António Costa já tem uma solução secreta para os lesados do BES mas que não divulga. Vai dizendo que com ele os reguladores - BdP e CMVM - vão ser obrigados a entenderem-se. Os reguladores são entidades independentes mas isso é um pormenor que não atrapalha o nosso intrépido facilitador. A última vez que um primeiro ministro socialista se meteu a ceifar em ceara alheia sobraram para os contribuintes 7 mil milhões . Nacionalizou o BPN com a justificação que eram só 400 milhões de prejuízo. Viu-se.
O líder socialista assume que fará tabu sobre o assunto até ao final da campanha. Porém, revelou que já expôs a sua posição ao movimento de lesados do BES, com quem reuniu recentemente. "Já reuni com o movimento, já lhes transmiti a minha posição, mas acho que este tema não deve ser arrastado para a campanha", afirmou.
E vai acusando o governo de ter mentido aos portugueses ao dizer que não haveriam prejuizos para o estado. Quer dizer vai revelando que pagamos todos. Até no tabu António Costa é falso.
Tal como Sócrates fez no BPN, o presidente do PS quer que o estado - isto é os contribuintes - pague aos lesados que compraram o papel comercial aos balcões do BES. E, assim, a família Espírito Santo e outros "necessitados" vêem o estado substitui-los na indemnização devida. Porque a questão que está em cima da mesa não é se os "assaltados" serão ou não ressarcidos do roubo é, antes, obrigar os accionistas das empresas "emitentes" do papel comercial a pagar. E nunca o estado como aconteceu no BPN. É uma promessa eleitoralista e irresponsável. Pelo contrário, não se pode esquecer nem se pode desresponsabilizar os accionistas do Grupo Espírito Santo (GES), onde este dinheiro foi parar.
De promessa em promessa o PS de António Costa enterra-se todos os dias.
Entretanto, Carlos César garante que um governo do PS compensará os lesados do BES. Enternece ver socialistas prometerem pagar prejuízos privados com dinheiros públicos. Mas não surpreende: já o fizeram no caso do BPN. Quaisquer esperanças de que tivessem aprendido a lição acabam de se esfumar. Uma das maiores mágoas de Ricardo Salgado só pode ser não ter encontrado António Costa como primeiro-ministro quando precisou de dinheiro público para salvar o grupo.
A lição a retirar do caso BPN não é que o estado se meteu numa grande embrulhada que anda pelos 7 mil milhões de euros e que todos nós estamos a pagar ? Então o estado devia fazer o mesmo com o BES ?
Esta é uma das perguntas que o PS quer fazer ao primeiro-ministro - ou seja, por que razão recusou os pedidos do banqueiro para que a CGD ajudasse a parte não financeira do Grupo Espírito Santo, de forma a que os seus problemas não atingissem letalmente o banco, levando-o à falência. Preso por ter cão e preso por não ter cão.
No domingo o primeiro-ministro disse que não vê "nenhuma necessidade particular de acrescentar àquilo que já é público" sobre os seus encontros com Salgado: recebeu-o, "avaliou" uma proposta que o banqueiro fez, relativa, "não ao BES, mas ao GES" mas essa proposta "não teve sequência porque governo entendeu que não a podia apoiar".
O PS tenta agora passar por cima da escandalosa decisão de nacionalisar o BPN. Fez-nos crer que o que estava em jogo eram 400 milhões, meteu lá a administração da CGD e o resultado é um enorme buraco que todos estamos a pagar. Não seria mais curial explicar este desastre?
Ricardo Salgado deu uma versão muito pouco credível do que se terá passado no Grupo Espírito Santo. José Maria Ricciard está a desmontar a narrativa ponto por ponto. Não julga ninguém mas recusa-se a ser embrulhado numa "governance" que foi exercida centralizada e unilateralmente por Salgado.
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, já reagiu por carta que fez chegar à Comissão Parlamentar desmentindo várias afirmações de Salgado. A carta já é pública.
Cavaco Silva, como seria de esperar, já veio dizer que as conversas que teve com Salgado são "reservadas". Mesmo lá de longe, do México, o Presidente não deixou de ouvir atentamente o que se passa na AR.
Há muito dinheiro que desapareceu misteriosamente. Muitas interrogações sem resposta, e muita matéria do foro criminal. Muita gente que permanece calada ou que diz o mínimo possível. Os advogados acertam estratégias. E se eles falam ?
Ricardo Salgado queixa-se que contrariamente ao habitual o governo não quis envolver-se no processo. Fá-lo com azedume. Isto depois de ter recusado a recapitalização com dinheiro que o governo colocou à disposição da banca e que só o BES recusou. Hoje sabe-se que tinha uma boa razão para a recusa. Queria bem longe a Troika.
Eu ainda julguei que a este nível mesmo as batotas requeriam alguma sofisticação mas, o desvio de somas astronómicas, fazia-se rasurando o nome do titular da conta. O BES transferia uns milhões para uma dada conta, rasurava-se o nome do titular e devedor, o banco ficava sem saber a quem pedir o dinheiro, levava o débito de milhões a "imparidades" e já está.
