ou Clare McMillan, a mulher do Biólogo, Entomólogo e Sexólogo, o Professor Doutor Alfred Kinsey, o autor do denominado Relatório Kinsey, sobre a sexualidade da vida adulta e
das crianças, escrito após reparar que nos anos 60 do Século XX nos Estados Unidos, as pessoas nada sabia sobre a vida sexual. É verdade que os meus Santos Padroeiros, Freud, Klein e Bion, tinham referido consequências e sequelas da vida sexual entre membros da sociedade ocidental, mas como doenças e problemas. Alfred Kinsey e Clare MacMillan organizam um Instituto de pesquisa sobre os mitos, os desejos, o imaginário da vida sexual entre adultos. A frase de Clare MacMillan, é, antes, a frase de uma mãe, que também refere que as crianças crescem num instante e o ninho ou o lar fica vazio. Vazio da responsabilidade de tomar conta de seres a explorarem o mundo, a entender a relação amorosa, a emotividade e os sentimentos eróticos, que aparecem sem saber, um dia qualquer, sentem mas não sabem que é procura de uma outra pessoa para amar, tocar, se esfregar, ter um compromisso. Clare entendia o seu dever emotivo, o seu marido, entendia de estatísticas, de como medir o saber de seres humanos sobre a sua reprodução, sem falar de amor: o amor não pode ser medido, donde, não é sujeito de pesquisa científica.
A sexualidade não era falada, não era explícita, não era conhecida. Se os mais novos brincavam à masturbação, a ética ripostava que causava doença, sem saber que o prazer erótico solitário faz parte da vida de qualquer ser humano desde que nasce até a sua morte. A masturbação é parte da vida e é melhor falar que punir ou impingir medos. É tão verdade essa naturalidade, que até o Catecismo da Igreja Católica o retirou do seu texto. Outros, nem falam do facto. Era Clare MacMillan ou Kinsey, a mãe interessada em dar noções de erotismo à sua ninhada, enquanto o pai, à sociedade tout court. Motivo da sua frase, comentada a um discípulo e amante do seu marido, um rapaz de 20 anos ou mais, mais tarde também o seu amante. Histórias do arco-da-velha Apenas exemplo do que Kinsey descobre, e prova, com a sua equipa, acontece entre todos os membros da vida social. A relação sexual nem dá vergonha nem é pecaminosa, não entontece nem faz adoecer os seres humanos. A heterossexualidade, a homossexualidade, a bigamia, hétero ou homo, a bissexualidade, o amar outros enquanto se tem assumido um compromisso com um, como acontece no Ocidente, fazem parte da interação social, fazem parte da nossa civilização, apenas que não se diz, não se fala. O adultério é de espécies, ou, por outras palavras, há o clássico, já referido, há o de um homem casado e o seu amigo, há o adultério múltiplo, há o adultério de apenas uma hora, para libertar desejo ao se gostar de alguém ou se sentir seduzido ou gostar de seduzir. (1) A mudança de preferência sexual ao longo da vida, é um facto sabido, hoje em dia, mais do que provado e que acontece de forma múltipla. E, no entanto, parte do prazer, é não dizer, o segredo da relação que penetra o corpo e a emoção.
O som de um ninho vazio, é a falta de seres humanos não apenas para educar, bem como para falar de forma aberta e sem vergonha, sobre a preferência sexual, que, as vezes, passa não só pelos atributos eróticos das pessoas, bem como pelas posses para gozar e partilhar. Como os jogos amorosos, prévios, durante, depois, da intimidade da penetração de um ser humano dentro de outro. A penetração com emotividade, acabam por causar prazer e objetivos de vida, dizem Kinsey e a sua mulher.
E mais nada. Um tema tão difícil em apenas poucas palavras, apenas permite sugerir aos adultos serem abertos no erotismo, como nos outros assuntos da vida.
