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as autoestradas da informação

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O saber das crianças e a psicanálise da sua sexualidade – 38 – por Raúl Iturra*

 

  • Capítulo final do meu livro titulado como o exerto que apresento neste texto, publicado de forma completa, 160 pp, pelo Editor Carlos Loures no seu A viagem dos Argonautas. Tenho licença do antigo amigo para publicar este excerto.

 

É-me impossível fechar o texto sem tornar a esse começo afetivo de Boris Cyrulnik. Não duvido que a teoria de Freud, Klein, Bion, e Miller, sejam teorias de importância capital, especialmente as de Alice Miller, para quem procura penetrar o saber da mente cultural da criança. Bem como me é impossível, após estudar tanta criança, analisar as suas aventuras e desventuras, deixar de referir que, se Freud fosse vivo, deveria rever e modificar a sua definição do Complexo de Édipo e a ideia da figura paterna ser um castrador ao mandar e impor ordem dentro da casa ou lar. Hoje em dia, são os pais – eles e elas –, esta péssima língua portuguesa machista tem palavras iguais para ações diferentes, que sofrem o denominado complexo de Édipo com a saída dos seus descendentes de casa, muito novos. Não casam, vivem juntos em amancebamento ou concubinato, ou seja, não assinam contratos nem se juntam publicamente em cerimónia ritual, e se estão satisfeitos um com o outro, casam depois e trabalham em conjunto desde o primeiro dia em que começam a viver em concubinato, este é o seu experimento pré nupcial que, hoje em dia, a maior parte das pessoas faz, especialmente no Alentejo (Portugal), na Andaluzia (Espanha) ou nos meios burgueses, situação que se verifica pela inexistência contratual ou pela existência, como está definido no Código Civil Português, de impedimentos dirimentes. Antigamente, na minha infância, o Natal era como nas aldeias portuguesas, galegas, polacas, húngaras e em várias da América Latina que o comemoram. Nem todos o fazem, porque na América Latina têm sobrevivido cultos ancestrais que os invasores portugueses, britânicos, franceses e espanhóis não conseguiram tirar. O melhor modelo para entender a vida e o saber das crianças, é o escritor Quíchua- obrigatoriamente peruano por lei – , Ciro Alegría e o seu encantador livro El Mundo Es Ancho y Ajeno . O Gabriel Garcia Márquez e os seus Cien Años de Soledad, ou ainda, de entre a sua vasta obra, Isabel Allende, especialmente com o seu livro Mi País Inventado.

 

É evidente que um saber para curar de maus-tratos infantis, definidos por Cyrulnik, acaba por nos dizer: senhores, sim, a mente humana é um labirinto de paixões, como diz Garcia Márquez no seu melhor livro: El General en su Laberinto ou na obra El Amor en los tiempos del cólera. Se assim não for, deveríamos lembrar Gabo ou Isabel Allende em La Casa de los Espíritus. Também explica essa mente, o livro mais esquecido de todos, que herdei do meu pai, esse maravilhoso romance Gran Señor y Rajadiablos. Texto que nos facilita entrar numa mente cultural muito desconhecida. Mente cultural, que luta por saber, liberdade e desamamenta os pais mais cedo ensinando-lhes a serem adultos.

 

O saber das crianças, nas suas três vias, acarinha a sua sexualidade e emotividade como Simón Bolívar no seu Laberinto, como a procura do indigenismo primevo de Ciro Alegría, como a nostalgia do que foi e já não é, no País Inventado. O saber das crianças precisa de psicanálise para entender esse precoce desejo, mas dos seus adultos, porque este texto é para os adultos entenderem as crianças e saberem que a liberdade delas conta desde o primeiro dia, como referi na minha obra Yo, María de Botalcura. Texto que advoga pelo saber livre dos mais novos, sem serem impedidos ou travados pelos seus adultos. A psicanálise do saber e da sexualidade das crianças, é para os adultos saberem por onde andam como adultos maiores com descendência liberta pelo neoliberalismo, que Blair e Giddens não souberam encontrar como terceira via para a liberdade desses adultos. Talvez Obama hoje…

 

NOTAS:

 

