É, claro, que desta não falam mas já a solidariedade chinesa é digna de grandes títulos. Porque será ?
O hospital e unidades de saúde em Bérgamo, no norte de Itália, continuam a funcionar muito acima daquilo que — até ao início da pandemia no país — era habitual. Agora, é a Alemanha que estende uma mão para ajudar a região italiana mais afetada com a Covid-19. Esta manhã um avião da Força Aérea alemã partiu em direção à Lombardia para ir buscar seis doentes que estão a receber cuidados intensivos.
Tês condições que estão todas nas mãos da União Europeia. E Portugal, Espanha, Itália e Grécia precisam delas porque como sempre não fizeram as reformas que é preciso fazer.
Os países do Sul da Europa - Portugal incluído - estavam já entre os mais frágeis antes do vírus, devido à sua estrutura produtiva e à sua elevada dívida externa. Agora junta-se a queda abrupta do sector do turismo de que tanto dependem (e que não será momentânea) e uma dívida pública ainda maior.
Seriam necessárias três condições para evitar o colapso das economias mais frágeis: uma resposta rápida das autoridades; um volume de apoios públicos suficientemente elevado para proteger o emprego e a actividade económica; e a garantia de que, passado o período de emergência, as economias em causa teriam condições para pagar as dívidas entretanto contraídas e para respeitar os compromissos internacionais, sem dificuldades de maior.
A cada dia que passa há centenas de empresários em Portugal que optam por declarar falência ou reduzir de forma drástica a sua capacidade produtiva. Milhares de trabalhadores ficam sem emprego e/ou vêem os seus rendimentos cair de forma abrupta. A urgência de uma intervenção rápida e decisiva é evidente.
Mas o problema da UE no atual contexto não é apenas a lentidão das decisões. Nem sequer as mensagens equívocas das lideranças. A questão central é a incapacidade das instituições e das regras europeias em impedir que o aumento das dívidas públicas devido ao covid-19 se torne um problema colossal no futuro próximo para as economias mais frágeis.
Não simpatizo particularmente com clivagens entre público e privado. Conforme estamos a testemunhar agora, há no público fantásticos profissionais de saúde a darem tudo de si.
Mas também não gosto de quem diaboliza a livre iniciativa (sector privado, ou seja, modelo capitalista). É a indústria farmacêutica privada que nos tem trazido nos últimos anos uma série de medicamentos com resultados fantásticos.
É uma indústria de capital intensivo que paga bem aos seus colaboradores. Andava a correr nas redes sociais um post, que não sei se é fake, em que uma investigadora espanhola dizia que, ao contrário de um Messi ou Ronaldo, só ganhava 1.800€. Trabalharia talvez num obscuro instituto público. A indústria farmacêutica para atrair e reter os melhores paga bem. Um investigador ganha à volta de 120.000 USD/ano. Cada medicamento que a Johnson & Johnson desenvolve representa um investimento de 5885 milhões de dólares. Cada medicamento que a AstraZeneca coloca no mercado tem um custo de desenvolvimento de 11 790 milhões de dólares. Para quem não está habituado a grandes números direi que custa quase tanto à AstraZeneca desenvolver um medicamento como o valor (capitalização bolsista) da mais valiosa empresa portuguesa (EDP). Um medicamento da AstraZeneca “vale mais” que uma Galp inteira.
Com uma elevadíssima dívida Portugal tem que encontrar forma de se financiar a custos suportáveis. Os "coronabonds" são por isso muito desejados mas exigem condições.
A primeira questão é porque é que os “Coronabonds” são tão desejados? Os mais distraídos poderão não ter ainda percebido, mas Portugal está em risco de ter uma segunda bancarrota em dez anos e a quarta desde que a Democracia no nosso país foi confirmada em 25 de Novembro de 1975.
A razão por que o nosso pacote fiscal de ajuda às famílias e às empresas foi, e bem, acrescento eu, muito menor do que os anunciados em outros países desenvolvidos é apenas esta: Portugal continua excessivamente endividado e não é apenas o estado mas também o país como um todo tem uma grande dívida face ao exterior.