The Piano Sonata No. 14 em C♯minor "Quasi uma fantasia", op. 27, No. 2, by Ludwig van Beethoven, popularmente conhecida com o nome de Sonata ao Luar ouMoonlight Sonata
Nós, adultos, esquecemos que a mãe é pessoa e vemo-la como processo. Além do carinho e emotividade que unem uma criança com a sua progenitora, existem, de forma igualmente importante, os diversos estágios que atravessa uma mulher que acaba no seu caminho de mãe. O primeiro, é ser mulher, até aos nossos dias, não se inventou um ser que a substitua na estrutura hormonal e na configuração biológica necessária para dar vida a um bebé, amá-lo e amamentá-lo. Muito menos, a invenção da leveza do ser que caracteriza a relação mãe/criança. Não consigo esquecer a frase de um amigo ao me confidenciar a tristeza que tinha pela sua mãe ter ficado inválida: não sei o que fazer...apenas consigo chorar. A minha resposta foi rápida e direta: o que o meu amigo chora não é a doença da sua mãe, o que chora é a falta do mimo embelezado dos carinhos dela. Doravante, será o contrário: é a mãe que vai precisar dos cuidados do filho! Ele, incapaz de devolver essa elegância de mimos que na sua infância, a sua mãe lhe incutia, optou por nunca mais a visitar. É esta arte da fuga que os (as) filhos (as) adultos, configuram na relação ascendente/descendente, face a pais já anciões, no seio de uma sociedade que ensina (embora nem sempre se aprenda) a honrar pai e mãe. O hábito de contar, desabafar, ser aconselhado, fica inserido na mente do adulto maduro, como se fosse ainda um catraio. Mais difícil é, ainda, se a mãe passa a ser uma pessoa lenta, esquecida, tornando-se bebé ela própria ao regredir, como já referido sobre a criança velha.
Mas, se a mãe é um processo, é preciso sairmos da regressão para entrarmos na História. A rapariga casa com paixão - ou opta por uma união de facto – atualmente é igual. É dentro dessa paixão que o bebé é estruturado, até se converter num ser humano autónomo que precisa apenas da sua mãe, a quem pergunta o que fazer com os seus próprios filho. E a mãe, leal como sempre é com a sua criança, ouve, vê, sente e proporciona ideias. Conforme o caso. Existem mães que ignoram os filhos; por serem raras, não as vou referir. As lembranças de mãe passam por factos que a criança nunca entendeu e, como adulto, ignora e não partilha com a sua gestora. Foi por acaso que, no Diário de Vida de uma Senhora, li este pensamento: como devo fazer para a minha pequenada não ouvir a intimidade que tenho com o pai, os meus suspiros, os meus naturais gritos de prazer, a exibição da minha nudez que desejo mostrar ao meu homem para o manter vivo? E se o meu pequeno entra ao quarto?
Este é o problema que a maior parte dos adultos têm. Especialmente as mães. O corpo da mãe tem várias funções. A primeira, é ser ela própria e considerar qual a forma de manter a sedução para o seu homem. Uma mãe não é apenas uma entidade que amamenta a descendência: é também cônjuge ou parte integral de uma relação que permite que o seu estatuto maternal seja um processo de crescimento. Ocultar o corpo que deve também mostrar, é um dos dilemas da mulher. Dilema não contraditório, mas muito delicado. Diz esse Diário de Vida, que me ofereceram num meu trabalho de campo: estávamos a namoriscar a noite passada [sempre à noite, não sei porquê], entrou no quarto, de forma inesperada, o nosso filho mais velho; foi preciso esperar, dissimular, trocar lugares na cama...a correr. No entanto, penso que ele intuiu uma «aldrabice», ao comentar no dia seguinte se a mãe estava a brincar à Julia Roberts em Notting Hill, ou à Andy MacDowell em Quatro Casamentos e um Funeral, quando elas mostravam os seios, tal como eu ao meu homem.
Dilema de mãe, lembrança de mãe. Lembrança de mãe porque para o homem é natural mostrar a intimidade que tem a uma mulher: a sua ou outra qualquer. Não há lembrança no Diário de Vida da mãe ter tido outro homem além do pai. Porque a lembrança da mãe tem por base o sentido de pertença para a pessoa com ela comprometida e à qual se comprometera na saúde ou na doença, para toda a eternidade. Conceito de fidelidade ou lealdade, base também para toda a interação com o mundo exterior. A lembrança que desenha melhor a mulher/mãe, é a entrega à sua casa e aos que nela vivem, sejam adultos ou crianças. Relação que passa à frente de qualquer outra, do cansaço do trabalho que lhe é impingido, pela forma económica atual de ser mulher e trabalhar para fazer a sua parte e manter o lar. Lembrança dupla da mãe: trabalho doméstico nas suas mãos, trabalho económico fora do lar mas para o lar e os seus. É a entrega infinita no seu processo de adquirir o estatuto de progenitora, apenas refletido no mito religiosa de uma Nossa Senhora, das muitas que existem face ao grupo social. Uma Nossa Senhora a concorrer com o real progenitor.
