Provocar eleições antecipadas é o que se discute no PS. Os seguidores de Costa, ante a calma de Seguro, dizem que este se dedica a "manobras dilatórias". Os seguidores de Seguro perguntam. Qual é a pressa ? E o tempo corre a favor de Cavaco Silva e do governo. Pressa? As gatas apressadas têm filhos cegos. Enquanto o PS se degladia e sem secretário geral ninguém pode colocar a questão das eleições antecipadas de forma séria. E quanto mais se chega a 2015 menos razões há para a antecipação das eleições que estão fixadas para Outubro.
Entretanto Passos Coelho dramatiza o buraco constitucional de 500 milhões de euros ( parece que já fizeram as contas) e prepara-se para dar mais uma garantia aos mercados e às instituições europeias. O ajuste é para continuar, mais suave para não emaranhar a economia e para dar tempo a que se consolide cá dentro e lá fora.
Eleições antecipadas para o PS são um um problema interno . Para o PCP são uma tentativa de parar as privatizações especialmente as dos transportes públicos das grandes cidades ( lá se vão as greves) Para o BE porque sim. Ninguém está interessado no interesse do país. É uma luta pelo poder.
Uma minha conhecida de longa data, farmacêutica, vivia à grande à francesa. Os dois filhos transportavam-se em carros de luxo, tal como o marido que se embebedava diariamente e ela própria que se desdobrava em esquemas. Herdades no Alentejo, casa de campo, viagens à volta do mundo, apartamentos de luxo . Eu dizia a amigos comuns que não podia ser pese ela ser proprietária de duas farmácias.
Um dia, há sempre um dia, bateram-lhe à porta os fornecedores e os credores. Começou a vender o que podia antes que lhe caíssem em cima as penhoras. Vendeu a pataco o que tinha comprado a crédito e de um momento para o outro foi viver para Moçambique onde abriu uma pequena farmácia. Diz ao primo que antes, quando viva a crédito, vivia muito melhor.
É isto o que nos lembra hoje Mira Amaral no Expresso. Há três anos viviamos todos muito melhor a crédito sem termos que pagar nada. Chegou a factura, o nível de vida teria que baixar fosse qual fosse o caminho seguido.
Sócrates apoia António Costa. Limpinho, limpinho. Não é preciso ser bruxo. Seguro foi sempre considerado o usurpador de um lugar que pertence a Sócrates ou a quem ele indicar. Com toda a ternura, João Soares diz que o pai escreveu um disparate ao apoiar Costa. Seguro é corrido depois de ganhar duas eleições. Por pouco mas ganhou. Á tralha socrática só lhe falta o sótão de Guterres.
Os peões de Sócrates afastaram Seguro. Já se fala numa vaga de fundo a favor de António Costa. Com Costa a disputar o partido e as legislativas, ganhe ou perca, fica afastado da corrida presidencial. Se as sondagens forem favoráveis Sócrates entra na corrida. A primeira parte da estratégia está montada.
Em 2015 não haverá maioria absoluta. Passos Coelho pode sempre coligar-se à sua direita com Portas e à sua esquerda com o MPT de Marinho Pinto. Costa pode fazer o mesmo.( não esquecer que o PS e o PSD nas sondagens para as legislativas estão ambos próximos dos 30% e separados por 0,4%. Qualquer um deles poderá chegar à maioria absoluta coligado com o CDS e o MPT)) Costa também poderá tentar trazer o PCP para a sua órbita. Claro que o PCP não vai deixar de ser contra o Euro e contra a União Europeia mas poderá negociar. Por exemplo, colocar o açaimo na CGPT a troco de manter a TAP, as Águas de Portugal e a Caixa Geral de Depósitos na órbita do estado. E do reforço estatal do Serviço Nacional de Saúde e da Educação. E, quiçá, impedir ou interromper as concessões a privados dos transportes públicos. É por causa das privatizações que a exigência das eleições antecipadas é comum aos partidos à esquerda.
Mas o ano e meio que temos pela frente é muito dificil para a oposição. Porque é verdade que as razões do sucesso do nosso país estão nos países nossos parceiros na economia. Com excepção da França estão todos a crescer acima das expectativas. O que arrasta a economia Portuguesa, seja pelas exportações, pela emigração e pelo investimento.
Neste momento o que se discute no PS é saber quem vai a jogo a dar cartas. Passos Coelho ou António Costa?
Com o PS em sarilhos e a troika fora não será Cavaco a dar a hipótese a Seguro de disputar eleições antecipadas. Seguramente. O governo irá acomodar o prejuízo de 1 700 milhões de euros com os 900 milhões que tem reservados e subirá o IVA que em seis meses dará 600 milhões. Haverá assim uma injeção de cerca de mil milhões líquidos na economia o que alavancará a procura interna. E vai acelerar o investimento com os subsídios que estão disponíveis a partir do inicio do segundo semestre. O desemprego vai descer e trará poupanças ao nível do estado. O governo agora com tempo pode lançar mãos às reformas estruturais no próximo ano.
PS : não me tratem mal. Afinal o que deixo aqui escrito é o programa de governo do PS.
O mais que provável chumbo de algumas normas pelo Tribunal Constitucional não constituirá um sério revés para o governo. Para além da almofada existente e que poderá usar, de cerca de 900 milhões de euros, o governo tomará medidas e terá que contar com contestação a curto prazo . Mas não mais do que isso. Mantendo-se a situação actual de estabilidade, crescimento da economia, baixa do desemprego e guerra fraticida no PS os partidos do governo podem ganhar as eleições legislativas. Quem o diz sem meias palavras é Teixeira dos Santos
Contrariamente à ideia geral e muito principalmente à dos Juízes do Tribunal Constitucional, foi o sector privado que mais sofreu com a austeridade. Não foi o sector público. Existe entre os juízes do TC a convicção, vertida em diferentes acórdãos, de que a austeridade tem prejudicado especialmente os funcionários públicos, e que os cortes nos seus salários são injustos e desproporcionados. Estou certo que vão voltar a afirmá-lo no acórdão que está para sair. Por isso talvez lhes fizesse bem acrescentarem à sua biblioteca o relatório do FMI relativo à 11º avaliação, onde vem um gráfico muito curioso e elucidativo. É este:
A cisão anunciada por Mário Soares empurrou Seguro para a actual situação. Coligação à esquerda o PCP e o BE não querem. À direita metade do partido sai. Mas há outra hipótese que Soares lembrou. Um governo de independentes de iniciativa presidencial, sem partidos. Era notória a cautela de dirigentes socialistas, mesmo os mais distantes de Seguro, em não antagonizar o secretário-geral. Mesmo entre estes, havia quem não olhasse para a eventualidade do acordo como uma catástrofe. "Depende dos termos", assumia um dirigente socialista mais próximo de António Costa. Um ano depois o PS ainda anda a discutir os termos.
Cinco anos depois um livro sobre Jardim Gonçalves em grande parte contado pelo próprio. O governo de Sócrates já controlava a Caixa Geral de Depósitos. Faltava o maior banco privado . Temos a Caixa, passamos a controlar o principal banco privado, influenciamos o BES pela ambição de Ricardo Salgado. Financiamos as empresas e os interesses que desejamos, a própria República poderá implementar uma política de juros ambiciosa e endividar-se com mais facilidade. Por motivos diferentes, tanto Jardim Gonçalves como Paulo Teixeira Pinto eram um embaraço."Foi só necessário substitui-los por Armando Vara e Santos Ferreira.