O governo Grego vai voltar a colocar nas mãos do povo a decisão quanto ao acordo do país com os seus credores. E fá-lo sabendo que 84% da população quer manter-se na Zona Euro e na União Europeia. Claro que o governo vai fazer campanha pelo não . Mas hoje, governo e povo sabem com o que podem contar.
O governo prometeu muito como se as coisas estivessem apenas nas suas mãos. Não estavam e assim aprendeu que a sua legitimidade é igual à legitimidade de todos os outros governos. Todos foram eleitos em eleições livres e democráticas. Todos têm que responder perante os seus povos.
O referendo é um instrumento democrático de auscultação da vontade popular em relação a uma determinada matéria de interesse público e que possa determinar o horizonte de várias gerações. É o caso na Grécia. O que está em jogo é muito mais que os montantes em euros que são uma gota de água no imenso oceano de problemas com que há muito os Gregos se debatem. Trata-se de saber se a Grécia vai permanecer num espaço democrático ou se vai percorrer outros caminhos.
Olhem a espiral recessiva : "O nosso cenário contempla que esta estabilidade no ritmo de expansão se prolongue no que resta do ano, o que resultaria num crescimento médio anual de cerca de 2% no conjunto do ano", adianta a mesma fonte,
O BBVA salienta ainda a "continua a redução do desemprego baseado no aumento de emprego". E, quanto às contas públicas, até Abril, a casa de investimento diz que estão "em linha com o objectivo orçamental."
Até quando fecharão os olhos à realidade ? Nem mesmo com o que está a acontecer na Grécia ?
Até há uns anos o mais perigoso que acontecia a um turista era viajar para as Bahamas para apanhar sol - o que`é um disparate completo- e não conseguir sair do hotel porque no dia da chegada era anunciado um tufão. Era ver os turistas portugueses com grandes chapéus de abas largas a chegarem ao aeroporto fugindo do paraíso que as agências de viagens lhes vendiam "em pacote". O ridículo pode matar mas morre-se com menos frequência.
Agora temos os turistas a morrer no Algarve porque os motoristas dos autocarros andam a dormir em pé.
Mas escolher países onde a violência é diária e as guerras religiosas escolhem vítimas é que é mais difícil de perceber. Estar deitado numa praia a apanhar sol e estar sempre à espera que um tresloucado apareça com uma espingarda automática que mata sem piedade, é coisa que não compreendo.
Bem sei que neste mundo perigoso ninguém pode dizer que está bem mas nas areias brancas da nossa costa, por enquanto, não há evidência nem de terroristas nem de tubarões. E mesmo os tubarões que raramente aparecem são "frades".
O comportamento do IVA e do IRS até Maio aponta para a devolução de 40% da receita aos contribuintes. Esta devolução, a ter lugar, será feita em 2016 . E aqui é que me parece que há algo que não bate certo.
Entre devolver imediatamente ( Em Setembro, por exemplo) ainda antes das eleições e assim meter mais dinheiro nos bolsos dos contribuintes ( o que António Costa quer fazer mas ainda não sabe como) ou deixar deslizar um pouco o deficit, o governo prefere deixar os contribuintes sem dinheiro.
É bem verdade que as previsões para o crescimento do PIB,( 1,8% em 2015 e 2% em 2016) deixam uma maior margem de segurança em 2016, mas também é verdade que o governo será outro. Corre por aí que o actual governo vai disponibilizar uma aplicação informática para os contribuintes testarem quanto vão receber, uma espécie de "indicador adiantado", mas sem dinheiro vivo não sei se a medida será eficaz.
É que os tais 40% correspondem acerca de 300 milhões . Ou será que com este travão temporário o governo tem metade do buraco da Segurança Social resolvido ?
Cá por mim acho que não é bem assim. O estado, se bem organizado, orientado para o contribuinte e eficaz é, também ele, um factor de crescimento económico. Mas o exemplo de Portugal não nos afasta muito de "1/3 dos trabalhadores produzem os restantes 2/3 consomem". Há quem não queira perceber isto e até coloca a equação ao contrário. Mas a despesa pública é mesmo isso. Despesa.
Portugal é uma economia assimétrica, "onde 1/3 [dos cidadãos] são produtivos e competitivos e 2/3 ficam à espera que lhes ofereçam serviços sem custos para o utilizador", o que é inviável. Mais: o Estado Social, como está configurado, não só sorve recursos públicos, como é ele próprio um factor de agravamento das desigualdades, porque "o que é preciso extrair ao terço que produz destrói o crescimento, já que este tem de ser todo distribuído para os 2/3 que não produzem e que dependem da assistência distributiva". "As políticas públicas não são todas despesistas, e não podem ser apenas analisadas do ponto de vista do custo directo que têm, porque elas têm uma lógica e uma razão de ser" e podem ser um factor de crescimento económico.