O Diário tem muitas lembranças, desde a alimentação à intimidade sexual. No entanto, foi esta última que chamou a minha atenção. Raramente se fala da intimidade dos adultos da casa, principalmente das lembranças da mãe. Como diz um outro amigo: um calafrio percorre o meu corpo se penso na minha mãe a fazer as «porcarias» que eu faço com a minha ou com outras mulheres. A mãe não tem direito ao seu próprio divertimento e, muito menos, a falar dele, mesmo que a conversa seja pura, calma e directa. A mulher/mãe é apenas um processo de criar e amamentar. As roupas, o batom, as pinturas, as jóias, e até os namoros com outros homens podem acontecer porque são naturais. Um desejo natural de possuir figuras diferentes do eterno companheiro adquirido até à morte porque o Concilio Romano de Trento assim o definiu em 1539. Será que Alice Miller, em 1998, estava enganada ao escrever que A verdade libertar-te-á, ou em 1984 Não sereis conscientes da verdade. A traição da criança. Ou Mélanie Klein no seu artigo de 1928: Estágios iniciais do conflito Edipiano, ou ainda Eduardo Sá, em 1995, ao falar das Más maneiras de sermos bons pais. Qual das duas ideias de Daniel Sampaio é mais importante, a de 1994, Inventem-se novos pais, ou a de 1998: Vivemos livres numa prisão
Não posso concluir. A temática é extensa e demasiado importante num País Romano como Portugal. Mas, ficam na minha memória as confidências de outras lembranças das muitas mães que comigo falaram, para saberem como podiam ser explícitas com os mais novos, na explicação de que eram mulheres ao mesmo tempo que mães, porque os seus filhos não cresceriam se não entendessem essa diferença fundamental. Diferença que leva muitos a pensarem que um adulto deve ocultar a sua vida à criança. Especialmente, as lembranças da mãe, porque ser mãe é o processo de entrar como uma Nossa Senhora, ideia que a maior parte dos Cristãos Romanos, dos Coptos do Líbano, os de Arménia e dos Ortodoxos da Grécia e da Rússia, utilizam para definir a mulher. Nunca se pode esquecer que é mãe e não mulher, muito menos senhora, porque é apenas Senhora de… Tratamento injusto e desadequado como temos visto nos dias de guerra que vivemos, ao observamos serem elas a procurar alimentos, enquanto eles aldrabavam com armas fracas para se sentirem masculinos a lutarem contra um inimigo configurado. A lembrança da mãe alimentar, levou imensas mulheres a passar em frente das balas. Como a minha própria mãe, a única que me visitou num campo de concentração, faz já trinta anos. Curou o meu sarampo, aconselhou-me nas doenças das netas, com discrição, e soube guardar distância silenciosa entre as suas ideias monárquicas e as minhas socialistas, que, sem saber, apoiou. Pelo que fico agradecido. Mais uma lembrança de mãe, porque o seu amor é incondicional.
É um substantivo quase impossível de definir. Talvez se possa dizer que é um conceito que tem várias definições, todas elas certas por corresponderem a diferentes maneiras de se vincularem as pessoas. Pela negativa, é mais simples falar de família as pessoas que não têm parentesco entre si, quer dizer relações consanguíneas ou por afinidade. Se a relação é consanguínea, a definição é mais simples: automaticamente pensamos no pequeno grupo de pai, mãe e descendentes (filhos). Nos tempos da minha juventude, era um grupo que incluía irmãos dos pais, os seus filhos, meus primos, pela primazia da relação entre essas pessoas, todas as filhas ou filhos de irmãos dos pais. Se ainda eram vivos, os pais dos pais ou avôs, eram não apenas família, bem como eram parte do grupo familiar extenso. Viviam todos na mesma casa, debaixo do mesmo teto.
Há as teorias da família, especialmente no direito romano, no direito canónico ou no direito positivo do código civil. Os três tipos de lei imperavam e mandavam a proximidade das pessoas parentes entre si. O primeiro grupo que tenho mencionado, nasce da economia do capital que pode ter a família alargada que moram juntos num paço, ou num bairro vedado ao público, condomínio de todos os familiares com várias casas divididas entre os grupos domésticos familiares, todos com porta aberta e com circulação dos familiares entre os diversos lares. O meu melhor exemplo, retirado não da teoria que legisla e orienta as relações dos parentes, aprendi-o em trabalho de campo ou método etnográfico. Método que narra e é interpretado pela etnologia ou ciência do entendimento da comparação etnográfica.