A crise económica e as ajudas financeiras que estão a ser anunciadas para lhe responder vão provocar um aumento muito grande do défice orçamental e da dívida pública, e o risco de o estado português não conseguir que lhe emprestem dinheiro está a tornar-se cada vez maior. Se ninguém lhe emprestar dinheiro, o estado não consegue cumprir as responsabilidades que assumiu e vai de imediato à falência, como aconteceu em 2011. É como se em nossas casas estivéssemos com uma grande dívida para pagar e ainda pedíssemos mais dinheiro para gastar. A certa altura, o banco diz-nos que não e entramos em insolvência.
E o que resta depois do banco negar? Os amigos. É o que os "coronabonds" representam. Sem nenhuma vantagem para quem empresta.
Portugal não está preparado para enfrentar a actual crise que vai piorar a curto prazo. Mais uma vez fomos apanhados com as calças na mão. Vejam o que diz o Relatório da Ordem dos Economistas.
Relativamente às metas orçamentais, é impreterível afirmar que pouco do que consta no Orçamento do Estado de 2020 fará sentido à luz dos acontecimentos atuais. De acordo com os cenários que traçámos, a maioria dos membros (75%) elegeu a opção em que Portugal não seria capaz de cumprir qualquer meta orçamental, devido ao risco de uma crise mundial que levará a derrapagens no défice, ao aumento do custo de financiamento da dívida e a um crescimento bastante abaixo do esperado.
O turismo foi destacadamente o setor designado como o que sofrerá o impacto mais negativo nesta crise. A crescente dependência de Portugal desde setor, que representa 13,7% do PIB, significa uma perda avultada de contribuições, que se deverá prolongar por alguns meses após o controlo desta pandemia.
Em seguida, a preocupação recai sobre o impacto nas exportações, sobre o impacto do aumento dos gastos em despesas de saúde (embora necessário), o efeito de contração da procura interna e, por fim, eventuais falhas nas cadeias de produção.
Numa avaliação do risco associado aos principais indicadores económicos - e ainda que exista uma interdependência entre todos eles - o desemprego foi o que reuniu as avaliações de risco mais elevado. Segue-se o crescimento, o aumento da dívida e do custo de financiamento, o défice e, por último, o investimento.
O país está completamente exposto sem margens e sem almofadas que aliviem o choque. Só a União Europeia nos pode salvar.
Afinal quem está com as pernas a tremer somos nós.
Nesta crise ninguém tem culpas ( talvez os chineses tenham alguma), é um inimigo externo e a União Europeia tem que reunir fileiras. Todos os países sofrerão embora uns mais que outros. Os fracos, os que não fazem o que a boa governação manda fazer serão os que sofrerão mais. Como é habitual nós somos dos impreparados.
Durante quatro anos António Costa andou a aumentar impostos indirectos para aumentar rendimentos (poucochinho) não cuidando de enfrentar os problemas do país que persistem há décadas. Mais do que governar tratou de ganhar tempo mas, como diz a regra da gestão " se alguma coisa pode correr mal, corre mesmo, mais tarde ou mais cedo". E Costa foi apanhado com as calças na mão.
Um parceiro que não reduz a dívida e não acelera o crescimento económico não é flor que se cheire . E as contas externas estão cada vez mais deficitárias o que quer dizer que importamos mais do que exportamos. Foi sempre por aqui que começaram os afundanços .
Quem nos empresta dinheiro não é tolo, sabe bem que se não controlar a disciplina financeira dos países do sul voltamos para as contas desequilibradas. Várias outras vozes criticaram a falta de medidas europeias mais eficazes, entre as quais a do ex-presidente da Comissão Europeia Jacques Delors, considerado um dos "pais" da UE, atualmente com 94 anos e há muito retirado da vida política.
"O clima que parece reinar entre os chefes de Estado e de Governo e a falta de solidariedade europeia representam um perigo mortal para a União Europeia", disse o ex-ministro da Economia francês, que presidiu à Comissão Europeia entre 1985 e 1995, numa rara declaração pública divulgada pelo instituto que fundou com o seu nome.