Passivos que passavam em poucos meses de dois mil milhões para seis mil milhões sem razão aparente e sem que as contas registassem as operações correspondentes.
Chega a envergonhar quem assiste à actuação do banqueiro. Não sei, não me lembro, a legislação Angolana não deixa, está em segredo de justiça. O Banco de Portugal não avisou, os auditores não disseram nada.
É um caso para a justiça, uma D. Branca de braço dado com o "espírito santo" .
O governo anterior, a PT e o BES mantiveram uma relação muito pouco transparente. É natural que agora tentem afastar-se do caso como se nada tenham a ver com ele. Mas têm e a memória não é assim tão curta. Há muito para contar e que virá a público no momento adequado pese o coro de indignados que por aí vai.
Uma boa maneira de abafar o caso era levar este governo a tomar uma posição igual ou semelhante à que foi então tomada . Uma espécie de uma mão lavar a outra como se as cumplicidades de então fossem naturais ou como se não houvesse alternativa . Mas há alternativa. Como se mostra aqui.
E temos a experiência da nacionalização do BPN que se traduziu num desastre para os contribuintes. Não é dificil perceber ao que vêm os que agora clamam pela nacionalização da PT e os que questionam a solução encontrada para o BES. Sempre encontraram respaldo no estado é-lhes dificil compreender que as coisas possam ser diferentes. Que sejam os contribuintes a pagar eis a solução.
"O que era suposto fazer? O que foi feito na altura com o BPN? Colocar em risco toda a estabilidade do sistema financeiro para resolver o problema do GES? Colocar em risco o dinheiro dos contribuintes, seja directamente, fosse através da Caixa Geral de Depósitos, para evitar que os que faliram o BES tivessem de ajustar contas com os seus credores? Íamos pôr os portugueses e Portugal a pagar as contas de quem não soube gerir aquele grupo? Porque é que a oposição não tem coragem de dizer o que defendia, em alternativa à decisão que foi tomada?"
Não sabiam, deixaram-se enrolar, quando acordaram era tarde. É esta agora a conversa da treta. O que se passou na PT foi pensado e reuniu gente com muito poder cá e lá do outro lado do Atlântico. Como se a questão fosse só a de comprar 900 milhões de papel comercial a um só grupo. Compra, aliás, que se prolongou por muitos anos e que é uma imbecilidade se não tiver um objectivo bem definido. O premiado " CFO melhor da Europa" comete estes erros primários?
Cresceram à sombra do amiguismo, dos jogos de poder, dos investimentos sem retorno. Mantiveram-se à conta de favores e num ambiente que mudavam a seu belo prazer. Não tinham que cumprir regras nem compromissos e não davam explicações a ninguém. Não tiveram concorrência. Tinham aos seus comandos gente da melhor, os melhores gestores e CEOs ganhadores de prémios internacionais. Compravam tudo o que mexesse . E garantiam emprego "às famílias".
Até ao dia que tiveram que dar explicações. Que accionistas independentes e habituados à dura luta dos mercados concorrenciais se opuseram às batotas e às facilidades.Os amigos no poder abandonaram-nos arrastados também eles pela transparência e por instituições acima dos interesses mesquinhos que sempre os moveram.
De repente deixaram de ser pagos principescamente e passaram a indesejados. De "donos disto tudo" passaram a "devedores de todos". Afadigam-se agora a pagar milionariamente a advogados, também eles milionários, para os salvar perante a Justiça.
Se "estes" que estão agora no poder tivessem cumprido com o que lhes era exigido. O dinheiro sem falta e as leis cozinhadas com os temperos habituais. A vida seria como sempre.
Quando foi conhecido que Vítor Bento exigia, como condição para aceitar liderar o NOVO BANCO, entrar só após as contas estarem assinadas o que atirava o inicio do seu trabalho para dois meses depois, mostrou logo aí que algo de importante não batia certo. Numa situação tão difícil, Vitor Bento tratava, antes de tudo de si mesmo, da sua segurança, colocando o seu interesse pessoal à frente do interesse do banco. O Banco de Portugal veio agora confirmar dizendo que, apesar das diferenças de opinião, Bento aceitou liderar o banco com o objectivo de o vender o mais depressa possível.
Ora, não só a experiência que temos do BPN mostra que o tempo, nesta situação, é um factor poderoso de desgaste de valor como, a influência sistémica do BES ( 20% do mercado) não dava margem para que se recuperasse o banco segundo os livros. É, devolvendo o banco ao mercado, aos accionistas e aos banqueiros que , melhor se cuida dele e se protegem os interesses gerais.
Perante as dificuldades ( o banco tem que pagar empréstimos em Jan/Fev/ Março de muitos mil milhões) a equipa de Bento deitou a toalha ao chão com grave prejuízo para a credibilidade do banco e mesmo do país. Bem teria andado Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, se tivesse procurado encontrar uma equipa com provas dadas no duro combate do dia a dia, em alternativa a gestores cuja experiência é académica e de gabinete. Pagar salários ao fim do mês assusta muita gente.