A imagem que seleccionei para ilustrar este texto descreve o que normalmente se pensa de uma família: grupo pequeno, novo e com bebés. Tal como Norma refere a Druida, que vê os seus filhos assassinados, a destruição do hábito de viverem juntos e da casa queimada pelos invasores que lhe destroem a família. A ideia está baseada numa lenda francesa defensora da família. O segundo exemplo que pensei referir, é o de meu amigo Hermínio Medela de Vilatuxe, descendente dos duques de Alba e primo dos Condes de Lemos na Galiza, factos que ele próprio desconhecia e que acabei por desvendar durante a minha pesquisa de etnopsicologia da infância, com três visitas prolongadas de dois anos, um ano e um mês. A lei gálica dá a herança ao primeiro filho(a) nascido(a), que coube à sua irmã Marcelina, a Patrucia da família, os descendentes sem herança, tinham de abandonar a casa. Quando adulto, Hermínio era pastor de cabras por isso emigrou. Com as poupanças e a colaboração da sua mulher Esperanza, que se empregava como doméstica em casas ricas, enquanto as crianças eram cuidadas pelos avôs maternos e paternos, regressou a Vilatuxe, onde construiu uma casa para a família. Mas a família cresce, à casa são acrescidos novos quartos até que o meu compadre abuelo, pondo de lado a lei, decidiu dividir a sua quinta, adquirida com dinheiro da emigração e da sua pastorícia de cabras, a sua profissão, para a repartir de igual forma entre os seus descendentes. Filho(a) que casa, recebe então parte das terras e entre essa inúmera família construem-se novas casas para os casados ai viverem e ganharem a vida no que melhor puderam. Ao todo, cinco casas são levantadas, contando a casa paterna, entregue ao mais novo Medela, o meu amigo Miguel e à sua mulher Catarina. História narrada e analisada nos meus livros sobre Vilatuxe, especialmente no editado pela Profedições: O Crescimento das crianças, Porto, 1998.
Era uma família de condomínio, muito chegados uns aos outros e com uma profunda solidariedade e respeito aos pais, Hermínio e Esperanza, como analiso no meu livro de 2010: Esperanza, una história de vida, publicada em Estrolabio pelo meu amigo editor Carlos Loures, Lisboa, 2010.
Teoricamente, família é definida como o conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e, principalmente, dos que moram com ela. Conjunto formado pelos pais e pelos filhos, ou conjunto formado por duas pessoas ligadas pelo casamento e pelos seus eventuais descendentes, bem como é um conjunto de pessoas que têm um ancestral comum, ou que vivem na mesma casa.
Família, enfim, são pessoas unidas por consanguinidade ou por laços de afinidade, resultantes de matrimónios de pessoas de fora da família conjugal, que casam entre si e geram uma descendência que passa a ser consanguínea da pessoa e dos seus parentes, que incorporou por matrimónio mais um membro dentro da família. Passam a ser de parentesco duplo: consanguíneos e afins. Ou que não casam e aparece uma terceira forma de família: amancebamento, legislado pelo Código Civil.
A família tem a sua nota em dó maior com os netos, como a que hoje espero: May Malen Isley, que amo profundamente, como à senhora que me acompanha na vida: a minha amiga especial, ela sabe quem é.
A família é entendida pelos cientistas como a célula básica de sociedade. Robert King Merton define o que é família dentro da sua teoria estrutural funcionalista, derivada de Émile Durkheim e diz: Toma como objeto de estudio las relaciones de interdependencia sociocultural, las estructuras, los procesos y las conductas sociales. Está orientada al conjunto de la sociedad o dirigidas al ámbito de problemas y objetos de la convivencia sociocultural. Existe una gran abundancia de teorías sociológicas, lo que hace difícil encontrar una que pueda ser válida como regla general. A la vista de la gran dificultad que entraña el intento de hallar una teoría sociológica general, R. K. Merton recomendó la conveniencia de elaborar, ante todo, teorías de alcance intermedio. Sorokin y su primo Lazarsfeld fueron una importante influencia para Merton, induciéndolo a los estudios de este tipo de teorías.Fonte:http://es.wikipedia.org/wiki/Robert_King_Merton Mas Robert Merton, falecido em 2003 com 93 anos de idade, nunca estudou a família como ela é nestes dias: o namoro começa já na intimidade da cama do casal e podem ter filhos e passar pelo ritual matrimonial mais tarde, quando já estão habituados um com o outro. Também, nunca comentou a forma moderna de se acasalar entre pessoas do mesmo sexo. Estava fora dos seus postulados, ideologia e forma de ser. Aliás, a relações entre pessoas do mesmo sexo sempre existiram, apenas que não era um estatuto legal, era uma vergonha social que se ocultava.