E com as contas desequilibradas a quem é que os Holandeses venderão tulipas ?
Lido por aqui - não sei se é mesmo a opinião de um economista chinês, mas traduz bem a realidade actual e o caminho que há anos vejo estar a ser trilhado (há anos que o digo, apenas com a nuance de que acrescento que será cíclico, como as marés):
Opinião de um professor chinês de economia, sobre a Europa:
1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros. Mas, ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar. Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos ...
2. Os industriais Europeus deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada.
3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.
4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo. Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.
5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.
6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores.
7. Portanto, o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação. A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do... da China!
8. Dentro de uma ou duas gerações, 'nós' (chineses) iremos ultrapassá-los. Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacos de arroz...
9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado...
10. (Os europeus) vão-se desintegrar diretos a um muro e a alta velocidade...
Como parece óbvio de uma forma ou outra a mutualização da dívida vem a caminho. Mas o que tem também de vir a caminho são as condicionantes. Quais são as políticas ? Como é que os credores partilham as decisões ? A ideia de que a solidariedade é a essência da Europa faz todo o sentido para quem dela beneficia, mas, sem surpresa, vende pior nos eleitorados que a financiem. E o ressentimento, ou a acusação de que os ricos o são porque exploram os pobres do Sul, não é provável que aproxime. Terá de haver mais do que isso, para ser um argumento europeu.
Qualquer economista reconhece que as diferentes circunstâncias orçamentais têm consequências na capacidade de cada país responder a esta crise. E há explicações para essas diferenças, evidentemente. Mas a dimensão avassaladora do que aí vem vai muito além do que as contas públicas de cada um podem aguentar. Acresce que cada um dos países europeus isoladamente não consegue repor a sua situação económica, nem a sua relevância global, isoladamente. A miséria de uns será a ruína de todos.
E Portugal ao fim destes quatro anos de vitórias sucessivas está como sempre esteve. Mal preparado e à mercê da ajuda de quem em bom tempo se preparou.
Costa não resolveu nenhum dos grandes problemas com que o país se debate. A dívida enorme, o débil crescimento da economia, os 2 milhões de pobres que persistem e os salários de miséria de quem trabalha.
Sabemos nós, sabem os espanhóis, os italianos e os gregos ? É que ninguém promoverá a mutualização da dívida ( 8% do orçamento da UE = milhão de milhões) sem que primeiro se saiba em que modelo de desenvolvimento vamos apostar. O actual já mostrou que não serve. Não paga a dívida, não tira os 2 milhões de pobres da miséria e paga salários baixíssimos.
Os economistas como eu não são muito bons a fazer previsões de decisões políticas. O que eu, como economista, gostava de ver era uma solução em que emitíssemos dívida de forma conjunta, partilhando deste modo o risco da taxa de juro e o risco de incumprimento (default). A dívida emitida seria de muito longo prazo e assim que chegasse ao seu fim, seria emitida outra vez. O capital não era amortizado, apenas se pagariam juros. Era o que gostava de ver.
É fundamental pensar-se em algo desse género. E também aqui teria de ser financiado conjuntamente, talvez usando uma parte ou reforçando a emissão de dívida de um bilião de que falava. Depois seria preciso um debate alargado na sociedade sobre como gastar esse dinheiro e sobre que tipo de recuperação é que queremos ter. Queremos nessa segunda fase apoiar uma recuperação generalizada da economia ou queremos dar apoios mais direccionados, em que se apoiam determinados sectores? Por exemplo, pode-se querer atingir determinados objectivos verdes, objectivos de igualdade ou objectivos digitais. Para mim, estes devem ser elementos importantes numa recuperação e devem ser alvo de uma discussão na sociedade. Por exemplo, se se apostar no investimento em infra-estruturas de transporte, vão-se apoiar todos os tipos de transporte, ou apoiam-se unicamente as linhas ferroviárias e não se apoiam as auto-estradas e os aeroportos? É uma decisão política, mas eu como cidadão, gostaria que a recuperação fosse verde e digital.