Uma das formas de solução é encolher o sector público e aumentar o sector privado mas, para isso, é preciso ultrapassar clivagens ideológicas que têm impedido que discussões fundamentais se façam, como é o caso da ampliação da concessão de funções públicas ao sector privado da economia.
Nós andamos nesta discussão há 40 anos com os resultados conhecidos. Somos os mais pobres e os mais desiguais na Europa.
Em Portugal as exportações, no inicio da crise, representavam 24% do PIB e agora representam 40%. Como as exportações são o resultado de uma economia que assenta o seu funcionamento na capacidade produtiva de bens e serviços transaccionáveis, percebe-se bem que o medicamento que está a recuperar o nosso país não pode ser o mesmo para a Grécia que exporta apenas 5%.
Para além da falta de capacidade produtiva - com excepção do turismo - a Grécia nem sequer tem países vizinhos com as mesmas fronteiras que facilitem o intercâmbio comercial e os que tem são fracos compradores. Nós aqui ao lado temos uma Espanha rica com 40 milhões de consumidores e logo a seguir a França, a Alemanha...
É isto que nós estamos a ver no drama Grego. O governo quer aumentar os impostos às empresas e aumentar o IVA assim dificultando o crescimento da economia e, ao mesmo tempo, quer manter a despesa do estado. Ora, sem criação de riqueza não há estado social e se o acordo fosse firmado nos pressupostos do governo Grego daqui a algum tempo o país estaria onde está agora . Onde, aliás, a Grécia está há muito tempo apesar dos comboios de ajudas .
Já se tentou tudo : perdão de dívida, reestruturação da dívida, empréstimos no primeiro e segundo resgate, ajudas directas do BCE aos bancos gregos...
O problema é que na Grécia não há pão e por isso todos ralham e ninguém tem razão.
Portugal registou um excedente face ao exterior de 3,5 mil milhões. "A economia portuguesa registou uma capacidade de financiamento de 2,0% do PIB no ano terminado no primeiro trimestre de 2015, mais 0,1 pontos percentuais (p.p.) que no trimestre anterior. Este comportamento reflectiu o ligeiro aumento da poupança corrente da economia, correspondente a um crescimento do rendimento disponível bruto da nação marginalmente superior ao da respectiva despesa de consumo final",
Francisco Assis foi o primeiro a sinalizar que não está com Sampaio da Nóvoa. Está aberta a porta para que o PS se parta em dois. Porque Francisco Assis não é um político qualquer e nunca avançaria com esta opinião se estivesse sozinho dentro do PS. É um político de mão cheia e já concorreu, vencido, ao cargo de secretário - Geral do partido.
Posiciona-se para concorrer ao lugar de António Costa em caso de derrota deste nas legislativas que Francisco Assis, com a actual posição, dá como provável.
Francisco Assis não vê no Syriza o "caminho" como se apressou Costa a declarar e que o obrigou a recuar quando as coisas se tornaram muito difíceis. No centro esquerda é o líder natural de quem procura soluções à sua direita, na social democracia de uma parte do PSD. Tem um currículo político invejável e a ambição de liderar um PS voltado para a solução dos problemas no quadro da União Europeia e do Tratado Orçamental.
Com o que se passa na Grécia está aberta a sucessão no maior partido da oposição.
93% das medidas do acordo helénico são impostos e contribuições. Tudo aplaudido pelos que cá dentro diziam que o Syrizas era corajoso e patriótico. É verdade que Deus não manda vencer manda lutar, mas o povo grego está fartinho de lutar e não ganha nada com isso.
A Grécia perdeu e não foi pouco nestes três meses de braço de ferro. No inicio estava bem melhor do que está no fim. Tinha uma economia a crescer e saldos primários positivos. O desemprego está em 26% mais do dobro que em Portugal. É difícil descortinar neste cenário uma vitória.
Espero que lá mais para a frente a Grécia beneficie de medidas que por enquanto estão na reserva dos deuses. E que essas medidas abram a porta para uma maior integração europeia. A não ser assim a União Europeia pode implodir formando grupos com países de proximidade geográfica : os países nórdicos, os países bálticos, os países do centro, os países a Leste e os países do sul. As grandes diferenças de poder económico intra grupos desaparecia e tornava mais fácil controlar as diferenças inter grupos .
O problema, e que problema, é que os perigos estratégicos para a Europa estão nos balcãs e no Sul da Europa, os países mais frágeis. Com Putin a aplaudir, a NATO, liderada pelos americanos, voltaria em força para o velho continente. Aliás, já está a reforçar a frente Leste para defender a Ucrania.
O sonho de uma Europa com 600 milhões de consumidores, um território próspero e em paz, esfumar-se-ia. Perdida a capacidade de ombrear com países que, pela sua dimensão, são autênticos continentes, a Europa rapidamente perderia a liderança social, politica e tecnológica que a tem mantido como o refugio e o sonho de todos os deserdados.