… hoje seriam 105 anos… mas a Tencha faleceu em 1909 enquanto falava com a sua filha em casa, morreu como viveu: a dar lições a Senadora Isabel Allende Bussi… não há festa…
COMEMORAÇÃO 100 ANOS NASCIMENTO DE SALVADOR ALLENDE
http://www.youtube.com/watch?v=NYJjYkKAYOE
A conheci como Primeira-dama da República do Chile. Sempre bem penteada, bem vestido, magra, sorridente, amável e serena. Falava de forma cadenciada, com o seu sorriso sempre alegre, sem gargalhadas: uma Senhora. O seu marido, que era um pituco (betinho em Português Europeu), adorava vê-la bem vestida, perfumada, mas sem pintura: devia ser o exemplo da mulher do povo chileno, que tinha sérios limites para comprar indumentária como Dona Tencha. Era, porém, parca na sua vestidura, mas elegante para o seu marido.
Tinha nascido em Rancagua, cidade situada no centro sul do Chile, a 22 de Julho de, 1914 e falecido em Santiago a 18 de Junho de 2009, uma Quinta-feira (Jueves en Castelhano) seis anos após a comemoração do centenário do seu marido. Foi a última vez que assistira a uma comemoração pública. Um ano depois, falecera aos seus 94 anos, um ano a seguir a festa dos cem anos do seu marido, o Presidente Constitucional do Chile.
Coube-me o prazer da receber em Cambridge, por ser o chileno mais antigo n Grã-Bretanha, ter boas relações com o Primeiro-ministro Billy Callagham, quem a tratara como a toda Primeira-dama, um apoiante de Allende, da sua família, e do povo chileno. Com ele, entramos mais do que trezentos chilenos a morar nas ilhas, com trabalho e bolsas para estudos, outorgadas pela instituição do World University Service.
Em Cambridge ficara em casa do amigo de Allende, o seu Embaixador César Bunster e a sua mulher Raquel Parot.
Foi ai que reparei que o estipêndio concedido pelo Presidente do México, tinha acabado junto com a sua presidência. O sucessor de Echeverria era de outra ideologia. Começamos a juntar moeda para a sustentar e, na nossa Universidade, reparei que, de forma digna, tentava ocultar os buracos das mexias, manter a sua única indumentária limpa e elegante. Falei com as minhas amigas Mónica Echeverria Yáñes de Castilho, a mulher do meu antigo Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Chile, aos que asilara e conseguira trabalho como Catedrático na nossa britânica Universidade de Cambridge. Raquel Parot não precisava, estava asilada já na ruiva albeão, como mulher do Embaixador exilado pela ditadura chilena.
Em silêncio e discrição, elas e a minha mulher, compraram a vestimenta apropriada e nunca contaram a ninguém. A Tencha ficou vestida como correspondia a sua hierarquia de Primeira-dama, não apenas para Cambridge, bem como para muitos anos da sua vida.
Era assim querida a Tencha, os dinheiros oferecidos eram por poucas pessoas e em segredo. Coube a Senadora Isabel Allende Bussi, manter a família, em conjunto com a filha adotada, a sobrinha escritora, Isabel Allende Llona.
A seguir esses dias, eu nunca mais fui capaz de vê-la. Ela não saía de casa com os seus de 94 anos (Rancagua,22 de julio de 1914[3]— Santiago, 18 de junio de 2009). A vi no meu coração, onde guardo o carinho que sempre tive por ela. Guardo um carinho especial por tão valente e convicta mulher.
11 de Setembro de 2011-reescrito e revisto a
1 de Setembro de 2013.
Raul Iturra
lautaro@netcabo.pt
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