A dívida a descer para cima
Pensamento do dia: "Descer....para cima".
De acordo com a dupla Costa & Centeno, a dívida pública diminuiu 2,4 mil milhões de euros, em resultado de terem pago mais uma tranche da dívida ao FMI.
Até aqui, tudo bem. Mas o problema é que também só ficaram por aqui, e nada mais falaram sobre o restante.
A saber:
Esta redução de 2,4 mil milhões é só face ao valor do mês anterior, ou seja, são variações pontuais que existem obrigatoriamente em função das datas de vencimento das tranches de dívida antiga. São movimentos e oscilações normais ao longo de um ano. Assim sendo, mandam as regras, que o que se deve medir, é a variação da dívida que um país tem no início de cada ano (transitada do final do ano anterior) e o seu valor no final desse mesmo ano.
Ora neste caso, Portugal, chegou ao final de 2017, com uma dívida muito maior, que a que tinha acumulado no final de 2016. Logo, em correcto rigor, ao fim de mais um ano de governação, o país aumentou ainda mais a sua dívida, contrariando a tese de que a tem estado a conseguir fazer diminuir.
As diminuições registadas, são meramente pontuais, e têm sempre sido antecedidas ou sucedidas, por novos aumentos de dívida, e sempre de montante superior, aos montantes dos pagamentos que foram realizando. E irá continuar a ser assim, até que exista um deficit anual nos gastos públicos.
Em termos líquidos, face ao valor no início do ano de 2017, e o registado no final desse mesmo ano, a dívida aumentou mais de 4 mil milhões de euros.
A dívida pública líquida de depósitos das administrações públicas ficou em 222,2 mil milhões de euros em novembro, menos 620 milhões de euros em relação a outubro, mas mais 3,5 mil milhões de euros face a novembro de 2016. Ou seja, não desceu, mas sim aumentou o que devemos a outros.
E como se não bastasse, os activos em depósitos das administrações públicas diminuíram 1,8 mil milhões de euros. Ou seja, as reservas de caixa que o Estado tinha, são hoje muito menores que no final de 2016. Para explicar um pouco de forma mais simples, estes valores de caixa são as tais famosas "almofadas" que o anterior governo tinha deixado nos cofres públicos. Eram no tempo de Passos Coelho, perto de 20 mil milhões de euros, e no final de 2017, já nem 8 mil milhões lá existiam na caixa.
Mas então, sendo assim, como é que os pagamentos ao FMI não baixam em termos líquidos a nossa dívida? É simples a explicação: é que os pagamentos que o governo tem andado a fazer ao FMI, andam a ser feitos com recurso a dinheiro que andam a pedir emprestado a outros credores. Na prática, andamos a pagar a uns, com dinheiro pedido emprestado a outros. Por isso as variações mensais, de descida e subida, mas no final de cada ano, a dívida está sempre maior, e não menor, como nos andam a tentar impingir.
Mas então se andamos a pedir a uns, para pagar a outros, não devia o montante total da dívida no mínimo manter-se o mesmo no final de cada ano? Em termos simplistas deveria ser assim, mas não é o nosso caso.
É que aos valores dessa dívida, temos que também pagar aos credores os valores dos juros entretanto devidos. Ou seja, para pagar ao FMI, fomos pedir emprestado a outros credores, mas tiveram que pedir emprestado um montante superior à dívida inicial do FMI, para que pudessem pagar o montante do empréstimo, acrescidos dos valores dos juros. Logo, andar a pagar a outros, com dinheiro emprestado por outros, irá sempre fazer a dívida acumulada subir, pois quer FMI quer quem empresta para pudermos pagar, naturalmente estão a cobrar sempre juros desse dinheiro. E por isso, ao final de cada ano, o valor da dívida, irá ser sempre maior e não menor. Acresce a esse valor dos juros, também o valor da nova dívida gerada pelos deficits anuais nas contas públicas.
Em resumo, o actual governo, quando pagar 1 euro a um credor, faz notícia disso, mas não explica ao seu povo, que para pagar esse 1 euro, foi pedir emprestado a um outro credor, 1,25 euros, e entretanto fez uma nova dívida de mais 0,25 euros, e no final, em termos reais, chegámos ao final de mais um ano de governação, com uma dívida pública maior e não menor.
Há quem chame a isto "descer para cima". Mas o mais correcto seria chamar de "EMBUSTE". ou de "engana tolos".
Posso desde já avançar com uma previsão: independentemente de todos os pagamentos de dívida pública, e todas as variações nos saldos, que acontecerem ao longo de 2018, e fale o governo o que falar, ou prometa seja lá o que for, garanto-vos com 100% de certeza, que no final do ano de 2018, início de 2019, a nossa dívida pública, líquida, acumulada, irá ser maior que a que temos no final de 2017. Tudo o que vos digam diferente disto, é nada mais que conversa de treta.
Um bom ano para todos os meus amigos, reais e virtuais.