O que me leva a dizer que a família, especialmente por causa da aceitação do divórcio na maior parte das legislações, é uma forma heterogénea de se unir. A família era como nos tempos de Marx e Engels, que dedicam estudos a fatos que lhes parece não precisar definição, porque disser matrimónio encerra em si uma relação heterossexual. Nenhum dos cientistas quis entrar dentro de assuntos de elação íntima que pareciam no entender nem conhecer, a exceição de Sigmund Freud que definia a família como uma relação de um homem e uma mulher para a procriação, como tenho escrito em outros textos. Ele próprio namorava-se dos seus discípulos masculinos que acabavam por o abandonar, como o caso de Karl Jung. Passa a ser comum o namoro docente-discente de qualquer género de opção sexual, porque o saber seduz e o discente sabe, explica e dá valores pelos trabalhos feitos. Ao longo de 55 anos de vida acadêmica, eu próprio tive que fugir de declarações amorosas de pessoas do meu sexo, ou de senhoras que achavam em mim um ser requestado que seduzia, quiser ou não. Porém, em toda instituição em que seres humanos permanecem unidos pelo saber ou outras atividades, acaba por haver namoros entre pessoas do mesmo género, considerando também que há essa tendência bissexual definidas por Freud e Bronislaw Malinowski, o polaco britânico que refundou a Antropologia inglesa, cientista que tinha a fama de ser o que se denomina mulherengo, mas que tinha também discípulos masculinos que namoravam com ele, como ele próprio analisa no seu livro de 1929: O amor entre as sociedades primitivas ou, em inglês como foi escrito: The sexual life of the savages in North Western Melanesia, Routledge and Kegan Paul, em que disfarça as suas relações entre ele y os jovens Massim do arquipélago das Kiriwina. E outros, que nada dizem nos seus livros das formas rituais da homossexualidade, permitida como estava se não desfazia famílias.
Devemos, porém, definir família como relações entre pais e filhos, em que a mãe orienta e o pai é ou o irmão da mãe culturalmente falando, ou o novo homem da mãe. Quem é sempre cera, é a mãe, o pai pode mudar entre nós o nas etnias que estudamos. Uma família, diz Jack Goody em 1994 no seu texto Domestic Groups, Addisson Wesley Módulo, é quem partilha o mesmo teito e o mesmo pão, sem entrar em definições de consanguinidade. Por outras palavras, os que trabalham e moram juntos.
Por ter escrito vários livros sobre a família, remeto-me a eles para acabar o texto nesta linha. A líbido, definida por Freud em 1922, joga passadas entre os seres humanos, e o Id parece não ser capaz de controlar, especialmente se dentro da relação há romantismo, sentimentos de amor.
As famílias têm o direito de escolher a escola para os seus filhos. É a única forma de melhorar as escolas e de romper a situação actual. Boas escolas privadas cheias de alunos ricos. Boas escolas públicas cheias de alunos remediados. Más escolas públicas cheias de alunos pobres. E está assim há décadas. A escola deixou de ser um ascensor social. "Não tenho uma posição optimista face ao futuro das escolas públicas. Bem pelo contrário, temo que estejamos a assistir, a muito curto prazo, à sua decadência total”. " Os culpados, segundo Maria Filomena Mónica, “são todos os ministros que se sucederam na pasta depois de 1974”, porque “foram eles, e não os professores, que não souberam enfrentar o problema da massificação da escola; foram eles, e não os professores, quem elaborou os programas; e foram eles, e não os professores, quem levou as classes médias a retirarem os filhos do ensino público”.
Uma escola centralizada no ministério e nos sindicatos que fazem dela um instrumento de luta política não pode ser outra coisa. Um desperdício de dinheiro público e um local onde se aprende mal .
É um substantivo quase impossível de definir. Talvez se possa dizer que é um conceito que tem várias definições, todas elas certas por corresponderem a diferentes maneiras de se vincularem as pessoas. Pela negativa, é mais simples falar de família as pessoas que não têm parentesco entre si, quer dizer relações consanguíneas ou por afinidade. Se a relação é consanguínea, a definição é mais simples: automaticamente pensamos no pequeno grupo de pai, mãe e descendentes (filhos). Nos tempos da minha juventude, era um grupo que incluía irmãos dos pais, os seus filhos, meus primos, pela primazia da relação entre essas pessoas, todas as filhas ou filhos de irmãos dos pais. Se ainda eram vivos, os pais dos pais ou avôs, eram não apenas família, bem como eram parte do grupo familiar extenso. Viviam todos na mesma casa, debaixo do mesmo teto.
