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BandaLarga

as autoestradas da informação

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A MEMÓRIA HISTÓRICA OU A AUSÊNCIA DELA

 
O discurso de Jerónimo de Sousa, no congresso que o PCP promoveu para promover Cunhal a 'democrata', é elucidativo sobre o que pensa o partido da democracia e do país. E da História. Coerente, de facto, com aquilo que alguns gostam de (elogiosamente) apelidar de «coerência». Na sua intervenção, Jerónimo, elogiando Cunhal, afirmou a atualidade do pensamento dele, sem nenhum revisionismo. E reafirmou a atualidade das ideias comunistas, contrapostas à «crise do capitalismo» (com estas austeridades e tudo). O que lhes daria um lastro de demonstrada superioridade.

A fixação do PCP na superioridade e atualidade do seu modelo cunhalista seria eventualmente interessante de discutir se Jerónimo não tivesse como adversário imbatível a... memória histórica. Algo que ele varreu dos livros, tão completamente como o camarada Stalin fazia aos seus adversários e respetivas fotos. É verdade, algumas coisas se passam no mundo, nem todas favoráveis à ideia de capitalismo. Mas nada, mesmo nada, que se compare com os modelos que os partidos comunistas aplicaram nos países onde foram (ou são ainda) governo sem democracia. Modelos que implodiram, pela fraqueza das economias e pela fragilidade política, institucional e social dos comunismos. É certo que, tal como no fascismo, o protecionismo social - baseado na certeza dos empregos de miséria, num medíocre mas presente assistencialismo social e na ideia de que o Estado provia a tudo - dava aos cidadãos uma ideia de eternidade do modelo, das instituições e de segurança. Na verdade, uma ideia anti-marxista (ausência milagrosa de lutas sociais, p.e.).

Mas, mesmo admitindo que o capitalismo está «em crise», como disse Jerónimo para fundamentar a atualidade do seu modelo comunista, a crise do capitalismo é uma festa se comparada com o que era a realidade nas sociedades comandadas pelos PC's - salários de miséria, cuidados de saúde medíocres, habitação escassa e de péssima qualidade, famílias partilhando o mesmo apartamento exíguo, direitos sociais e sindicais ausentes, participação dos cidadãos na vida política enquadrada e dirigida pelo partido, repressão feroz contra todo e qualquer discordante, prisões políticas e campos de internamento para os dissidentes. O fosso entre o capitalismo das democracias (liberdades politicas e mercado livre) e o comunismo do modelo cunhalista faz , por exemplo, das sociedades dos países resgatados do sul da Europa (para não citar tb a Irlanda) paraísos de prosperidade, se comparados com as antigas democracias populares da Europa ou com Cuba.
Não admira, assim, que os povos dos países que foram iluminados pelo «sol da Terra» do comunismo não escolham, eleitoralmente, os partidos comunistas como redenção. E que os países do ex-comunismo se estejam a desenvolver na base do modelo... capitalista!

Mesmo com os discursos de Jerónimo e o braço armado do PCP (a CGTP transformada em máquina profissional de promoção de manif's políticas) a agitar as consciências - e em plena crise! - os portugueses votam muito minoritariamente nos sóis da Terra lusitanos. A até no auge dos tempos revolucionários pós 25 de Abril, o PCP e suas adjacências não conseguiram sequer chegara os 20 por cento, tal como agora se fixaram nos 10%. É que os povos têm memória histórica e não se deixam enganar, na Europa de leste ou aqui. Eles sabem que os comunismos fracassaram, que não criaram riqueza e que amordaçaram as sociedades e os cidadãos. E que viver nas «democracias populares» foi, durante décadas, viver sempre em austeridade máxima e com direitos mínimos.