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BandaLarga

as autoestradas da informação

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É isto o que a autoproclamada esquerda defende

João César das Neves : Ao lado deste sucesso, paralelo a grandes feitos antigos, surge também o velho fantasma corporativo, que tantas vezes bloqueou o País. Os portugueses, mesmo em terrível emergência, insistem em defender interesses e privilégios através de entranhados mecanismos sociais e políticos. Direitos adquiridos, favores, "cunhas", redes de influência têm enorme poder, e estão em plena acção nestes anos a dois níveis, um mais visível do que outro.

O primeiro é o protesto, reivindicação e bloqueio legislativo e judicial às medidas de ajustamento. Apesar das evidentes dificuldades nacionais, alguns grupos acham-se com direito a manter benesses que a sociedade evidentemente não consegue pagar. Pior, estes são os grupos mais próximos do Estado - funcionários, médicos, professores, pensionistas, autarquias -, precisamente os mais favorecidos nos anos de fartura. Fingindo-se desvalidos, abusam dos impostos dos pobres. As forças políticas vão à boleia do embuste, capitalizando no descontentamento e contribuindo para a desigualdade nacional. Desempregados, empresas falidas, imigrantes, contribuintes, que realmente são os mais afectados pela crise, acabam sempre sacrificados e usados como figura de retórica para preservar benesses de outros.

O segundo nível, talvez mais grave, é o das empresas e poderes económicos próximos do Estado, que têm distorcido o ajustamento a seu favor. Se as pequenas e médias ajustaram rápido, como vimos, muitas grandes empresas conseguem proteger-se graças a relações políticas. Através de rendas, apoios e influências, os bancos, construtoras, comunicações, energia, outros serviços básicos e alguns grupos económicos mantêm artificialmente negócios e investimentos insustentáveis. O capitalismo de compadres tem muito poder num país corporativo.