Há as teorias da família, especialmente no direito romano, no direito canónico ou no direito positivo do código civil. Os três tipos de lei imperavam e mandavam a proximidade das pessoas parentes entre si. O primeiro grupo que tenho mencionado, nasce da economia do capital que pode ter a família alargada que moram juntos num paço, ou num bairro vedado ao público, condomínio de todos os familiares com várias casas divididas entre os grupos domésticos familiares, todos com porta aberta e com circulação dos familiares entre os diversos lares. O meu melhor exemplo, retirado não da teoria que legisla e orienta as relações dos parentes, aprendi-o em trabalho de campo ou método etnográfico. Método que narra e é interpretado pela etnologia ou ciência do entendimento da comparação etnográfica.
A imagem que seleccionei para ilustrar este texto descreve o que normalmente se pensa de uma família: grupo pequeno, novo e com bebés. Tal como Norma refere a Druida, que vê os seus filhos assassinados, a destruição do hábito de viverem juntos e da casa queimada pelos invasores que lhe destroem a família. A ideia está baseada numa lenda francesa defensora da família. O segundo exemplo que pensei referir, é o de meu amigo Hermínio Medela de Vilatuxe, descendente dos duques de Alba e primo dos Condes de Lemos na Galiza, factos que ele próprio desconhecia e que acabei por desvendar durante a minha pesquisa de etnopsicologia da infância, com três visitas prolongadas de dois anos, um ano e um mês. A lei gálica dá a herança ao primeiro filho(a) nascido(a), que coube à sua irmã Marcelina, a Patrucia da família, os descendentes sem herança, tinham de abandonar a casa. Quando adulto, Hermínio era pastor de cabras por isso emigrou. Com as poupanças e a colaboração da sua mulher Esperanza, que se empregava como doméstica em casas ricas, enquanto as crianças eram cuidadas pelos avôs maternos e paternos, regressou a Vilatuxe, onde construiu uma casa para a família. Mas a família cresce, à casa são acrescidos novos quartos até que o meu compadre abuelo, pondo de lado a lei, decidiu dividir a sua quinta, adquirida com dinheiro da emigração e da sua pastorícia de cabras, a sua profissão, para a repartir de igual forma entre os seus descendentes. Filho(a) que casa, recebe então parte das terras e entre essa inúmera família construem-se novas casas para os casados ai viverem e ganharem a vida no que melhor puderam. Ao todo, cinco casas são levantadas, contando a casa paterna, entregue ao mais novo Medela, o meu amigo Miguel e à sua mulher Catarina. História narrada e analisada nos meus livros sobre Vilatuxe, especialmente no editado pela Profedições: O Crescimento das crianças, Porto, 1998.
Era uma família de condomínio, muito chegados uns aos outros e com uma profunda solidariedade e respeito aos pais, Hermínio e Esperanza, como analiso no meu livro de 2010: Esperanza, uma história de vida, publicada em Estrolabio pelo meu amigo editor Carlos Loures, Lisboa.
Teoricamente, família é definida como o conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e, principalmente, dos que moram com ela. Conjunto formado pelos pais e pelos filhos, ou conjunto formado por duas pessoas ligadas pelo casamento e pelos seus eventuais descendentes, bem como é um conjunto de pessoas que têm um ancestral comum, ou que vivem na mesma casa.
Família, enfim, são pessoas unidas por consanguinidade ou por laços de afinidade, resultantes de matrimónios de pessoas de fora da família conjugal, que casam entre si e geram uma descendência que passa a ser consanguínea da pessoa e dos seus parentes, que incorporou por matrimónio mais um membro dentro da família. Passam a ser de parentesco duplo: consanguíneos e afins. Ou que não casam e aparece uma terceira forma de família: amancebamento, legislado pelo Código Civil.
A família tem a sua nota em dó maior com os netos, como a que hoje espero: May Malen I. Ilsley, que amo profundamente, como à senhora que me acompanho durante a vida e é a mãe da nossa descendência e avó dos nossos netos na vida: a minha mulher…., assim, em tom possessivo machista, como costuma ser a família latina. Não me orgulho, tenho sido pai e mães dos nossos cativos como se diz em luso galaico para as crianças.