Estado de quem vive amancebado ou em concubinato, de acordo com o Código Civil Português no artigo 1871, página1545 do Código reformado em 2001 e 2006 que define a presunção de pai, se não houver matrimónio, e o direito da mãe a pedir pensão de alimentos do pai das suas crianças ou concubino, e 2020, que define o amancebamento ou concubinato, como união de facto, página 1602. Diz-se da situação em que duas pessoas vivem maritalmente sem serem casadas. ARTIGO 2020º (União de facto) 1. Aquele que, no momento da morte de pessoa não casada ou separada judicialmente de pessoas e bens, viva com ela há mais de dois anos em condições análogas às dos cônjuges, tem direito a exigir alimentos da herança do falecido, se os não puder obter nos termos das alíneas a) a d) do artigo 2009º. 2. O direito a que se refere o número precedente caduca se não for exercido nos dois anos subsequentes à data da morte do autor da sucessão. 3. É aplicável ao caso previsto neste artigo, com as necessárias adaptações, o disposto no artigo anterior. Texto completo em: http://www.portolegal.com/CodigoCivil.html. Artigo 1600: Têm capacidade para contrair casamento, todos aqueles em quem se não verifique algum dos impedimentos matrimoniais previstos na lei… Em suporte de papel, página 1358. Livro IV, Direito de família, Título II: Do Casamento: Artigo 1601 ARTIGO 1601º (Impedimentos dirimentes absolutos) São impedimentos dirimentes absolutos, obstando ao casamento da pessoa a quem respeitam com qualquer outra: a) A idade inferior a dezasseis anos; b) A demência notória, mesmo durante os intervalos lúcidos, e a interdição ou inabilitação por anomalia psíquica; c) O casamento anterior não dissolvido, católico ou civil, ainda que o respetivo assento não tenha sido lavrado no registo do estado civil (pg. 1358, em suporte de papel). Artigo 1602: Impedimentos dirimentes relativos: (Impedimentos dirimentes relativos) São também dirimentes, obstando ao casamento entre si das pessoas a quem respeitam, os impedimentos seguintes: a) O parentesco em linha reta; b) O parentesco em segundo grau da linha colateral; c) A afinidade em linha reta; d) A condenação anterior de um dos nubentes, como autor ou cúmplice, por homicídio doloso, ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro (formato de papel, pp 1354 e seguintes). Alegría, Ciro, 1963, El mundo es ancho y ajeno, Aliança Editorial, Madrid, é uma novela do escritor peruano Ciro Alegría, considerada como uma das obras mais destacadas da novela indigenista e a principal do autor.1 Mário Vargas Llosa afirma que El mundo es ancho y ajeno constituye el punto de partida de la literatura narrativa moderna peruana y su autor nuestro primer novelista clásico. 2 Esta novela conta com inúmeras edições em español e é a novela de Ciro Alegría mais traduzida. Garcia Márquez, Gabriel, 1967: Cien Años de Soledad, Editorial Sudamericana, Buenos Aires. Allende, Isabel, 2003: Mi País Inventado, Editora Sudamericana, Buenos Aires, México y Madrid. García Márquez, Gabriel, 1989: El General en su Laberinto, Mondadori, Madrid. García Márquez, Gabriel, 1985: El Amor en los tiempos del cólera, Bruguera, Barcelona. Allende, Isabel, 1982: La Casa de los Espíritus, Plaza e Janes, Barcelona. Barrios, Eduardo, 1967: Gran Señor y Rajadiablos, Editorial Nacimiento, Santiago de Chile. Iturra, Raúl-2008-Iturra, Blanca, 2009: Yo, María de Botalcura. Ensayo de Etnopsicologia de la Infancia, Universidad Autónoma de Chile, antiguo Instituto del Valle Central, Talca, Chile.

 

Raúl Iturra, 10 de Janeiro de 2014, dia da modificação e reescrita do texto e do por dentro do acordo ortográfico.

Nota pôs- scriptum: Este livro foi comprado pela Editora Psico-Soma de Viseu, com a condição de eu comprar 200 exemplares. Condição impossível para mim, pelo que foi retirado da Editora de Viseu. Faltou confiança nos editores e após alagar-me de ser uma figura incontornável no saber do ensino, passam a desconfiar de mim. Retirei o livro. Carlos Loures, com santa paciência, o publicou completo.

Pode ser lido em: http://aviagemdosargonautas.net/2011/11/17/o-saber-das-criancas-e-a-psicanalise-da-sua-sexualidade-38-por-raul-iturra/